segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Publicação de um conto de Tere Tavares na Revista InComunidade -Aborim- do livro Destinos desdobrados- Penalux-2021

 

Aborim | Tere Tavares
http://www.incomunidade.com/aborim-tere-tavares/
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Obrigada à Revista InComunidade pela honrosa acolhida de minha escrita.


ABORIM 

Enquanto se molha, algo lhe tolhe as incertezas. Vem-lhe à memória a trilha de ouro onde colheu seus primeiros amores. Aborim é insubmissa e intranquila. Dentro dela se opera uma mudança que lhe permite evidenciar o prazer de encontrar-se entre um e outro sobressalto. Habitam-na as órbitas inusuais. Ela perfura as cavidades do mundo adornando-se com a nostalgia insanável das aflições. Os riscos de vento que doa aos papéis seguem extensões que, com uma fisionomia invisível e inadvertida, perseguem-na apesar das desolações.

“A alma é a ilustração da mente, do intelecto e da genialidade. A arte deve enxergar na ocultação, no que resta de misterioso. Cumpre-me abordar temas menos dóceis, a dor que trafega no interior de cada ser vivo. Eu me amacio no mesmo instante que sou amada. Nem por isso deixo de estar próxima à desventura que venha a ser apaixonar-se por algum canalha e conduzir esse sentimento às últimas consequências – não raro, definitivamente últimas: [muitos dos que prometem amor, assassinam-te, controlam-te, desejam que mudes ou que fiques muda], – minha suspeita se pauta em experiências e observações. Por vezes, a melhor opção é a recusa, a não concessão que venha a abalar esse estar comigo. São poucas as coisas suficientemente sedutoras para me prenderem. Eu perdi a timidez de mostrar-me tímida para os outros. Resta-me o cuidado de nunca me afastar da alegria de ser a mais verdadeira e natural de todas as que sou. Porque isso emoldura a espontaneidade do meu espírito. Porque separar-se da própria vida é casar-se com a morte”.

Com a lógica do desapego, Aborim compreende que o essencial se encaixa, ou deveria se encaixar, de forma normal – o todo é incapturável. Ela constrói um mundo interior valiosíssimo, de harmonia, de amor universal. Nada a deduz da luz que a envolve e irradia de si, constantemente; mas a induz à leveza das não pretensões. Há algo de pretencioso em adotar a simplicidade? Não. Existe a gloriosa finalidade de evidenciar o que há de nobre [não há rejeição capaz de sobreviver ao inevitável brilho da sinceridade] de um mundo que nem sempre é percebido. Ainda que em narrativas sem auxílio: que palavras mais puras lhe molham os olhos e lhe desagravam a aridez –  o que lhe vale é fermentar a estruturação do pensamento. As mutações, talvez, lhe mostrem com assiduidade que não a conhecem, sequer a veem. Para Aborim, nada é mais louvável do que captar esses momentos florais e registrá-los com real filosofia, como um sachê esquecido entre as mobílias que nada tem de proposital, exceto fruir a felicidade e evitar as traças. Impossível descrevê-la ou associá-la apenas a uma coruja demoníaca ou à noite.


Fortuna crítica de Guida Luís, via facebook: 

Guida Luis Este excerto é de uma beleza magistral, cada palavra faz vir ao de cima , uma mulher divina, que merece ser verdadeiramente amada e só isso fará sentido, de outro modo vale mais seguir só, longe da superficialidade! Absolutamente encantada com este excerto, já sem falar na pintura! Lindíssima! O meu grande aplauso pelo todo!                                                                                                                                                                                                                                        


Fortuna crítica de Wellington Luiz Feitosa Guimarães, via facebook:

Wellington Luiz Feitosa GuimarãesUm belo texto. É pouco. Um belo e bem escrito texto. Ainda é pouco. Um texto bom e literário. Ainda é pouco. É o quê, então? Um texto que não precisa ser definido, nem classificado por único, por ser sem padrão ou parâmetros. Ou parâmetros sobre um novo parâmetro. Mais à frente. Vanguarda e conservadora, Aborim é isso. Filósofa de averiguar, de intuir. Aborim não é nome que se confunda. Colocaria Aborim para conversar com Rosalinda e se dariam bem. Como sei? A inteligência não briga contra si. Belíssimo texto. Parabéns.

Do livro "Destinos desdobrados" contos- Editora Penalux, SP, Tere Tavares, 2021

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Ou pelo site da Penalux.