sábado, 9 de maio de 2009

Histórias Possíveis

Na edição 41 do "Histórias Possíveis"
figura o conto de minha autoria: "Sobre uma concepção".

Partilho com vocês a alegria desta publicação,
para mim, de singular siginifcado.
Há outros trabalhos também de exímios escritores.
Para leitura basta clicar no título desta postagem.
Bem-vindos! Obrigada!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

a porta e o tema




havia nuvens de grafite
sobre os meus olhos
pés invisíveis
e por que não vi
nem tive uma idéia do futuro
ocultei o excesso de lucidez
-seixos de realidade são as palavras-
por que deveriam tremular
dobrarem-se ao meu gosto
asas e adereços
sequer nasci colibri
que as formas me façam festas
que os ventos enlacem silêncios
enquanto me abrigo em seus régios mantos
  • (ilustração -TT)

domingo, 26 de abril de 2009

La Infinita huída


La infinita huída

Se alguna vez
em la tierra de las palabras
El mar
con su pulsera de cielos
En la claridad
sin destino
Ir demasiado lejos
Abandona el paisaje
hacia una misma noche
Por donde el corazón
Con su lumbre de fuego
es un ángel que el aire imita.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Passos


Um painel de pano descendo do teto. É neste espaço artesanal que se gravam as intuições,o surreal dos passos. Passos de antanho e de agora, de amadurecimento e frescor indeléveis.

As flores voláteis e douradas são a estrada de Alice. Depois vem o convite ao mar, num quarto pequeno, o buquê, natureza viva. No quarto maior onde a mãe dorme, a miragem, e novamente, em duas nuances uma linguagem de flores, o claro obscuro em escorridas e femininas liberdades. No corredor o lugar ao léu, a lagoa com três patinhos mansos. Tem outra cena de lago e ocas ao poente lambendo a crueza das paredes.

O leite no escuro na sala da máquina de costura velha comanda outra vez a dança das flores junto a estante de ferro. Na cozinha os frutos suculentos da época. Em seguida, o novo do lago - não há como não refugiar-se nas águas - reflexos e beija-flores.
O que é isso que a desordem da vida pode sempre mais do que a gente?
(Guimarães Rosa)
E os olhares urbanos aguardam algumas das que serão as últimas pinceladas.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Intraduzível

Intraduzível

Do espontâneo, viajo vereda.
Exprimo o sublime ignorado.
Passo a imaginar a chave do limiar.
Isso não me faz maior ou menor do que sou.
Espero o círio aceso no cílio de um sino.
Espero de mim o mínimo inesperado.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Percepção de Ser

Percepção de ser
(Por Oniodi Gregolin)

Não era de esperar menos disso tudo. Do lírio branco que dava boas-vindas até os quadros que cobriam as paredes da escada, os poucos metros do portão até a porta saudavam a chegada já marcada dias antes. Desde a rua o ar tinha cheiro de arte, um pouco de lirismo misturado à terebintina. Enquanto subia, era solvido juntamente àquela mistura de cores e imagens, esperando que atrás da porta estivesse a artista. E estava, tão colorida quando as telas. O vestido que a cobria dos ombros aos pés trazia, por semelhança, as mesmas flores que adornavam muitos dos quadros dispostos pela casa. “Bem-vindos, entrem e fiquem à vontade”, era o convite para mais uma estada fascinante.

A despeito da fascinação, não era a pintura, uma das grandes vertentes artísticas de Tere Tavares, que nos trouxe até ali: apesar da singeleza que também traz com a ajuda das tintas, eram as palavras que me seduziram outrora. Quiçá fossem apenas as cores, os versos de Tere – acredito eu – têm força de atração capaz de arrastar qualquer coração que não se sacia com o óbvio. Ainda era tinta o que permanecia arte até aquele momento.

O tempo, fracionado em uma centena de minutos, foi o bastante para me fazer imergir numa vertigem de pensamentos. Como em outra ocasião, esta se fazia ainda mais especial. Antes, nada conhecia de Tere, mas desta vez os outros da poeta e pintora estavam comigo. Meu pensamento se propunha a escarafunchar no que ainda lembrava, em versos soltos, em palavras minimamente escolhidas. A de aquários diversos, como se definiu em algum poema que vaga pelo meu pensamento, fez cortesia: convidou à sala e serviu café. Do pensamento que vagava em estrofes, voltei ao chão. Tento estabelecer contato com a realidade, mas uso das palavras de Tere: “estabelecer não me cabe e se me cabe não estabeleço”. Minha realidade divagava em fantasias.

A história da poeta, contava-me, teve início ainda no Rio Grande do Sul. Lá, em terras mais frias, foi que começou a sentir a arte pulsar nas veias. Qual veio primeiro? Não tem certeza, mas supõe. “Desde criança eu gostava de desenhar e de escrever. Já na escola eu recebia muitos elogios pelas minhas redações. O desenho e a palavra sempre estiveram comigo, mas acho que foi com a pintura que me identifiquei mais no início”. E deste início Tere busca no quarto alguns desenhos e pinturas feitos na juventude. Da cabeceira da cama, traz uma pequena tela com uma jovem desenhada: “Essa é do meu marido. É a preferida dele”.

A carreira de Tere deslanchou num caminho inverso à arte. Depois de formada, trabalhou em alguns empregos, mas se firmou mesmo como bancária de uma instituição pública. “Eu queria mesmo era fazer faculdade de belas artes. Mas naquela época tudo era mais longe, mais difícil. A mais próxima era em Santa Maria, mas tive mesmo que optar pelo curso de economia em Cruz Alta”. Talvez a formação tenha sido o que desvirtuou Tere do verdadeiro caminho que deveria trilhar. Reside em Cascavel há alguns anos e foi aqui, já aposentada, que a arte voltou a falar mais forte.

Ao entrar na casa da artista, é perceptível o quanto clama. As cores, o traço, o movimento, tornam o incauto visitante hipnotizado. Quando conheci Tere, na primeira vez em que estive na casa da poeta, ela me presenteou com um livro. Até aquele dia não fazia conta de quem seria ela e nem do conteúdo do que escrevia. Para minha surpresa, saí da casa carregando um livro que devorei em poucos dias. Na primeira página, a dedicatória profética do que seria feito de minha leitura: “Algo das almas que trafegam em esferas inaudíveis, porém perceptíveis”. Ao sabor de Tere, delicio-me até hoje com poemas que não me privaria de colocar ao lado da obra de grandes poetas. À natureza, ao lúdico, à tristeza, ao segredo, à súplica, à dor e às ambiguidades, é fácil de encontrar, na obra de Tere, odes tecidas em louvor a momentos e fragmentos de uma realidade tão só e singular como a de uma poeta.

Da vida dela, conta-nos pouco pessoalmente. É moderada em palavras faladas, quando na escrita se descobre uma artista escondida: “No dia em que nasci deram-me as heranças de todos os nascimentos, as vidas que não lembro ter vivido, o propósito, em natureza e sabedoria, inexpugnável ao meu estado humano”. Da felicidade que se atém absorta no íntimo em poemas também revela: “A pergunta de estar bem, direi sim, e será verdade, como é verdade o cio da chuva, que namora a noite, e se enamora de si, e transborda de infinito, e me sorri os amores, no essencial extenso de vivê-los”.

Decifrar um poeta é das coisas mais difíceis de se fazer. O semblante feliz que se revela, com a casa em ordem e os quadros em harmonia pelas paredes, sempre esconde algo e é nas palavras escritas que transbordam o verdadeiro existir. Não haveria nenhuma entrevista que pudesse trazer qualquer descrição de quem realmente é Tere Tavares. A conversa, útil às vezes, traz apenas algumas dicas e aponta para quais caminhos seguir. “Eu descompasso o atraso da realidade que amarrei na lua. Eu desamarro o muro de tijolos enjoados de serem sujos de massa. Eu suporto e mostro os dentes. Eu trituro o medo. Apenas eu, sem eus, tão menos, tão justa. E isso tudo?”. Ao redor, ela me mostra bravura. Os quadros pintados com esmero de quem calcula cada pincelada para que não padeça em dor. As palavras, concisas e breves, para não deixar de dizer pela limitação.

Ao continuar nessa leitura de semblante, de palavras, de traços, continuo na vergonhosa batalha fadada ao fracasso. “A noite pede explicações, sim eu sou sutil e minha dança é um véu inviolável, vê? Está ali o ideal de mistério, fácil e sem nome, acenando para mim”. Os olhos claros pousam sobre mim. Ela me conta histórias que prefere que fiquem ali, naquela sala. Conta-me algo de limites e é nas palavras escritas que encontro semelhança para o olhar que novamente pousa sobre mim: “quando é branda a calmaria das horas a quem tem a eternidade para si”.

Saímos da ampla sala para o pequeno ateliê. Vim até ali em busca de palavras, mas acredito que nas duas artes é que é possível desvendar Tere. Do dia em que a conheci durante a posse na Academia Cascavelense de Letras até agora, nenhum vinco de sombras inexplicáveis foi preenchido. Até agora. Ao abrir a porta do pequeno quarto ela brinca e ri: “Não vai rir do meu ateliê. É tão grande que terei que esperar do lado de fora”. Uma tela repousava sobre um cavalete. Cheirava óleo e terebintina. Fotografo e miro nela um pouco mais da artista. Ali, guardada, feita passo a passo, com cautela de quem não pode avançar rapidamente, entendo um pouco mais de Tere: “Cada dia é um oráculo que me circunda”.

Fecho a porta do ateliê e já vislumbro a rua. É quase meio-dia. O lírio branco que saudava a chegada também fazia despedida. Não há cerimônias para a partida, mas alteio a artista que por tropeço conheci. Dos poemas de Tere, novamente faço recurso para me despedir. De nome Percepção, a melhor descrição que pude encontrar: “Sempre sinto o que penso. Não é vício de sombrear. É antes o aspecto irredutível de uma luz que me toma de empréstimo. Sem o direito de arrancar o raio, resta-me o curso furioso das mãos, o som fluido das palavras”. (Oniodi Gregolin)

Publicado no blog Canto da Cultura:
http://cantodacultura.wordpress.com/2009/11/03/percepcao-de-ser/

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Quem sabe do mesmo verão

  1. Nem os carinhos esperam das brisas futuras,
    o sol dos destinos, onde os desertos andam,
    um brando vento. Os juncos sem motivo.
    Esbater-se num incerto detalhe,
    supremos momentos
    em que se tem por companhia
    o suave rosto do exílio,
    em tons límpidos como o céu e as águas,
    ouvir ou lembrar, algures,
    o silêncio de todas as nuvens.
    A areia morna tornando-se esquecida do mundo.
    Até não perceber a íntima presença,
    a impressão de que há tempo, muito tempo,
    aquela espuma se assemelha
    com algo da própria alma,
    e já não se é mais só.
    Alçantes do raso, soando ao longo da margem,
    regressos, memórias, amores.
    Os relevos todos do sentimento
    ao que se faz presente, amado.
    Faz-me bem. Mais que bem.
    Faz-me pensar que será eterno o meu sentir.
    Faz-me viver sem pensar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

FLOR ESSÊNCIA - POESIAS DE ECOLOGIA HUMANA.


Por Ricardo Mainieri – poeta e publicitário, autor do livro “Travessia dos Espelhos”.


FLOR ESSÊNCIA, POESIAS DE ECOLOGIA HUMANA.

A Natureza, principalmente nos séculos que nos antecederam, foi reverenciada por diversas religiões.Ao contrário dos tempos pós-Revolução Industrial, quando o homem passou a dominá-la, subjugá-la e ir, pouco a pouco, criminosamente devastando-a.

Ela aparece na tradição Wicca que estimula o amor pela Terra e que reverencia o aspecto feminino do Divino. Está, também, na Mitologia Grega com seus diversos deuses e deusas ligados à colheita e à fertilidade.No haicai  como um dos exercícios do budismo, nos ikebanas. Surge, sobremaneira, na poesia de Terê Tavares.

Pois esta escritora, nascida no RS, em meio aos campos do Alto Uruguai, traz em seu livro de estréia Flor essência, uma imersão na Natureza ora reverenciando-a, ora criticando o comportamento do Homem, dito, civilizado. Ela usa os elementos naturais para falar da psique profunda, do “religare” que está na base latina da palavra religião, de uma maneira toda particular.


Terê Tavares recupera, poeticamente, uma ecologia autêntica.Algo que tem ficado no discurso oficial, mas não encontra guarida nas ações efetivas de preservação ambiental.Salvo certas ações meio kamikazes de ONGs, espalhadas pelo Planeta...

Mas a poesia desta gaúcha, radicada há vários anos na cidade paranaense de Cascavel, aposentada do serviço público, é muito mais do que simplesmente, um itinerário de paisagens.

O bom-gosto do livro começa em sua capa.Um lindo buquê de flores estampada, em ornamento. Depois, a cor rósea, simbolizando o feminino da proposta da autora e da própria Natureza, que é mulher em sua personificação. Junta-se a isso, o prefácio extremamente bem redigido por Paulo Eduardo Lacerda, poeta paulista e graduando de Letras pela USP e a orelha de Ney Alexandre, contista cearense.

Do interior do livro emergem poemas belíssimos. Terê Tavares consegue extrair de suas pequenas obras, discursos surrealistas entremeados por uma musicalidade sutil e envolvente. As palavras, cuidadosamente esculpidas, compõem um painel alegórico e com dicção moderna. A autora demonstra domínio técnico e delicada sensibilidade, inclusive pelo social que, também, mostra sua face nesta Flor essência.

Mas, falar em poesia, sem dar aos leitores o prazer da degustação espiritual é falta de cortesia. Pois, vamos a mostra de alguns espécimes poéticos de Terê Tavares. Prestem atenção:

      Jabuticabeira

       noiva do sol
veste-se de olhos negros
    núpcias da noite

            Luas

    tenho duas luas
         sorrindo
      sob a blusa

   gêmeas & macias
cabem nas mãos tuas
 as minhas duas luas
   redondas e nuas

       mordaças
       bailarinas
      minhas luas
       travessas
        meninas
       levam-te
  até que respires
o sossego do sono

Não é necessário dizer mais nada.A poesia deixou seu recado.Que vocês podem conferir nesta obra da editora Coluna do Saber, sediada em Cascavel, Paraná. Contatos com a autora pelo e-mail t.teretavares@gmail.com

Fiquem com a benção dos elementais e a beleza destas ecológicas páginas.

Ricardo Mainieri – poeta e publicitário, autor do livro “Travessia dos Espelhos”.




sábado, 29 de novembro de 2008

A frase de efeito de hoje


Extraio sumos do extinto.
Limito a procura ao escuro que me instiga.
Novamente lembro,(coisas do intuitivo)
Tenho alguma palavra,
outras aberturas além de alguma palavra.
Toda visão de não estar neste comércio de palavras.

Minha cabeça mexe, excede o pronome,
o pré-nome que espero;
o exame da íris no ermo das páginas.

Visto o que subsiste,
engulo um pão-de-queijo, um vestígio,
e, guardiã, perfuro a folha de rosto.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

moça das águas

irriga a vertente negra de espumas
minúscula morenice
umidade
em âncoras esquecidas,
no mar somente, onda
de textura palpitante,
viço amornado de espessuras.
-não foi o breu arisco a ferir os mercadores de gotas,
nem a clorofila abundante foi à que emanava nuvem crua,
noite fria- não resguardaria
o ímpeto escaldante no peito.
/o feitiço virou e disse: vai que por ti não há tempo ou final
no meu rol de caracóis/
nem a água curou as feridas,
nem o céu supriu tanto partimento agora mais vivo do que antes.

e nada pensa que não.
esquece e lânguida, corre...
sem falsas nódoas, canta...
e dilacera a mais alegre quimera que dura
o tempo de mil vidas merecidas, o coral do riso.
e do lábio arisco de tanto risco tonto, beija...
o beijo que ofusca no olho que briga e promete
o ventre de areias e algas e sal,
o breu jovem de uma nuvem,
o manto brusco do assovio triste,
não mais triste que um eu só.
negrume: fértil nascente do sândalo noturno.
moça, de sandálias e sementes
de um adeus útil
não mais fútil que um eu vestido.
breu de cílios longos, manto,
não mais santo que um eu distante.

sábado, 1 de novembro de 2008

A obra aromática e filosófica de Tere Tavares


A OBRA AROMÁTICA E FILOSÓFICA DE TERE TAVARES

By  Lu Cavichiolli poeta e escritora paulistana


Das Essências entre teus outros

A poética desta autora contemporânea passeia desde reais tempestades até retiros espirituais,onde revela sutilmente versos travestidos de uma prosa elegante que atinge âmagos & universos.

Especialmente em Meus Outros , segundo trabalho publicado pela autora, a poeta conduz linhas e imagens infinitamente costuradas em meandros humanos usando agulha diamantada bordando palavras/espelhos que refletem íntimos seres, entes – o ser na filosofia pragmática da era branca de tabulas rasas da humanidade.

Em cada verso ela nos presenteia com aromas de algodão no plantio semântico – semente fecunda sob o olhar descendente dos verbos anais da literatura.

Artista de pincéis cria morada em quadras, tercetos e linhas abstratas versando ambigüidades inerentes da vida, morte, abandonos e descobertas. Desenhando nuances em flor no ocaso de aquarelas, todas pitorescas na alegria do prisma cristalino em auroras boreais. 

Em Jogando o Buquê, Tere retrata com especial beleza o casamento e a noite de núpcias – valores perdidos entre os tesouros da humanidade. Pode-se ouvir o tilintar enigmático da magia feito mistério na descoberta do amor, quando diz:

“estava diante dos beijos brancos de arroz/a vestal quiçá deusa de outras viagens/ou brinde perfumado de laranjeiras/dizendo de si somente o inimaginável/o delírio inconfessável noite onde o rocio vermelho daria à verdade antiga e quase morta/apenas vestígios dos desertos gulosos e tão vivos/de sede e saciedade tão certos/que recuperariam lúcidos a plenitude inocente da vida.”

Na maioria de seus poemas vê-se a introspecção exata de cada dúvida que pode ou não estar isolada em neurônios, escondidas em corações, ou até enfileiradas no peitoril de alguma janela alheia. Vê-se o ser mortal na tentativa de ser imortal no total desvelo de sucumbir na ânsia vazia de saber-se impotente diante da majestade suprema de Deus.

Enfim, o livro e seu fantástico conteúdo têm a nobreza de ser companheiro nas horas obrigatórias da nossa bendita leitura de cada dia.

Resenha do livro "Meus Outros
Tere Tavares - Artista Plástica e Escritora

http://escritosnamemoria.blogspot.com.br/p/resenhas.html

domingo, 26 de outubro de 2008

Passagem

Passagem

Hoje saio do inferno astral.
Vivo mais um ano e me sinto feliz.
Afinal, o final feliz não é mais que um novo início.
Às vezes é preciso mais que a mudez de um absorto monossílabo
para dobrar o sim que o ego reclama.

Pode ser que eu ame muito meus talvezes.
Pela intuição de que tudo é irreal,
vejo mais claramente a realidade.
Sempre estou não estando,
Na ramagem de uma escritura de um aroma,
Num livro que espera.

do livro "Meus Outros"

domingo, 3 de agosto de 2008

Textura


Textura

Sou esta nuance que nada deseja além de seguir ao longo do sulco da tua face e, talvez, esperar com alegria, ter esperança, ouvir uma canção – que resista a toda a espécie de balbúrdia e ao silêncio que a sucede ou caminha ao seu lado – como só um outro que me escuta , um poço de olhos fundos e insaciáveis, o alívio de todo peso de um nome. Nunca sou só o que sou.
O que dizer de quem se diz? Até onde contar o que nos conta?

E quando anoitecer que eu possa ser um pouco da noite, tecer a noite com a paciência do pescador.

E ao amanhecer que eu me perceba ao menos o mínimo da manhã a desfiar a luz do dia a fragrância dos matizes inolvidáveis do entardecer, como quem se entretém numa homenagem à Penélope e ao amor, como os ocasos em que sempre desce o indefinível e prodigioso ouro da claridade.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Bebaixo do Bulcão Poezine - Número 33 - Junho 2008

O adorável amigo de além-mar António Vitorino, publicou a edição "Dabaixo do Bulcão Poezine - 33 - " versão on line e impressa, com exímios escritores de prosa e poesia , entre eles, a querida Madalena Barranco com o poema "Vento Outonal", o próprio António Vitorino a nos dizer sobre os poetas de Almada, linda cidade de Portugal onde se espalha o jornal literário. Fiquei imensamente feliz e agradecida ao António pela publicação do meu texto, que posto a seguir:

Em estado bruto

Sinto um imenso vácuo dentro da cabeça. Como se milhares de zunidos dançassem em meus ouvidos. Uma pequena haste de Heráclito me põe nos lábios um sabor de noite e logo se vai.
Porém, sou eu que não vou e me perco no intervalo de um "preciso ir" e um "quero ficar".

Como se possível fosse ocultar-me de mim, num furto dolorido, juntando os olhos e a pele untados de transgressões, mal vestindo o querer mais farta ser do que sou, digo a mim mesma: amanhã, do final para o meio, sabendo o mesmo vácuo que se desprenderá da luminosa perspectiva, o meu caminho mesmo – que de mesmo só tem o ponto que desponta nas raias do sentido – tão estranho e grandiosamente pequenino, mais quando a minha substância é consciente da própria insubstancialidade.

sábado, 21 de junho de 2008

Espessas camadas de sonho


Espessas camadas de sonho

Estava absorto. Conduzia-se a um jardim desconhecido. Atrás de si restavam enormes árvores silvestres. Folhas multicores que lembravam quadros impressionistas formavam um macio tapete ao longo do caminho. Ele apoiava o pensamento na carta que trazia entre as mãos. Aproveitava a distração para falar consigo mesmo lucidamente o momento sinfônico que o seguia sem o risco de ser confundido por liberar suas orquestras. Enquanto fervilhava em suas pausas, definia o próprio resumo num teatro que estaria necessitando de ajuda ou julgamento, sendo justo como um engenheiro do rumo que, estranhamente, também o conhecia. E seus pensamentos umedecidos, mansos como as plumas, anteviam a alvorada suave que se desprendia da paisagem. E sua cor de estar inquieto, similar ao seu tempo de sonoras subdivisões, se instalava tão inebriante como quando ouvia: “vai passar, ter um lugar é anormal, o irremediável tem seu próprio remédio”.

Caminhava em cada degrau, o fecho, o revés, o grão – sem hesitar. Outrora alguém o vira entre os doutores do comportamento da rua das abóbadas – o velho herói louco o bastante para supor tratável a loucura. Então se deparava com seu estrito artefato: “O melhor lugar é ainda o mesmo lugar. Quem não lembra do sonho que tanto liberta quanto aprisiona, da coerência do sonho vão de um saltimbanco? Alimento a minha arte – as palavras, vou levando-as, e elas, lavando-me – como a realidade do sonho. Terei de novo tempo para suplantar a superfície, a minha. O bom amigo não costuma sofrer com fragmentações da personalidade – o cachorro. Ser poeta é ser mais humanamente cão”.

Porém, tudo aquilo que talvez viesse servir a muitos, era serena construção de quem andava solitariamente. E ele se alegrava com a imensidão de não se fazer acompanhar por ninguém. E novamente monologava repetindo em tom isento e profundo: “Ferem muito, o amor e a morte. Se não amo morro de não amar. E se não morro, vivo de não morrer. Na dúvida não há certeza, a não ser, a certeza de existir a dúvida. Mesmo que eu possa não seguir digo sempre algo para as muitas vezes em que me encontro indócil e, em tal intensidade me esqueço, que todo o existir exulta de ser-me. Felizmente, há vários tipos de happy end.”

Mesmo não havendo uma estação que ele identificasse como parte do seu pequeno espaço, um lugar que a cada instante não olvidasse a intenção lúdica da magia com que fora agraciado, prosseguia em meio à leveza das esperanças. E naquele mesmo dia, finalmente, e antes que... entregava no destino certo a carta e um esguio cálice de acácias – a sua preciosa aspiração de não se desiludir.
(do livro Meus Outros)
Publicado também no Portal Blocos on Line em Prosa/Prosa Poética:

Logro

Aprumo algumas alterações
da percepção,
Engano a mente e o sonho
com qualidades dignas de louvor.

Sou o próximo fidalgo
em que se depositará toda fé
De uma fábula nascida
em minha alma aparente.

Meu paraíso é fictício,
porém, é meu itinerário,
meu adorno
de tornar-me confiante.


(poema do livro Meus Outros)

sábado, 29 de março de 2008

Resenha do Livro Meus Outros por Madalena Barranco

Publico, na íntegra, o presente que recebi da amiga “Madalena Barranco, escritora paulistana, graduada em Letras, tradutora de espanhol. Escreve prosa & poesia, temperadas com fantasia, sempre em busca do legítimo gênero “histórias de fadas”. Dedica sua produção aos leitores dos 8 aos 108 anos, pela manutenção da fantasia na literatura”.
É como ela se apresenta nos sítios que freqüenta. Acrescento: Magalena, Magalinda, Madá... é portadora de uma delicadeza e afabilidade que a todos conquista. Tenho orgulho de estar sempre próxima e desfrutar da amizade desta talentosa artífice das palavras.
Por Madalena Barranco:

Resenha Meus Outros, Tere Tavares 19/03/2008.
Em seu distinto estilo poético a autora plasma o Impressionismo (escola de pintura do fim do séc. XIX e que influenciou a pintura dos próximos séculos), que também lhe inspira as artes plásticas através de suas pinturas em quadros, perfeitamente em seus poemas escritos. Algo que é visível quando se lê a impressão visual produzida, que a poetisa capturou da natureza. Algumas vezes, sutis toques de Simbolismo (escola literária do fim do séc. XIX) em seus versos, denotam a preocupação em manter a estética do conteúdo inserida em uma paisagem.
Tere Tavares enriquece sua poesia com momentos profundos de originais e metafóricos versos entremeados com páginas de prosa poética. A combinação das palavras transformam-se em indeléveis pinturas do Contemporâneo, que ora viceja na próxima época cultural da humanidade.
Neste verso, obtém-se uma visão clara do efeito da poesia de Tere: “-Enquanto passeio pelos livros letras se despem e viram folhas – Como veias abertas: meus anseios.” O que leva o leitor a compreender uma das principais mensagens do livro de poemas, nestes outros versos, que é: “-Talvez eu me sentisse como se depois de grande eu fosse ler o pequeno-príncipe”. E eu acrescento: - o pequeno príncipe inserido com liberdade em uma pintura, que lhe mostrasse livremente os sentimentos expostos ao vento das quatro estações.
Nos seguintes versos, um exemplo da poesia de Tere Tavares:
Galáxias
Porque as flores me escolhem acolhedora de flores.
Se relembrar este meio desencontrasse o veio,
o contraste de ver abatido o meu não obtido.
Se do firmamento firmasse só um verso que fosse,
um ai minúsculo, como se ópios caíssem
do que ouço de um exílio numa cascata de primaveras.
Porque as flores nutrem beija-flores.
Minhas observações: Entre paisagens vivas e naturezas mortas, poetadas em nuanças que vão de uma dimensão à outra e de verso em verso, a poetisa desfia e até desafia os enigmas das impressões conscientes ou não da alma humana, através de seus “eus”.
Visitem o blog da Madalena aqui http://flordemorango.blogspot.com/onde consta sua produção de prosas e poesias.

domingo, 23 de março de 2008

Exposição de Poesias


Exposição de Poesias

Os poemas do Livro “Flor Essência” (“Pão e Vinho”, “Oração ao Íntimo Ser”, “Filhos da Mãe”, “Teatro de Pétalas”, “Luas”, e “Anseios”) e do Livro “Meus Outros” (“Jogando o Buquê”, “Artimanha”, “Oito de Março”, “Homenagem à Graça”, e “Calculando o Céu”) – todos com abordagem da temática feminina – estiveram em exposição de 01 a 09 de março, durante as comemorações da Semana da Mulher no JL Shopping de Cascavel.
A arte da exposição foi elaborada pela gerência de Marketing do JL Shopping: o amável Adriano Pizzani e a simpática Andréa Toscano.

Agradeço ao Departamento de Marketing do JL Shopping pela oportunidade e parebenizo-os pelo excelente tributo à divulgação cultural nas mais diversas manifestações artísticas.

Oito de Março

Amarras no marco,
figuras do que em ti não cessa;
atendimento múltiplo
em desassossego,
barco de rota nítida,
marchas.

Dessa chama, turgescência,
marés desalinhadas,
ternurando egos, amos
...A dor meça.

Mar és, ar terra, mãe,
se anjo, se divino,
te chamas: Mulher.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Para cada momento uma palavra


Para cada momento uma palavra
As formas de grafar o tempo:
este canto infinito que detém o comando,
este Deus que, em cada partícula, imprime a sua marca.
Eu o vejo nesta bela colina antes mesmo de ser mencionado.
Observo a graciosidade que se desprende da sua plenitude
como se pudesse sujeitar à razão o que é isto.
E é um juízo final que não chega
e chega com verbos e rubores
ou a tal ponto cede ao delírio
que esta mínima parte
deste Deus que me habita
tem livre expressão
e me guia docemente.

(Poema do livro "Meus Outros"-TT)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Nasce "Meus Outros"

Nasce “Meus Outros”

Foram longas contexturas, entre noites prorrogadas, madrugadas
insistentes, dias multiplicados, prosas e versos escritos nos últimos
quatro anos, que me tornaram capaz do término (finalmente!) de uma nova recolha.

“Meus Outros” chega no final de dezembro, a tempo de refletir junto à taça
de vivas e convivas a essência de um processo de trabalhosa criação, mas,
e sobretudo, do indefinível prazer de concretizar.
Custa-me um pouco narrar cada detalhe desta constelação
de acontecimentos – é sempre nas ocasiões importantes que me torno
quase irremediavelmente estéril de palavras – todavia, tomem estas
poucas linhas como se possíveis de em inúmeras mais se transformarem.

Esta obra, com prefácio do poeta, professor e músico Renato Torres,
e texto de apresentação da poetisa Luísa Ribas, amigos a quem
redobro agradecimentos, entrega-se ao mundo.

Do mais profundo, desejo que “Meus Outros” bem caminhe!

Eis o poema da contracapa:

Desce o instante que viaja adormecido,
o crivo de algo que faz com que haja o belo,
a frase de cima e debaixo,
como o azul de uma intensa estrela diurna.

Evoco a herança de Ulisses.
Só o níveo sorriso no semblante
descalço de mundo,
do mundo em si
e de si mesmo no mundo.

Ressonâncias da mesma natureza pequenina,
na busca errante de não ofuscar o sentido da arte
de ser – arquiteturas que desocupam o pensamento
e preenchem a alma como a brisa cálida
e brilhante – amplitudes de supremos pomos,
realidades que suponho de milagre e sonho.

Tere Tavares