sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Livro Campos errantes - de Tere Tavares


Meu livro "Campos Errantes"- Contos - Editora Penalux, publicado em Dezembro de 2018, continua me dando muitas alegrias e incentivo.
Hoje publico uma leitura que recebi de Francisco da Cunha e Silva Filho:
Campos Errantes
"Os contos me impressionaram muito por dois motivos: a linguagem de uma originalidade rara, e a forma de elaborar histórias sem praticamente enredo do tipo tradicional e linear. É um livro inovador e muito difícil, por conta do refinamento da linguagem que atordoa pela beleza poética e pelo vigor da dimensão de cunho ensaístico, mesclando harmoniosamente ficção, poesia, pensamento filosófico e elementos visíveis de artes afins. É uma obra de muito valor literário, mas com acesso a um nível sofisticado de leitores. Uma parcela muito considerável dos contos, ou senão em todos os contos se estrutura em cima de pensamentos e ideias de viés filosófico. O livro é recheado de citações explícitas e implícitas - formando uma cadeia poderosa de elementos intertextuais. Eu diria que seus contos, vistos pela linguagem em que foram urdidos me dão uma sensação, no seu todo ficcional, de estar lendo poesia da melhor qualidade. A sacada melhor para uma aproximação do entendimento de toda essa complexificcão narrativa seria pelo caminho conjugando os aportes estratégicos da hermenêutica e da filosofia. Toda a leitura das narrativas nele enfeixadas não poderia dispensar o concurso interdisciplinar dada a recorrente natureza opaca do seu texto. Pervade o texto inteiro sob o signo da metanarratividade. Ou seja, nāo se concebe a leitura dos textos sem uma atenção concentrada na trama da linguagem. Toda essa ficcionalidade se constrói tendo os recursos retóricos metalinguísticos e estilísticos numa proposta de literatura ficcional de rupturas de linearidades e simetrias datadas. Para entender sua ficcionalidade é necessário um pacto de captabilidade entre o repertório do leitor e a tentativa de resistir ao caráter da singularidade textual até que alguma cumplicidade possa ser lograda. Vontade tenho de examinar todas as virtualidades disponíveis a um exame rigoroso e com instrumental à altura da magnitude dessas narrativas perturbadoras intelectualmente falando.
Um abraço
e os
parabéns
preliminares a uma leitura que pretendo refazer mais tarde. Abraço, minha estima Tere Tavares".
Francisco da Cunha e Silva Filho
Pós-Doutor em Literatura Comparada (UFRJ). Doutor em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira, UFRJ). Mestre em Literatura Brasileira (UFRJ).
Francisco da Cunha
, toda minha gratidão pela tua leitura e teu olhar. Fraterno abraço.

Para aumentar minha alegria, recebi o comentário da escritora italiana Ornella Dina Mariani, sobre essa postagem que fiz no Facebbok, que vai transcrito abaixo:

Complimenti agli elaboratori di questa analisi della tua prosa, Tereche hanno colto la fragranza del tuo poetare. La tua prosa poetica è davvero colma di filosofia. Ma sono sempre stata convinta che la poesia sia filosofia di vita, che illumina il cammino, pur nascendo da altre fonti che la filosofia che è un ragionare sui perchè della vita. Danno risposte comunque complementari la poesia e la filosofia quasi a combinare un intreccio che forma una unità completa. Un universo intero! Sempre complimenti,Tere. Sai la mia ammirazione per te.

Como é belo receber palavras como essas, de pessoas especiais! Gratidão imensa.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Texto cheio de possibilidades - Tere Tavares

Do que precisamos para decifrar com precisão.

E chamaram vida o que já não era. Naquela manhã desguarnecida a cidade rodeada de anjos impulsionava estranhezas nos quadrantes das janelas. Flora caminhava como a mulher elegante caminha. Portando a leveza que o verão lhe permitia. No perfilar das passagens a sutil particularidade do que não se eliminava antes que adentrasse a escuridão e os rumores acordassem mais intensos como os braços tensos da penumbra. A precipitação que não vinha nem revelaria que tudo poderia definhar.
Texto do livro de ensaios "Na ternura das horas" 2017. Edição da autora.

Sobre esse texto disse o escritor e administrador do grupo "Contos entre paisagens"::
Geovane Fernandes Monteiro, "Texto cheio de possibilidades de investigação, aproximações, erros e acertos, como costumam ser seus textos, 
Tere Tavares
 Um trecho apenas? Bom , eu o li como um todo qual os textos curtos de Marina Colasanti!"

Obrigada pela leitura Geovane Fernandes Monteiro. 

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Resenha ao livro Vozes & Recortes "FLUIDEZ E SENSIBILIDADE EM TERE TAVARES"

 



FLUIDEZ E SENSIBILIDADE EM TERE TAVARES

por Luiz Otávio Oliani*
"O tempo não se rende aos acontecimentos - não existe o tempo certo, senão a incerteza de tudo.”
Tere Tavares, p.35
No prefácio ao livro “Vozes & Recortes”, de Tere Tavares, Guarantiguetá, São Paulo, Penalux, 2015, o poeta e jornalista José Maria Alves Nunes, elenca a prosa da autora como "escrita refinada e instigante". Então, conclui que a contista usa um olhar muito particular, uma janela própria, através da qual escreve sobre o mundo, de forma íntima.
Trata-se de obra sem obviedades e sem verdades absolutas. Segundo o prefaciador, esta última característica é recorrente às obras dos grandes clássicos da literatura mundial.
Os contos de Tere Tavares são imagéticos, metáforas puras. Na abertura do livro, no texto inicial que é "Alma de papel e tinta", a poesia desponta quando "(...) tenho o direito de sonhar. (...) A realidade parece inacreditável", p.15.
Oderp sabia que "A sensatez é o arranhão mais espesso e menos distante da profundidade que a tudo ondeia e unge, "p.17, e que os "livros são como pássaros que (...) sonham vagar indefinidamente pelo céu, esquecidos de se curvarem",p.17.
Assim, a contista imprime poesia pura em seus textos.
Como escrever assim? Como levar metáforas, hipérboles prosopopeias, antíteses, metonímias à prosa, sem que se torne algo inadequado? Se escrever é um dom, Tere Tavares o possui, pois realiza tal tarefa magistralmente.
Geralmente, os contos de Tere Tavares não têm personagens explícitos, como se vê nas narrativas tradicionais. Vez ou outra, um substantivo próprio, uma menção, pois nessa narrativa as elucubrações ou são em primeira pessoa, ou ocorrem por conta de situações, fatos, pensamentos e reflexões.
Aproximada a um estilo de Clarice Lispector e Virgínia Woolf,
Em “Apenas", p.23, a voz que salta da prosa é de um pássaro a viver liberto, sem grades. Em prosa delicada e metafórica, diz que "(...) o tempo é como uma cálida rosa",p.24, e "(...) é preciso saber do solo antes de alcançar a amplitude absoluta do céu", p.24, são exemplos da verve metafórica da autora.
Ao lembrar um fragmento do poema Motivo, de Cecília Meireles, "Não sei se fico / ou passo", canta Tere:"Não diviso se sigo ou me divido. Sou um sol que nasceu no ocaso, na ebriedade de sentir-me leve como as pedras. Queria ser mel ou vinho para não perecer", na abertura do conto "Lentamente", página 49.
A contista humaniza uma personagem, transformando-a em metáforas puras, na página 53: "Maria é a leitura amorfa e diluída entre os muros, os murmúrios, os amores (...) Maria é a razão que não retrocede dos silêncios repercutidos consigo", entre outras passagens.
Desta forma, "Criar e se des-pertencer, sair da zona de conforto, ou de confronto, a formosura tola das coisas",p.83,no conto "Porque é bom ser alado", e é bom ler Tere Tavares.

*LUIZ OTÁVIO OLIANI cursou Letras e Direto. É professor e escritor. Em 2017, a convite de Mariza Sorriso, representou o Brasil no IV EPLP em Lisboa. Participa de mais de 200 livros coletivos. Consta em mais de 600 jornais, revistas e alternativos. Recebeu mais de 100 prêmios. Teve textos traduzidos para inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, holandês e chinês. Publicou 14 livros: 10 de poemas, 3 peças de teatro e o livro de contos “A vida sem disfarces”, Prêmio Nelson Rodrigues, UBE/RJ, 2019. Recebeu o título de “Melhor Autor Apperjiano 2019” pelo conjunto da obra. Em 2020, teve poema publicado nos Estados Unidos da América, na Carolina do Norte, em Chapel Hill, na coletânea internacional “VII Heron Clan”, a convite de Todd Irwin Marshall.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Fortuna Crítica ao Texto "Estro" de Tere Tavares

 

"Estro"
Um Texto de Tere Tavares, publicado a partir do original, na Antologia "A arte pela escrita VIII" ( 2015 - Editora Mosaico de Palavras - Portugal).
Comentário do professor, Francisco da Cunha e Silva Filho, (21.01.20)
O texto inicialmente citado, por si mesmo, indicia o que nos vem pela frente no tocante a um texto maravilhosamente literário, no qual as palavras parecem brotar da infinitude das possibilidade da escrita. A Isso chamaria de originalidade que, na verdade, é um somatório do talento e uma ficcionista com as leituras profundas e variadas em diversos campos do saber humano, inclusive, não podia omitir, do campo da pintura. Esse texto se situa entre uma prece arreligiosa uma passagem (um "morceau", como diria um francês) do que seja um dos sentidos da vida de um(a) escritor(a): viver pela linguagem, a vida, e viver com o amor aos livros e sobretudo pelo devotamento abissal à Literatura tratada com todo o carinho e o "prazer do texto" a ser elaborado por autor(a). escritor(a) de valor inquestionável. Não sou profeta da crítica literária. Todavia, lhe posso afirmar sem medo de quase errar, que V. é verdadeiramente o que se pode chamar de ficcionista, i,e., de uma escritora que cria a sua voz de narrador - fusão do autor com nome de registro em cartório e com um nome que apenas pertence ao domínio da complexidade do gênero literário, ou seja, da conjugação da competência linguística" e da "competência literária," (AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel de. Competência linguística e competência literária - Sobre a possibilidade de uma Poética Gerativa, Coimbra: Livraria Almedina, 1977). Queria me alongar mais neste comentário preliminar. Contudo, apenas renovo um julgamento prévio: seu texto é, reitero, e fusão harmoniosa entre duas modalidades literárias: a prosa e a poesia. Sobre a referencialidade da matéria humana, diria que é só por mero acaso que nascemos com a tendência à criação literária, artística ou científica. Muitos escritores sofrem a influência de seguir a mesma opção do pai ou da mãe, provavelmente pelo mimetismo de um lar, por exemplo, em que o pai ou a mãe são escritores e dispõem de uma boa biblioteca e, além disso, vivem uma infância e adolescência com eles, e, neste caso, é possível haver a eclosão dessa inclinação às mesmas áreas do saber do pai ou da mãe. Retorno, após essa digressão, ao tema nuclear do meu comentário, A beleza do que nos vem de um texto como esse, cara escritora Tere Tavares, - pode-se constatar até por um leitor comum ou médio culturalmente. No mais, tanta coisa a dizer sobre a linguagem lidimamente sonora, como as suas aliterações inconfundíveis e na forma como a sua voz narrativa (autor textual) se desdobra numa espécie de ficcionalidade filosófica. Já para mim é o bastante para consagrá-la como uma escritora brasileira que nos fascina como o faria a leitura de um poema ou de um texto em prosa de um Fernando Pessoa (1888-1935)) ou de um Drummond (1902-1987) e de tantos outros poetas e ficcionistas Meus parabéns! Muito sucesso na sua vidas pessoal e literária.
Francisco da Cunha e Silva Filho
Pós-Doutor em Literatura Comparada (UFRJ). Doutor em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira, UFRJ). Mestre em Literatura Brasileira (UFRJ).


Eis o texto para leitura:
Estro
“Há um Silêncio enorme em nós que nos chama acenando, e a entrada neste Silêncio é o começo de um ensinamento sobre a linguagem do céu. Porque o Silêncio é, em si, uma linguagem de profundidade infinita, mais fácil de entender porque não contém palavras, mais rica em compaixão e em eternidade do que qualquer forma de expressão humana. Não há nada no mundo que se pareça tanto com Deus quanto o Silêncio.” - Mestre Eckhart de Hochheim
Não sei se fecho os olhos reservando-me num ruído onde os casulos não vibram. Sou uma canção que navega impérvia na espessura do limbo, uma erva errante que sucumbe sobre as pedras, isenta da sabedoria das vindimas e dos favos.
A angústia é uma grade invisível, um anseio por gotas e fogo que me desarma. Com esse diminuto par de luas quero silenciar o incêndio, a água, os fins, o eriçar das épocas.
A voz do que amo é um sorriso, um salvamento que se dissipa para desordenar-me. Minha pele é uma canoa que guarda o momento de ser nascente e rio e mar e foz. Algo é brisa e é renúncia e esquecimento ou vício em meus azuis anúncios. Desejo ver na minha nudez a serenidade que cobre a fuga, o jejuar da palavra, a migração das mariposas sem destino. Ou ninguém. Angelical e temporário, persistente como a juventude, como o sol que se recolhe numa pausa sem pálpebras.
Não me dei conta das escalas profusas, das perfurações que se desprendiam numa linha indevassável e quase definitiva, inquirindo-me impiedosamente, onde eu havia perdido o melhor de mim. Onde estive quando não estive comigo?
Arrependo-me, mas não é suficiente... um pássaro sem murmúrios adormece-me o peito, como cios que não se findam, como a sombra que ilumina a estranheza difundida nas pupilas. Porque é o sol que faz girar a flor. Porque os olhos se acostumam com a luz e aceitam a circularidade retornando àquilo que precede e ofusca. Porque é necessário ser todos e nenhum.
Tere Tavares Também falou sobre o texto a escritora italiana Ornella Dina Marinani

(Marinella Dina):

Prosa poetica dell'amica Tere Tavares:

"Non so se è chiudendo gli occhi che mi riservo in un rumore dove i bozzoli non vibrano. Sono una canzone che naviga impervia nello spessore del limbo, un'erba errante che soccombe sulle pietre, esente dalla saggezza delle vendemmia e dai favi. L' angoscia è una griglia invisibile, un desiderio di gocce e fuoco che mi disarma. Con questo piccolo paio di lune voglio tacere l'incendio, l'acqua, i fini, l'ergersi delle epoche.
La voce di ciò che amo è un sorriso, un salvataggio che si dissipa per disordine. La mia pelle è una canoa che decide il momento di essere sorgente, fiume, mare e foce."
Leggete quanta bellezza sa rendere Tere in poche righe. Ogni volta ne rimango colpita. ..è un incessante rimando a qualcosa di simbolico, che mi risuona dentro.