terça-feira, 17 de março de 2015

Dia Mundial da Poesia em Cabo Verde

Uma honra ter sido convidada a participar desse Evento; Ainda que à distância, saber-me lida nesse Sarau Poético é motivo de emoção e alegria. Muito Obrigada aos Organizadores e demais participantes; especialmente ao amigo e escritor Nuno Ferreira Rebocho.

Matéria completa no link:

http://www.africa21online.com/artigo.php?a=11024&e=Cultura

sexta-feira, 13 de março de 2015

Clemente

Pescador ao por do sol - ost- 35x70 - 2009 Tere Tavares
Clemente

O sol sumia por entre as pedras entristecidas. As ondas, como enormes maços de nostalgia, esparramavam-se incansavelmente sobre a imensidão difusa da praia.

Era uma vez um desvairado pairando sobre a vastidão. Atravessou a crueza da sombra e foi ter com os rochedos. Era possível que estivesse num lugar onde provasse toda a sorte de sensações. Seu objetivo era o lado oposto. Lá encontrou ondas maiores e ameaçadoras. Alguém vendia ilusões a cinco reais.

Resolveu retornar ao lugar de onde viera. Sentia-se vigiado. Sequer se lembrava dos seus. No brilho dos finos grãos de areia, como redigidos por uma estrela de meio-dia, lia-se o motivo de cada ser que ali houvesse aportado. Seriam legíveis aos outros os passos que dava na mesma proporção que lhe eram nítidos os rastros dos outros?

O desvairado, contorcido pelas bifurcações do pensamento, almejava estar diante de outro cenário. Mal podia conter o torpor da sua terrível ansiedade. “Deves sentir cada direção escolhida, seja como for”. Aplaudiu ao sinal como quem se agarra ao intransponível. “Terás de sentir também esses ares recém plantados, e os infinitos. Queres? Quem sabe as areias movediças? Não recomendo que te satisfaças tão rapidamente”.

Atendeu sorrindo com a febril consciência de um ponto sem ponto. Provara a todos e a si mesmo – a mente liberta o fazia sentir-se lucidamente fecundo, eufórico. O primeiro nascimento, o segundo viver, o terceiro término. Não lutou contra a canção espiralada no peito. Brincou com os seixos. Guardou alguns búzios. Não se tornaria opaco outra vez. Era como se repartisse a própria vida sobre um tabuleiro interminável, o delírio cinza e sublime – sem perceber a loucura que o acompanharia até o céu.

do livro "Entre as àguas" (prosa 2014)
pintura: "Pescador ao por do sol" - ost- 35x70- 2009 By Tere Tavares 

Contos publicados na Revista Diversos Afins

Na edição número 99, março de 2015, da Revista "Diversos Afins" estou na página
"Dedos de Prosa III" com dois contos: " O Colorista" e  "Sub-reptício".

Agradeço aos "leveiros" Leila Andrade e Fabrício Brandão pela publicação.
A ilustração é da artista plástica Alessandra Bufe Baruque.

Para leitura acessem:


http://diversosafins.com.br/?p=9475

ou

http://diversosafins.com.br/


Bom passeio!