segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Fragmento do livro Destinos desdobrados de Tere Tavares - Fortuna Crítica

 As piores feridas são as invisíveis.

Fragmento do conto "Antigamente", Destinos desdobrados, contos, Ed. Penalux 2021
Tere Tavares


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João Esteves
Senti-a aqui perfeita e incrivelmente harmonizada com a voz de Emily Dickinson em seu poema "There's a certain slant of light", embora ambas tratem de temas diferentes, com diferenças também de lugar, momento histórico e idioma.

Francisco da Cunha
Onde a beleza do texto e da arte se dão as mãos e suscitam elevadas discussões em torna da dor humana, a dor na sua dimensão mais íntima.
Sempre bom receber um nova postagem sua, dileta escritora e amiga, Tere Tavares. As artes plásticas sobretudo na contemporaneidade diante das avassaladoras mudanças de concepções do mundo, da vida, da tecnologia e da da Natureza-Mãe, agora em grande risco de afundar-nos nos abismos construídos pelos homens maus: os chamados líderes mundiais que, em vãs promessas mentirosas, não querem enxergar o perigo que nos espreita como seres vivos da Terra. Daí que as artes e a própria literatura : os temas que são imensos diante dessas modificações rápidas, deverão ser tratados no campo da ficção e da poesia, sobretudo. Realmente, "as piores feridas são as invisíveis"

Severina Etelvina Silva
Por isso elas devem ser expressadas, caso contrário ela sufoca o corpo e mata a alma preciosa: Tere Tavares .

Guida Luis
Absolutamente de acordo, querida amiguinha Tere, refletindo nisso deixo aqui um poema de Carlos Drummond de Andrade:
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Publicado em 1940, na antologia Sentimento do Mundo, este poema foi escrito no final da década de 1930, durante a Segunda Guerra Mundial. É notória a temática social presente, retratando um mundo injusto e repleto de sofrimento.