terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Poemas




I

Entardecer na cobertura 

para ariel tavares 

o vento sopra nas coroas das palmeiras
o sal do mar se infiltra em todos os lugares
da pele à raiz dos cabelos
a noite diz boa noite mas não promete ser boa
haverá ressaca e a maré alta trará consigo
tudo o que puder arrebanhar
o braço da maré não é feito de moliços
nem de ossos
é feito da força líquida e invencível das gotas

o vento alucinante prospera
e a lua sopra suas mantas prateadas
então sobre as areias antes brancas
há manchas
nuanças de breu

daqui de cima não vejo tudo
embora escute o que imagino
o que me diz esse eu
desdizente 
para ti, minha bela flor de caracóis,
sob o teu regaço de moça
o sargaço dessa mãe
extrema e nunca ausente
que te sente
porque te ama. 

II

Marejar

meu sentir é mais ligeiro a cada manhã
e essa copa de araucária quase entristecida
onde o vento pousa a alegria de sua velocidade
implacável
eu de pouca altura e pouco peso
coaduno-me em luzeiros obscuros
cinzelados de mar e suor
a forma do ar que me suporta
e desenferruja a madeira que se perfila em minha alma
o espinhoso dorso que fui para alguém 
que alguém foi-me
numa nostalgia sem eco
o temor do amortecimento da luz
enganando o que anseio
insinuando tentações que já não alcanço e quero
um esgar úmido e parco e inquisitivo
como sabiá à esquerda do improviso
o quinhão que me não quer
o coração impreciso
de cujo olhar me perco.

III

Há mar 

que sabor tem o verso 
que aporta entre ondas e espumas, 
o novo não teria mansidões e areias, 
motivos para instar turbulências e brumas, 
algumas oceanando mansas 
outras irresolutas e afoitas, 
onde te cansas, 
quando há portas sem qualquer perspectiva, 
insuspeitamente, feito música, 
entre o que muda e o que emudece, 
sobrarão as palavras 
que suportas.

IV

O ninar dos olhos

nobremente argutos
sem a ignomínia das palavras
ou quaisquer outros tolos orgulhos
só fazem proferir luzes

senão assim
preferem ser como as pérolas
e as marés

alguém maior os coroará
no altar-mor
e se ajoelhará diante deles
o que duvida
de suas sinceridades límpidas

quando e se souber 
será depois que eles souberam 

mesmo cerrados dirão 
além do que fingem não olhar 

sedas, retinas, pétalas e cílios 
...ondas e arco-íris.

V

Pássaros de Abril

perambulando entre as vozes sem nome 
ásperos como o desespero 
cheirando a sal e uma branca flor-de-lis 
com a preocupação de irem-se 
num vôo feliz 
aguardam as brisas breves do outono 
– eterno é o movimento – algo do parvo ninho. 
do céu, invejados pelas nuvens, 
lançam ao mar as doces lanças de giz.

VI

Um só

uma rosa sobre os muros 
esmorecidos 
uma coisa visível está arruinando o mundo, 
ou a entropia o está concertando, 
como uma sinfonia desleal que declara, 
erramos, 
errantes filhos de uma Terra insatisfeita, 
empobrecida pela prole, 
cujos mármores despem a sombra 
e não resiste 
aos tremores que a música denota, 
deixa, na gravitação da eternidade. 
e os cântaros recolhem 
as primeiras lágrimas do sol. 

(Foto e poemas by Tere Tavares)

Poemas publicados na antologia Saciedade dos Poetas Vivos Digital - Vol 11
Blocos On Line
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/obrasdigitais/saciedigpv/11/tere01.php

sábado, 2 de fevereiro de 2013

inocência de um pássaro


inocência de um pássaro

os meus olhos remotos
regressam
às cercanias solares
é do sol 
é o sol
que lapida 
a ida 
a arrogância da rota
é assim que as garras
salivam nas escarpas

/eu ainda desconhecia a ausência do ar/

é o lamento nunca definitivo 
do solo
solitário
que abana o eco do bico
o mistério da floresta em que me abstenho
porque tenho asas e lodo.



Foto By Tere Tavares