segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Publicação de um conto de Tere Tavares na Revista InComunidade -Aborim- do livro Destinos desdobrados- Penalux-2021

 

Aborim | Tere Tavares
http://www.incomunidade.com/aborim-tere-tavares/
Clique no link para conhecer a revista que é maravilhosa.

Obrigada à Revista InComunidade pela honrosa acolhida de minha escrita.


ABORIM 

Enquanto se molha, algo lhe tolhe as incertezas. Vem-lhe à memória a trilha de ouro onde colheu seus primeiros amores. Aborim é insubmissa e intranquila. Dentro dela se opera uma mudança que lhe permite evidenciar o prazer de encontrar-se entre um e outro sobressalto. Habitam-na as órbitas inusuais. Ela perfura as cavidades do mundo adornando-se com a nostalgia insanável das aflições. Os riscos de vento que doa aos papéis seguem extensões que, com uma fisionomia invisível e inadvertida, perseguem-na apesar das desolações.

“A alma é a ilustração da mente, do intelecto e da genialidade. A arte deve enxergar na ocultação, no que resta de misterioso. Cumpre-me abordar temas menos dóceis, a dor que trafega no interior de cada ser vivo. Eu me amacio no mesmo instante que sou amada. Nem por isso deixo de estar próxima à desventura que venha a ser apaixonar-se por algum canalha e conduzir esse sentimento às últimas consequências – não raro, definitivamente últimas: [muitos dos que prometem amor, assassinam-te, controlam-te, desejam que mudes ou que fiques muda], – minha suspeita se pauta em experiências e observações. Por vezes, a melhor opção é a recusa, a não concessão que venha a abalar esse estar comigo. São poucas as coisas suficientemente sedutoras para me prenderem. Eu perdi a timidez de mostrar-me tímida para os outros. Resta-me o cuidado de nunca me afastar da alegria de ser a mais verdadeira e natural de todas as que sou. Porque isso emoldura a espontaneidade do meu espírito. Porque separar-se da própria vida é casar-se com a morte”.

Com a lógica do desapego, Aborim compreende que o essencial se encaixa, ou deveria se encaixar, de forma normal – o todo é incapturável. Ela constrói um mundo interior valiosíssimo, de harmonia, de amor universal. Nada a deduz da luz que a envolve e irradia de si, constantemente; mas a induz à leveza das não pretensões. Há algo de pretencioso em adotar a simplicidade? Não. Existe a gloriosa finalidade de evidenciar o que há de nobre [não há rejeição capaz de sobreviver ao inevitável brilho da sinceridade] de um mundo que nem sempre é percebido. Ainda que em narrativas sem auxílio: que palavras mais puras lhe molham os olhos e lhe desagravam a aridez –  o que lhe vale é fermentar a estruturação do pensamento. As mutações, talvez, lhe mostrem com assiduidade que não a conhecem, sequer a veem. Para Aborim, nada é mais louvável do que captar esses momentos florais e registrá-los com real filosofia, como um sachê esquecido entre as mobílias que nada tem de proposital, exceto fruir a felicidade e evitar as traças. Impossível descrevê-la ou associá-la apenas a uma coruja demoníaca ou à noite.


Fortuna crítica de Guida Luís, via facebook: 

Guida Luis Este excerto é de uma beleza magistral, cada palavra faz vir ao de cima , uma mulher divina, que merece ser verdadeiramente amada e só isso fará sentido, de outro modo vale mais seguir só, longe da superficialidade! Absolutamente encantada com este excerto, já sem falar na pintura! Lindíssima! O meu grande aplauso pelo todo!                                                                                                                                                                                                                                        


Fortuna crítica de Wellington Luiz Feitosa Guimarães, via facebook:

Wellington Luiz Feitosa GuimarãesUm belo texto. É pouco. Um belo e bem escrito texto. Ainda é pouco. Um texto bom e literário. Ainda é pouco. É o quê, então? Um texto que não precisa ser definido, nem classificado por único, por ser sem padrão ou parâmetros. Ou parâmetros sobre um novo parâmetro. Mais à frente. Vanguarda e conservadora, Aborim é isso. Filósofa de averiguar, de intuir. Aborim não é nome que se confunda. Colocaria Aborim para conversar com Rosalinda e se dariam bem. Como sei? A inteligência não briga contra si. Belíssimo texto. Parabéns.

Do livro "Destinos desdobrados" contos- Editora Penalux, SP, Tere Tavares, 2021

Adquira um exemplar via e-mail: t.teretavares@gmail.com 
Ou pelo site da Penalux.


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

TERE TAVARES E AS PALAVRAS COMO PINCELADAS SOBRE O MUNDO

PUBLICADO EM LITERATURA POR 


Nosso CAFÉ PÓS-MODERNO recebe Tere Tavares que irá responder 13 perguntas e deixar um fragmento.

1- Quando você começou a escrever?

Não sei precisar, com exatidão, algum começo. Certamente, iniciei pela leitura. Desde a adolescência, tive contato com os livros. Lia, sempre que possível, desde romances e contos de fada a bulas de remédio. Ganhei alguns concursos de redação na escola. A partir do curso superior em Economia, no qual sou licenciada, precisei dedicar-me às literaturas específicas dessa área, pelo trabalho que exerci em diversas empresas, mormente na Caixa Econômica Federal, onde trabalhei até a aposentadoria. Minha primeira inclinação foi cursar Belas Artes, pois adorava desenhar e pintar. Porém, declinei, pois precisava, antes, trabalhar para sustentar-me. Nunca imaginei que, na maturidade, despertaria e descobriria, em mim, uma escrita que nem eu conhecia. E, por outra via, exerceria a pintura. Em ambas as artes, sou autodidata. A vereda se faz maior a cada livro que leio, a cada pintura que conheço. Seja escrevendo poesia ou ficção, o processo de investigação e a curiosidade, me são fontes de constante aprendizado.

tt A licitude dos olhos.jpg

2- Escrever é um dom ou consequência de muita leitura e transpiração?

Existe o dom, entretanto, ele não se sustenta sozinho. É necessário, imprescindível, muitíssimo de leitura [conceituo-a como toda uma existência], observação, exercício e pesquisa para exercer a escrita. Escrevo, antes de tudo, por amor, mas também como uma necessidade incansável de ressignificar os pensamentos, a realidade, a vida, o meu estar no mundo. Seja na poesia ou na prosa, deixo as palavras fluírem naturalmente, sem determinismos nem fixações que me afastem do que intenciono criar ou expressar. Tudo me inspira. Desde o que percebo ao que desconheço. Desde o que sinto, ou intuo, e se reflete no outro, na sociedade; como elementos indissociáveis à essa imensa seara chamada literatura.

3- Quais os “clássicos” da literatura você mais admira? Quais autoras e autores influenciaram tua escrita?

Na adolescência, eu lia o que estava disponível na biblioteca da escola, único lugar onde eu tinha acesso aos livros: basicamente, obras da literatura brasileira. Depois, noutro tempo, adiante de ver os filhos crescidos e aposentar-me de um trabalho em que lidava com números e cálculos, mas também com pessoas de todas as classes sociais e profissionais (o que me deu uma bagagem imensa no aspecto humano), parti para leituras inúmeras: livros nacionais, livros em outros idiomas como o espanhol, algo em italiano e francês. Não me sinto muito à vontade, se esse é o termo, em mencionar nomes que possam ter influenciado a minha escrita. A lista é imensa e vai desde a leitura de obra inteira ou fragmentada de muitos escritores e escritoras admiráveis em todos os gêneros literários. Creio que a variação do que li e continuo a ler me dá maior plasticidade ao escrever.

tt A Linguagem dos Pássaros.png

4- E na cena literária atual... Quem você já leu e gostou muito? Quem você indica, entre os contemporâneos, para as pessoas lerem?

Embora, no Brasil, infelizmente, haja poucos leitores, o mesmo não acontece quando se fala de escritores. O catálogo atual é vasto, ainda bem, assim como os estilos e vertentes literárias. Há obras excelentes que são verdadeiros convites à leitura, mas a grande maioria, são desconhecidas do grande público. Não atino o motivo que leva a esse triste cenário. Talvez haja falta de incentivo, divulgação. Parece que, se o autor ou autora, for brasileiro, principalmente fora do eixo RJ e SP, salvo raras exceções, já é um motivo para não ser lido. Um fato lamentável e desestimulante em muitos aspectos. Aqui, também, declino de indicar nomes. Prefiro deixar que cada um eleja o que lhe agrada ler, pelo despertar do desejo de investigar, seguindo suas emoções e necessidades, esse ou aquele escritor ou escritora.

tt Entre as Águas.jpg

5- Neste momento, qual é o livro que você está lendo?

Normalmente, não me fixo ou não me dedico a um único livro. Há um leque de livros que estão à minha volta, num agradável caos e coexistências que vou percepcionando no decurso dos dias, nas horas que sobram.

6- O que você já publicou até aqui? Foi difícil publicar?

Conto, atualmente, com nove livros publicados, entre poesia, contos e ensaios: “Flor Essência” (poesia 2004), “Meus Outros” (poesia 2007), “Entre as Águas” (contos 2011), “A linguagem dos Pássaros” (poesia Editora Patuá 2014), “Vozes & Recortes” (contos Editora Penalux 2015), “A licitude dos olhos” (contos Editora Penalux 2016), “Na ternura das horas” (ensaios Editora Assoeste 2017), “Campos errantes” (contos Editora Penalux 2018), “Folhas dos dias”, minha primeira experiência na plataforma e-book, (Ensaios, Selo Ser MulherArte Editorial, 2020). Integro várias Antologias e Coletâneas, no Brasil e no Exterior. Há farto material de minhas obras literárias e de pintura na Internet, e revistas eletrônicas do Brasil e do Exterior. Edito o blog “M-eus Outros”, desde 2007. Integro a Academia Cascavelense de Letras.

tt Flor Essência.jpg

7- Se alguém deseja conhecer sua produção literária, você recomenda começar por onde?

Cada um dos livros que publiquei, é um bom começo! Indicaria o livro “Campos errantes”, contos, 2018, Editora Penalux, disponível no catálogo da editora, na Amazon.com, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino.

tt Campos errantes V.jpg

8- Prosa ou poesia? Conto, novela ou romance?

Todos os gêneros literários em que sinto a emissão de forças vivas, que ampliam os pensamentos e, de alguma forma, me emocionam e me enriquecem o espírito.

9- Se ainda não dá para viver só de literatura, como você sobrevive?

Sou uma bancária aposentada. Não tenho outras fontes de renda.

10- Algumas escritoras e escritores fazem depoimentos de cunho político outras defendem a “arte pela arte”, uma autonomia entre fazer literatura e o contexto sociopolítico. Em sua opinião, qual a relação entre arte (ou obra literária) e a política?

Há situações e acontecimentos que me entristecem, machucam no mais profundo do meu ser. Impossível desaperceber-se enquanto sociedade, dos tantos flagelos dos quais quase ninguém escapa. Através das palavras ou da pintura, expresso e transmuto tudo isso, seja em abordagens mais diretas ou subjetivas. Há que deter-se nas entrelinhas mais do que no erguer de bandeiras. A arte é um ato de liberdade que se opõem à negação da vida intensiva e à harmonia da alma.

tt Meus Outros.jpg

11- Em que momento da vida você sentiu... “eu sou escritora”.

Não foi num instante específico, mas no decorrer das publicações dos livros, dos acontecimentos que foram se sucedendo ao longo da minha trajetória literária.

12- Qual é a pergunta que você gostaria de responder e eu não fiz?

Não percebo nenhuma pergunta faltando. Tua entrevista é muito bem conduzida. Sinto-me honrada e agradecida pela oportunidade.

13- Qual é seu próximo projeto literário? Ainda este ano?

Trabalho numa recolha de contos que pretendo transformar em livro. Talvez um romance. Tudo acontece ao seu tempo.

Deixe uma poesia, frase ou fragmento de texto de sua autoria para quem leu esta entrevista fazer uma “degustação”...

Deixo um dos contos do livro “Campos errantes”, Editora Penalux, 2018.

O Homem que nunca era visto

Solenemente, vestiu-se para aquela comédia que um dia fora. Ele desconhecia a cosmogonia cifrada, a inadvertência. Precisava de algo mais substancial para se recolher. Inventar alguma vivacidade. Vinha-lhe à mente um compêndio de raciocínios inglórios. Chegou ao escritório. A inutilidade do corporativismo quis dele o que ele não admitia conceder. Não havia nada ali, além de uma volta para trás. Pensava que a vida existia para a lapidação do ser, ainda que acompanhada de toda sorte de falseamentos e dispersões. Uma aventura exterior, molhado o orgulho, subitamente, o extirpou dos pés, ou o que teriam sido para ele os pés, evidenciando-o no gosto de conhecer as aflições e os sobressaltos, sem qualquer simulacro. As espirais tingidas com seu sangue. Por fim, ele foi visto distanciado das ornamentações humanas, das cientificidades quando se pronunciou rumo ao infinito: “Creio que a Natureza não escolhe o que iluminar; simplesmente atua com seus raios infalíveis. Só o homem cru sabe das diásporas”.

tt Na ternura das horas.jpg

Onde encontrar Tere Tavares?

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E-mail: t.teretavares@gmail.com.br

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Seus livros:

Na Editora Penalux, clique aqui.

Na Editora Patuá, clique aqui.

Os livros que não constam nesses catálogos podem ser adquiridos diretamente com a Tere Tavares. Basta solicitar via e-mail ou pelo seu facebook.

tt Vozes & Recortes.jpg



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Declamação de um poema de Tere Tavares


 

Antonio Torres, meus agradecimentos, caro amigo pelo vídeo e voz emprestada a esse poema, ainda inédito em livro. 

Nem a eternidade é só eternidade

 

Te falta a ternura para as flores

Percebe a semente

Te falta a umidade para a Terra

Percebe o olho d'água

Te faltam olhos para afagar a Lua

Percebe a nuvem descendo os degraus

Te falta doçura para o que é belo

Percebe que podes completar o que te falta

Te falta amor para te dizeres mais suavemente

Percebe o afeto dentro do impossível

Te falta parar no teu ser interno e afagá-lo

Percebe que és tu, agora.

 

Poema BY Tere Tavares 2021.

 

 


 

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Resenha em fotos e vídeo do livro Destinos desdobrados de Tere Tavares

Senti-me lisonjeada com essa leitura da Taynara Leszczynski do meu livro "Destinos Desdobrados". Um livro em que ousei delinear perfis femininos, mulheres lobas, leoas, formigas em correição, a energia que engloba o ser feminino, mas com a amplitude que abarca toda uma sociedade. É isso e algo mais que irá tocar o leitor, seja mulher ou homem. Somos humanidade, e como humanidade havemos de pensar o mundo. Meu abraço e gratidão, Editora Penalux, Wilson Gorj e Tonho França, obrigada a todos(as) leitores(as) que me honram com suas vozes.

https://www.youtube.com/watch?v=VkdY4eEVXiM No link acima acesse a resenha em vídeo.





Adquira seu exemplar pelo site da Penalux:
https://www.editorapenalux.com.br/loja/destinos-desdobrados

E, se preferir adquirir com autógrafo da escritora, envie mensagem no e-mail:
t.teretavares@gmail.com
Ou pelo facebook: 

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Resenha do livro Destinos desdobrados de Tere Tavares - Germina Literatura e Arte Por Krishnamurti Góes dos Anjos

 


Na edição de setembro/2021, saudando a Primavera, a Revista Germina de Literatura & Arte, traz uma bela resenha do meu livro "Destinos desdobrados", feita pelo escritor e crítico literário, Krishnamurti Góes Dos Anjos. Meus agradecimentos Adelaide Do Julinho e equipe pelo presente! Flores para vocês, para todos nós.

Desdobramentos poéticos - Por Krishnamurti Góes dos Anjos

 

É possível conciliar o espírito da poesia com as formas da prosa? Foi pergunta semelhante, mas bastante esclarecedora, que Charles Baudelaire considerado como o responsável por uma guinada decisiva na poesia moderna, dirigiu em carta a um editor de seus textos, ali por volta de 1861: “Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou com o milagre de uma prosa poética, musical sem ritmo e sem rima, bastante maleável e bastante rica em contrastes para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?”.

 

Desde então e, cada vez com mais frequência, os escritores(as) têm produzido uma escrita algo arbitrária, despida de formalidades de composição, e com o espírito próximo da anotação íntima. Parece-nos que um impulso reflexivo serve de meio condutor para despertar imagens e ideias. E temos afinal, uma abordagem ao mesmo tempo lírica e incomodada, atenta às subjetividades e ao mundo ao redor sem, no entanto, deixar de estar relacionada com as qualidades da prosa; por isso mesmo, apresentando tendências voltadas para acolher textos maiores – narrativos ou não –, mesmo que procure fixar um olhar lírico sobre a realidade. As frases e parágrafos acabam por supor uma dinâmica extensiva para o texto e as imagens evocadas.

 

A palavra perde seus contornos unívocos, e torna-se multisignificativa, irradiadora de significados variados. Com o andar da leitura, percebe-se o caráter de prosa desses textos – presente em tênues fios de enredos e nas conjecturas das personagens, interessadas em resgatar fatos e sentimentos que envolvem o fio narrativo. Textos em prosas poéticas que eventualmente, recorrem a figuras típicas da poesia, como a aliteração, a metáfora, a elipse, a sonoridade das frases etc. Contudo, o emprego desses elementos subordina-se ao ritmo mais alongado do discurso.

 

Destinos desdobrados, da escritora e artista plástica Tere Tavares segue tal seara de fortes conotações poéticas embasadas na preocupação com o humano e em refinado trabalho com a linguagem, que permitem considerar os textos como prosa poética. Poéticos porque são textos que não se fecham num sentido único, ao contrário, abrem-se ao final da leitura e apontam para o infinito, para o futuro e para dentro do “eu”. Faz-nos meditar sobre o penoso e solitário trabalho de aperfeiçoamento da consciência individual, conseguido graças à contemplação atenta do mundo e à investigação minuciosa dos submundos que compõem a alma. Trecho do texto “Maria Pedro”:

 

Escrevendo como se falasse, eu lhe permito confiar em dados diferentes, em escalas de conflitos insuperáveis e frases finais. Ensino-lhe a ver a dor maior para que ele sinta a sua dor diminuir. Abasteço-o com arquejos inéditos como um alfabeto infinito, onde cada soluço propõe uma nova música. Ele se entretece nessa leitura como um estudo de concordância às normatividades vibracionais capturadas quando se cola os ouvidos ao chão fechando as pálpebras. Isso supera avaliações de forma ou conteúdo. Eu lhe permito um sinal para outras fronteiras, a interpretação mapeada das catástrofes desconhecidas, das monumentais ideografias que completam a paisagem involuntária da sua própria luz; bastam-me esses voos que evolam de mim por puro deslumbramento”.

 

Se alguns textos se recolhem ao silêncio de confissões envolventes, outros guardam, todavia, uma atitude de provocação libertária, sobretudo naqueles que, de alguma sorte, tocam no sentir feminino e nas tantas e tamanhas violências que as mulheres ainda hoje padecem, e que ao final das contas acabam por se constituir nas “lost voices” do mundo. E isto percebemos já a partir do título da obra que se caracteriza por uma intenção manifesta. Desdobramentos da alma feminina. Percebe-se nitidamente a centelha de inquietação de uma prosa levada ao estado da poesia, mas sem abrir mão do plano narrativo. Verdadeira simbiose entre os gêneros tradicionais. Alquimia entre prosa e poesia.

 

Mas isto também se faz por uma tendência meditativa que vai se acentuando e constituindo linha de força da produção da autora. O pendor reflexivo desdobra-se num leque de muitas faces, afinal. E pode mesmo prescindir da centralidade do sujeito lírico, articulando um ponto de vista que se entremostra oculto sob um fluxo de frases impessoais, e de que são exemplos flagrantes, textos como: “A feminina arte de nascer”, Notas de amor de uma mulher em muitas”, “Hino às obras inversas”, “Deméter”, “Filhos de papel e tinta”, “A arte não conhece o impossível” e “Sobre o filho de José”. Já na segunda parte da obra sob o título de “Outros destinos ou ensaios dos fins” que, dentre outros aspectos, foca no perpassar do tempo em nossas vidas, merecem destaque textos profundamente reflexivos como o são, “Nada precisa ser perfeito”, “Ensaio dos fins”, “Amulherquedesejaser” e “Translúcida”.

 

Para o espírito reflexivo interessam mais as ambiguidades e torções de sentido; são mais adequadas as palavras da ironia, do jogo de contrastes ou da liberdade associativa. Desvios que a linguagem poética produz para se afastar do imaginário comum. Acionado pela força do detalhe ou do objeto, por um ângulo ou por um gesto fortuito, o procedimento reflexivo costuma recorrer aos valores elementares – sensações, sentimentos, percepções –, com o propósito de expressar determinada condição. Qualquer coisa ou ser, têm o poder de estimular os sentidos e produzir entrelace de imagens.

 

Saliente-se finalmente, que a atitude meditativa que prevalece em boa parte dos textos não provoca necessariamente uma depreciação do efeito poético. Ao contrário, essa mesma visão crítica recusa os mecanismos sociais que banalizam a linguagem e continua desejosa de uma expressão outra, em que seja possível uma linguagem pessoal e ao mesmo tempo comprometida com a experiência vivida. Sem dúvida uma atitude geral que tende à uma concepção Holística da vida, uma forma de se ver a si mesmo e de ver o mundo e todos os seres de uma forma global, como um todo, onde tudo está interligado, onde nada é isolado, tudo pulsa simultaneamente, onde o todo está presente em cada parte. Não existe nada desligado, isolado. Uma maneira de ver que cada ser humano está diretamente conectado com todos os seres humanos e com todas as demais coisas do universo.

 

Num mundo que está passando por tão rápidas mudanças em todos os sentidos, seja nos avanços tecnológicos, seja nos costumes e crenças, é de suma importância adquirirmos uma visão ampliada e um entendimento maior da vida. A autora ao caminhar rumo às sombras que existem no interior do ser e que guardam os mistérios primordiais, aposta no profundo poder da arte para transformar o indivíduo e incorporar poesia à vida humana, para que esta se transforme num poema contínuo e numa encantada realidade. Positivamente soube urdir textos que arrebatam o leitor numa torrente de símbolos, imagens e significados.

Krishnamurti Góes dos Anjos

Escritor e Crítico Literário

15/082021

 

 


 


sábado, 18 de setembro de 2021

Publicação de um conto de Tere Tavares - Revista Cultura-e

"Arte, literatura, cinema, música e filosofia no ciberespaço. CULTURA-E. Conhecimento no meio digital. Ao seu alcance". .

Lisonjeada e muito feliz por essa publicação, na maravilhosa Revista Cultura-e. Meus profundos agradecimentos, Thiago Andrade Macedo, por esse presente tão especial. Forte abraço.

Conto "Prece" do livro Campos errantes - contos- Editora Penalux- 2018 Tere Tavares
link para leitura: https://revistaculturae.com.br/prece/?fbclid=IwAR2AdMLJyOT1bmM3iSAWprU6kWTJcwfeti_C3RGvXer92QyjT2kpQHKITnU

Diário dos inícios, novo livro de poesia de Tere Tavares

 

Diário dos inícios, é a publicação de um livro de minha autoria, pela Metanoia Editora, RJ, Selo Mundo Contemporâneo Edições.
Trata-se de uma compilação de poemas e prosas poéticas, frases curtas, sínteses, linhas. Um momento muito feliz e de grande importância para minha vida e minha escrita. Gratidão imensa e irrestrita aos que me acompanharam nesse processo maravilhoso.
Sinopse
Em Diário dos inícios procurei explorar, de forma criativa e inovadora, o universo humano, trazendo à claridade do sentir, aspirações e inquietações, notadamente no momento em que se vive tempos estranhos e doentios em que o perigo é sempre eminente onde quer que estejamos. Trabalhei os textos, [ou seriam ensaios?], com sentimento, força narrativa e imagética, permeando a poética do quotidiano, da metafísica – somos, circunstancial e consubstancialmente seres sociais. Abordo, direta ou subjetivamente, a gama das emoções e vicissitudes humanas, do simples ao profundo, do corriqueiro ao não óbvio, o decorrer inapreensível das horas registrando, através da escrita, a dialética da vida, a filosofia da existência e suas intricadas correlações, conjugando temas diversificados e plurais. Afinal, perante o caos e o cosmos, há que abnegar-se com alguma beleza e reflexão, sobretudo, esmiuçando novos desafios. Pela sua universalidade e abrangência, Diário dos inícios torna-se imprescindível. Apesar dos pesadelos há consciência e há luz. E, há a inevitável permissão à surpresa. Tere Tavares
Confira como adquirir seu exemplar aqui:

sábado, 21 de agosto de 2021

NOVO LIVRO DE CONTOS DE TERE TAVARES - DESTINOS DESDOBRADOS

 

NOVO LIVRO DE CONTOS: DESTINOS DESDOBRADOS
de TERE TAVARES
"Destinos desdobrados": é o meu novo livro de Contos publicado pela Editora Penalux, SP, chegando, agora, ao público. Escrito em tempos estranhos, ambientado no quotidiano, seja em realidade ou imaginação, aporta num horizonte e imagética novos.
Como diz Marcio Sales Saraiva, no prefácio, "O teu destino é ler este livro".

SINOPSE: Não é de hoje que a poeta e artista plástica Tere Tavares vem nos brindando com excelentes trabalhos em que sua poesia e a sua prosa misturam-se com insights filosóficos, existenciais e empíricos. Neste Destinos desdobrados não é diferente, pois há nele tudo isso e algo mais. Uma mística que não é propriamente religiosa, mas investigadora da vida e de suas dobras, do canto dos passarinhos e dos seus silêncios. [...] Tere Tavares sabe que “a alma é a ilustração da mente, do intelecto e da genialidade” e que “a arte deve enxergar na ocultação, no que resta de misterioso”, como em “Aborim”. Por isso seus contos, fragmentos da alma e do mundo como vontade dos deuses e criação dos seres humanos, traduzem pequeninas brechas de acesso ao mistério, sem a pretensão cartesiana de explicá-lo. Então, sozinhos, vamos ler e reler esta obra “como se um floco de frescor pousasse sobre as úmidas concavidades das avencas”. E isso me fez bem demais e eu sei que também te fará muito bem “porque em tempos tão cáusticos, a leitura precisa ser bela”. [Marcio Sales Saraiva]

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Trecho da resenha do livro "Destinos desdobrados" por
Krishnamurti Góes Dos Anjos, escritor e crítico literário:
"Num mundo que está passando por tão rápidas mudanças em todos os sentidos, seja nos avanços tecnológicos, seja nos costumes e crenças, é de suma importância adquirirmos uma visão ampliada e um entendimento maior da vida. A autora ao caminhar rumo às sombras que existem no interior do ser e que guardam os mistérios primordiais, aposta no profundo poder da arte para transformar o indivíduo e incorporar poesia à vida humana, para que esta se transforme num poema continuo e numa encantada realidade. Positivamente soube urdir textos que arrebatam.

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Ficha técnica do livro "Destinos desdobrados":
GÊNERO: contos - FORMATO: 14X21-
ANO: 2021 - PÁGINAS: 226 - Pólen soft 90 gr.
EDITORA PENALUX- SP
Adquirindo diretamente com a autora você recebe seu exemplar com dedicatória e autógrafo.
O valor promocional de lançamento é de R$ 55,00 com frete incluso. Pagamento via PIX.
Contatos in box no meu facebook: https://www.facebook.com/tere.tavares.1/ ou no meu e-mail: t.teretavares@gmail.com Muito obrigada! Tere Tavares