terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ainsa

Ainsa




Sentiu-se ínfimo. As dúvidas lhe escorreram pelo rosto. Não foi a primeira vez. Provavelmente também não seria a última. Que culpa haveria num ser que não se preocupava somente com o próprio curso, atendendo ao que não conseguia estagnar?

Não tinha pretensões, absolutamente nenhumas. Logo ele, tão simples, cordato, altruísta. Não se deixaria abater por nenhuma ilusão desocupada. Não sabia se tinha amigos ou admiradores – talvez amigos e admiradores fossem vernizes de uma tonalidade diversa. Solitários. Sumamente necessários.

Caminhava resoluto, como se provasse uma paz recém colhida. Felizmente “o enfeitador de paredes” não se havia esgotado. Arrematou o último exemplar. Identificava-se de algum modo ainda não descoberto com a obra e com o autor.

As dúvidas deixaram a face e ganharam o ar. Subiram nas árvores, pousaram na tepidez das folhas. O mesmo verde da cor primária. Não prosseguia de outra forma que não fosse a de apaixonar-se continuamente pelo que acreditava. O que poderia doar a todos. Seus momentos carregados de eternidade. O semblante único. A esperança insólita que lhe brotava na pele sem perder a alegria de germinar.


Foto da autora