quinta-feira, 30 de julho de 2015

Antologia Poética 29 de Abril O Verso da Violência




Sou uma das escritoras que a integram. Grata aos organizadores (as) e à Editora Patuá pela publicação dessa obra: um protesto poético contra a barbárie que ocorreu na capital do Paraná, Curitiba, contra os educadores(as) nesse fatídico dia. Haja ecos e mudanças.
A palavra serve sempre: parabéns a todos os autores(as) participantes.
Eis a minha participação:



O cardume pressente os bicos das gaivotas
E seu mergulhar inevitável.

Há um pequeno espaço no mar e na Praça Nossa Senhora de Salete.
Há uma fresta no tempo para arrebanhar tudo o que, solitariamente, navega na barbárie.
Um sopro humano sobressai das areias repletas de cestos e barcos,
Como se alguma morte guiasse a todos numa conjunção desordenada
Ou a vida suspirasse numa eternidade fora do homem, do pássaro, do peixe.

A metrópole dorme suas misérias e solidões famintas.
Olha. São filhos sem cadernos e sem livros.
Vertiginosamente flui uma esperança de bosques, uma renovação do ar.

Há tempo bastante nos intermináveis sumiços que se fixam nos olhos de todas as coisas.

As escolas. O vazio sanguinário, petrificado, que nem em pesadelo, se ousa imaginar.

Os barcos ainda estão pescando, e as gaivotas sobrevoam os barcos, e o cardume adormece torturado em estômagos infinitos e hálitos feridos.

Tudo é massacre e máscara para os corpos do espaço que a tudo assistem, incontestes, impunes, inexpugnáveis no seu armamento espúrio e sorrateiro.

O desgoverno.

Olha. Os mandatários sorriem satisfeitos atrás das tristes ramagens das Araucárias.

Ninguém acorda quando está morto ou quando finda uma jornada.

Olha. Os mestres sangram por ter o giz e a voz como únicas ferramentas.

Ninguém se fere se não há fome, se não houver morte, ninguém come.

Melancolias envelhecem e alegrias formam tensões, paixões e amores vestidos de silêncio e claridade. Há fumaça e estrondos afrontando a justiça — que não é justa.

Ainda é noite para quase todos.
Há gotas de tempo para madrugar os que adormeceram rispidamente, como curvas breves e rastros irreconhecíveis. O espaço que se filtra no sangue, como um grande dragão, despedaça o mar e os barcos; e os peixes; e os homens; e as paixões; e a eternidade, como se fossem leves e letais gotas de matilhas infelizes a caçar luzes, vestidos todos do que só se ouve no vento; e na nuvem; e no pó.

O despotismo. E seus asseclas.

Oh grande infelicidade que se vê palpável no entreolhar e no entreouvir — felizes! — das patas e dos pés que, no dia 29 de abril, se tornaram sombras e almas em escombros.

De Santa Perpétua à Mãe Preta — Julio Guerra chora esse descampado dia.
Chora todo o Paraná. Envergonha-se à humilhação.

Já não há amplitudes sobre os ombros dos que clamam pelo salvamento do ensino. Os alvos. Tampouco há derrota. Que derrotado é quem não se sente vivo ainda que tema a morte.

Ouvem todos que não há retorno para além do que se foi.
Somente a audiência infalível que terão consigo e com Deus: de tudo em nome.

Em Sinas
Tere Tavares

poesia
adelaide do julinho + ademir demarchi + adriane garcia + albertina laufer + ale safra + alex dias + alvaro posselt + amanda vital + angel cabeza + antônio lazzuli + assis de mello + beatriz bajo + camillo josé + carla diacov + carlos alberto muzille + carlos eduardo bonfá + carvalho junior + cel bentin + claudio daniel + donny correia + ellen maria + fabiana motta + felipe magnus + fernanda fatureto + gabriel felipe jacomel + geraldo witeze jr. + greta benitez + gustavo petter + helvio campos + homero gomes + ikaRo maxX + isabela romeiro vannucchi + ivan justen santana + josé aloise bahia + josé antônio cavalcanti + jovino machado + jr. bellé + leonardo chioda + líria porto + lisa alves + lívio oliveira + lubi prates + luciana cañete + luiz roberto guedes + maíra ferreira + marcelo adifa + marcelo ariel + marcelo de angelis + marcelo sandmann + marcelo vieira ribeiro + marco aurélio de souza + mariza lourenço + micheliny verunschk + miriam adelman + norma de souza lopes + nuno rau + nydia bonetti + pablo morenno + priscila merizzio + ricardo aleixo + ricardo escudeiro + ricardo silvestrin + robisson albuquerque-sete + ronald augusto + rosane carneiro + samantha abreu + sérgio fantini + silvana guimarães + stefanni marion + tarso de melo + tere tavares + thiago dominoni + thiago ponce de moraes + vasco cavalcante + waldo motta + wender montenegro + william zeytounlian + yuria santamaria pismel + ziul serip

apresentação/antologia
daniel faria

apresentação/depoimentos
célia musilli

depoimentos
alice ruiz + amabilis de jesus + caetano zaganini filho + christine vianna + claudio de assis da cunha + francis de lima aguiar + francisco soares neto + ícaro moura + josé melquíades ursi + rafael kenji kuriyama + sérgio daguano + thiago dominoni

fotografia
brunno covello + lina faria

diagramação/projeto gráfico
bruno palma e silva

colaboração
lubi prates

organização
domenico a. coiro + mar becker + priscila merizzio + silvana guimarães

domingo, 26 de julho de 2015

Livro Entre as Águas na versão E-book




Honrada e agradecida à querida amiga Carmo Vasconcelos e ao amigoHenrique L. Ramalho, pela publicação, na íntegra, da versão ebook do livro "Entre as Águas" (Contos 2011) - Um duplo abraço de cá do Atlântico por esse presente maravilhoso. Para leitura basta acessar o site:
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/Escritores/TERE-TAVARES/TERE.htm

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Verted'ouro

Van Gogh - Flor Jardim - 1888
Verted’ouro

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
(Olavo Bilac)

O sol continua a sumir por entre as pedras, com seus raios quase entristecidos. As ondas se esparramam como anjos incansáveis. A mulher com nome de flor ou de santa tinha a voz intensa, breve, e, principalmente risonha. Assemelhava-se a uma evolução musical de suave atmosfera.  Não bastasse o canto, tinha o encantamento, o pleno exercício do querer, aceitando o que não fora possível mudar. Pensava com o sentimento.

Seria um estado de beatitude elaborada para o inestimável memorial das criaturas iluminadas. Descrevia o que sentia enquanto a outra forma de si mesma escrevia o que pensava. Quando tudo cessava era o mirar do seu pensamento sem olhos, nunca o seu sentir sem palavras. “Fui melhor quando não fui eu”. Constatou ainda com dúvidas que o único meio de obter uma noção, mesmo que mínima sobre o bem e o mal,  é conhecer as lágrimas com a compaixão de quem é capaz de sentir pelo outro o sofrimento e a alegria.

Sua pretensa ingenuidade entrou instantaneamente noutro par de olhos fixos na escuridão.  Gostaria de dizer que não mudara em quase nada e que estava até mais bonita, mais feliz. “Os recados, às vezes, passam sem ruído, nem sempre cegos”, murmurou imaginando que viria do infinito algum elfo para esvaecer a sua hesitante decisão.

Não conteve o impulso de retornar e preencher com delicadeza o que carregaria para sempre no seu importante jardim sem importância.

Ainda que não soubesse, a engenharia das minudências soava como um límpido cristal, permitindo um quase perfeito retrato, à distância, do lugar onde estava. As mudanças invisíveis, enganadas, aparentemente imóveis.  Conduzia palavras como se fossem água e sol, universos autônomos refrescados livremente nas transparências.

Tentava dissuadir o berço de estrelas longínquas – ninguém é capaz de tecer melhor sobre o acaso do que a fugaz eternidade que lhe conferiam, a cada vez que, ingenuamente, as imaginava caladas.

“Com que amor me vive essa porção que me escapa. Sempre soube que a escreveria e seria com a alma que não domino.” Murmurou no passo que dava em direção de si mesma, como se aninhasse um segredo revelador. Na dupla face que a tudo contorna, mesmo veladamente, havia um zelo imprescindível. Os deuses possuem a mesma e inauferível dimensão que passa invariavelmente pelo desejo, à presença de perpetuarem-se no âmago das consciências e revolverem-se na imperfeição do que nunca morre. “Permaneço no outro como sendo o meu árido exterior re-fletido numa solução inevitável. Com a beleza párvoa de não estar em mim.”


Do livro "Entre as Águas" (prosa) 2011 By Tere Tavares

quarta-feira, 15 de julho de 2015

AQUAFÚRIA: UMA ANTOLOGIA DE POETAS SEDENTOS



"Lute pela Água. Lute pela vida".

Organização: Thiago Cervan
Apresentação: Carlos Eduardo Carneiro
Foto da capa: Laura Aidar
Julho de 2015


"AQUAFÚRIA: UMA ANTOLOGIA DE POETAS SEDENTOS"

Foto by Tere Tavares

Da flor das fontes

Que brota num veio

Para assinar-te a sede

E pela sede ensinar-te

Que é da fonte a flor

Incolor e inodora

Que te olha

Que te molha

Que te água.
By Tere Tavares


Confiram as demais participações em:
http://issuu.com/thiagocervan/docs/aquafuria_uma_antologia_de_poetas_s
Download gratuito. Em PDF.

O Poema "Da flor das fontes" também está publicado na Revista Fénix Logos:
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L16/LOGOS16-SET2015-POESIA-65.htm

Publicação na Antologia Fénix Logos Julho 2015

Toda gratidão e apreço à Carmo Vasconcelos e Henrique L. Ramalho pela publicação na Revista Fénix-Logos, Número 15, edição de Julho/2015.
Cumprimentos a todos os autores(as) participantes.
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L15/LOGOS15-JUL2015-TEXTO_22.htm


COMO SABES
"TÍMIDO COMO UMA CRIANÇA. SOU IGNORANTE"
Por Tere Tavares

"O inverossímil em matéria de sentimentos é o sinal mais seguro da verdade."
(Liev Tolstói).

Ao relevo submisso do espelho admitiu sem negações outra de si. Sem expressão de noções ou julgamentos. Sem mágoas ou amarguras, isenta de culpa por talvez destroçar-lhes quaisquer ressentimentos. Alegrou a tristeza no segmento de um objetivo ou de um objeto para tudo o que suportava. Intrometeram-se luminescências que se fecharam abertamente nos florescimentos vindos de fora. E persistiam em diversos murmúrios. Como os dias iguais a todos os dias que ainda submergiam numa loucura feliz. Um acesso exterior e nada para partilhar, apesar do convite – o temor é perdedor assíduo da indiferença – a pior forma de amor que há.
A malha da insônia seria o anzol fosforescente do corpo indefeso. Perto dali morava um cedro cinqüentenário, um canto de corruíra, uma cerejeira onde alguém, com muito zelo, reservara sementes para lhe dar.
Afagou-lhe as pálpebras, os anéis dos cabelos, a face, as formas de pérola. No seu abraço permitiu-lhe o abandono seguro de quem se sente amado. Incondicionalmente. O quarto sempre à sua espera, o quadro de tulipas pousando no coração azulado entre as paredes claras, o ensejo rosado a esperar-lhe o gosto singular, lençóis de algodão perfumados de maciez maternal. Uma ingênua liberdade toldava-lhe a tristeza adormecendo para reconfortar-se no amanhã, com um sorriso corajosamente inesquecível. Sobre uma luz difusa entre singelezas de fogo repetiu como uma canoa flutuante o langor que se perdera numa erva antiga, a cantiga que previa inteira e só por aquela noite a procurara como se soubesse não tê-la. “O inesquecível é o amor que sobra. Para algumas, e só para algumas coisas, que são para sempre.”
Aqueles olhos eram loucos e surdos. E eram também aqueles ouvidos com olhos. Porque há ouvidos cegos e fragores inaudíveis com olhares: E olhos mudos e lábios olhando as profusões invisíveis ao tato. O paladar pênsil do gesto sem lábios. Olhar sápido de olivas. E oliveiras repletas de retinas tocando o sol com brumas, com mãos de vinho... “que misteriosos olfatos escondeis além de vós? Precisarei de todos os sentidos ao mesmo tempo.” Ouviu um perfume qualquer que seu coração reconheceu, tocou-o de forma irreversível na escuridão, na proximidade ausente do momento que a prendia até que surgissem os delineamentos de consciência e subconsciência, o desconhecido perguntando se poderia resumir-se. Não com uma resposta qualquer. Tampouco com o retrocesso.
Sobrava-lhe o nada para expressar o mínimo, e não expor estranhamentos a caberem uns dentro dos outros – primaveras com floradas de gelo, verões sendo outonos mornos, invernos de calor a nevar no tropeço das nuvens. As oliveiras misturadas aos sândalos e madressilvas. Flores de laranjeira deslizando pelo tempo, entre as asas dos melros... um mero truque da imaginação, a memória talvez nem sua que se seguia por séculos.
E desse olfato surdo vê a completude indefinida em fractais. Nem tão abstratos assim, a imaginação do gosto lhe saliva a boca. “Não se lembrem de Pavlov. Houve uma vez em que me dei sais. Depois açúcares. Não há nada ou ...talvez alguma coisa aja fora de mim. Vejo novamente quando ouço e novamente toco quando olho. Outra vez me ouço quando degusto. E novamente me alimento quando tudo se mistura nesse inesgotável recurso de meia-estação.”
Multiplicou-se com rebeldia e graça por todas as frações da luz – no colo do ar e do tempo, como as areias juvenis... fecundando-se indefinidamente em oceanos pautados por um eco outro, do outro lado. O lado de dentro.

(do meu livro "Entre as Águas" publicado em 2011)

Tere Tavares
Cascavel - Paraná, Brasil
http://m-eusoutros.blogspot.com.br/

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Trânsfuga

Foto By Tere Tavares

Trânsfuga

No infinito das folhas, nas sombras, não sei de ti as arestas acesas, conversas entre amigos sobre a razão de viver, tu, o rosto torturado e perdido por detrás do nariz, espreguiças sinais de fogo à camilha, o algarismo que temos no intelecto, como objeto.

Cupidos dorminhocos acordam ao teu lado amores de papel, a tentação, como diria a réplica menos indigna e sem convicções, deitas por terra um ferimento profundo, uma acha de zelo para o que míngua.

O homem de casaco amarelo engana os tolos, as novas maneiras de ver se houve Adão ou Eva, ateístas controversos, metrópoles de caos e técnica, como se mestres morressem a cada segundo. 

Enquanto quase me ajoelho – às vezes pecas e nem desces do salto – não sei se devo agradecer, longe de mim, gosto, não gosto, é assim que eu fico, baba de caracol, borboleta adestrada. Porque morta. Como esse escorpião que trazes amarrado.

do livro "Entre as Águas" (2011) By Tere Tavares



quarta-feira, 1 de julho de 2015

Minha participação na Revista Soletras

Honrada e agradecida à Revista Soletras  e, em especial, ao escritor Lino Mukurruza 
pela iniciativa de propor-me essa entrevista. que consta nas páginas 7 e 8 da " Revista Soletras" edição de junho de 2015. Segue aqui: 

Ela é brasileira, pintora, escritora e, acima de tudo, autodidacta. Formou-se em literatura por gosto e prática e publicou o seu “Flor essência” – um livro naturalista, a avaliar pela forma nostálgica como os elementos da Natureza são percepcionados pelo sujeito poético. Alias, há uma espécie de cumplicidade entre a autora e o meio, tanto que se confunde o sujeito da escrita: se o meio, se a autora ou ambos. Chama-se nada mais nada menos que Tere Tavares, autora com quem mantivemos uma conversa, a qual lhe apresentamos a seguir.

Soletras: Como é que entra para a escrita? Há alguma influência particular para tal?

Tere: Não há uma exactidão quanto aos começos. Porém, desde a infância me sentia atraída pelos livros; cheguei a ganhar alguns concursos de redacção na escola. A escrita em si, repousava em outras exigências e, entre um e outro intervalo, ganhava substância. De muito gostar, ler e observar, nasceram os primeiros poemas, em distintos períodos. Quanto às influências, gosto de muitos autores, como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Macedônio Fernandez, Roa Bastos, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, Marcel Proust, Eduardo Lacerda, Demetrios Galvão, Marco Aqueiva, Cora Coralina, Clarice Lispector, Robert Musil, Marcelo Novaes... a lista é longa, mas encurto o caminho, dizendo que caminhei por entre inúmeros autores e autoras, dos clássicos aos contemporâneos, de que gosto muito. Perfazendo um somatório ao que possuo de vicissitudes, cheguei, digamos, até um ponto que não tem um término, visto que, é constante o buscar e o experimentar.

Soletras: O que representa a escrita para si?

Tere: A princípio, vejo-a como uma necessidade de comunicação, uma forma de expressão do pensamento e das ideias. Um aprofundar-se numa fonte de vida intensa e repleta. Um modo peculiar de entendimento e autoconhecimento. Um encontro comigo mesma e com os outros. Não pretendo representar nada que vá além do que os meus leitores possam extrair da minha escrita.

Soletras: Na sua poética, notamo-la tão próxima à Natureza (amor íntimo a residir em si), temática nova não diríamos, diferente sim! Quer comentar?

Tere: Amo a Na t u r e z a . E quando escrevo, de algum modo, a Natureza também escreve: como se tivéssemos um pacto. Respeito muito isso.

Soletras: Fala de pássaros como fosse uma ave, alguma canção para os pássa-ros, as flores, as águas e o intimo e/ou mar?

Tere: A vida é um voo, um mar, um jardim, uma canção. As notas dessa múltipla partitura se diversificam para unirem-se num grande mosaico de palavras, onde todas as formas de vida se perfilam, dançam e confluem.

Soletras: Lidos alguns dos seus livros, sentimos algumas umas proximidades neles: a mesma fluidez, sobretudo na descrição, quer na poesia como na prosa (muita imagem, técnica impar, criação individual). Algum segredo nisso?

Tere: A criação decorre dos sentires e visões que vou percebendo ao meu redor. Sou artista plástica, talvez, advenha disso uma certa habilidade de pintar com as palavras. No mais é tudo fluência criativa sem segredos nem artifícios.

Soletras: Pode partilhar a sua experiência de ser escritora?

Tere: No fundo, eu ainda não me sinto totalmente madura como Escritora. A Literatura requer estudos constantes, viagens noutros e diversos mundos que vão para além das perspectivas, perpassando o próprio ser. Sigo experienciando. Sem ater-me a cânones, academicismos ou técnicas. Simplesmente escrevo pelo prazer de escrever.

Soletras: Sente-se na sua poética uma semelhança técnica (descrição), quando comparada com a de Núria Masot (em “A sombra do templário”). É uma simples coincidência?

Tere: Confesso que desconheço, pelo menos até ver o nome nessa pergunta, a escritora Núria Masot, seu livro e sua técnica. Tenho certeza então que se trata de coincidência, até por que não me atenho, como afirmei na pergunta anterior, a qualquer técnica pré-estabelecida.

Soletras: Como é que olha o mundo através da escrita?

Tere: Como uma forma de ampliar horizontes e conhecimentos. Com abrangências múltiplas e amplitudes inimagináveis. Com limitações também, vezes inúmeras. Há momentos em que penso serem os olhos do mundo que me apanham e me dão palavras. Escrever alarga o meu mundo e a minha vida. Lanço-me então nessa busca contínua e incansável.

Soletras: “Há no livro muitos outros segredos nos convidando a serem explorados com cuidado…” (diz o prefaciador do seu Flor Essência). Quais são esses segredos?

Tere: Digamos que há fios de invisibilidade em cada linha que se lê, independentemente de quem a escreveu ou escreve. Não há nada de intencional nisso, como também, e não há como negar, que existe a pluralidade na sintaxe, um quê de subjectividade que se propõem às aberturas do pensamento: eu não chamaria isso de segredo ou mistério, mas antes de pistas, de insights e signos justapostos a formarem um conjunto no qual o leitor dirá de si mesmo. ante a leitura que o captura justamente por esses fios, não sobrando mais nada ao escritor.

Soletras: Você tem entrado em contacto com alguns livros de autores moçambicanos. Quais? Pode comentar essa experiência?

Tere: Conheço algo da escrita do jovem Lino Mukurruza, versos auspiciosos que li no Facebook, no qual reconheço um grande potencial literário, notadamente na sua poesia. Posso dizer que é um trabalho de alto nível, muito promissor. Através de Lino Mukurruza, também conheci a “Revista Soletras” edição em PDF, onde li o José Craveirinha, um grande poeta moçambicano.
Posso dizer que essa experiência é, para além de enriquecedora, uma grande abertura de horizontes. É imenso saber-se lido e ler escritores de outros continentes. Uma prova a mais de que a arte, essencialmente a Literatura, não conhece fronteiras.

Soletras: Há muitos autores moçambicanos, sobretudo jovens, que vêem no Brasil uma oportunidade para se lançarem na escrita. É realista esta percepção?

Tere: As oportunidades existem, sempre, para todos. Galgá-las, porém, materializando um ideal ou um objectivo, é outra questão. Se houver qualidade, persistência, esforço e um pouco de sorte vejo que é muito possível a esses jovens autores realizarem seus sonhos e virem a ser publicados não apenas no Brasil, mas em outros países lusófonos.

Lino Mukurruza

(Moçambique) Lino Mukurruza (pseud.). Lino Sousa Mucuruza, moçambicano. Publicou “Vontades de partir & outros desejos” – Poesia. (FUNDAC, 2014), “Almas em tácitas” – Poesia (LUA DE MARFIM, 2015) Colabora em diversas revistas, nacionais e internacionais, só para destacar algumas: (“PIRÂMIDE”, “SOLETRAS”, “LITERATAS”, “CORREIO DA PALAVRA” – Revista da ALPAS 21, “XITENDE”, “SINESTESIA” Caderno literário “PRAGMATHA” entre outras). Consta nas antologias poéticas “CLEPSYDRA” – Coordenada pela poeta Gisela M. Gracias Ramos Rosa - (COISAS DE LER, 2014), “À FLOR DA ALMA” – Coordenada pela poeta Sandra Ferrari Radich Fresa - (SOL, 2014) “Vozes do Hiterland” (Letras de Angola, 2014), “PREMONIÇÕES” – (LUA DE MARFIM, 2015), “POEMA-ME” (LUA DE MARFIM, 2015), “POESIA DE PINTAR E SER FELIZ” (LUA DE MARFIM, 2015) na 12 Volume da antologia “LOGOS” (Janeiro, Fevereiro 2015), foi vencedor mencionado e participa na antologia do XXX prémio mundial de poesia “NÓSSIDE” 2014. Vencedor em segundo lugar do 2º Concurso de Literatura da Academia de Letras, Artes Ciências de Brasil (ALACIB). Vencedor em 3º lugar do concurso internacional de literatura ALPAS 21 “a palavra do século” (Brasil, 2015). Actualmente cursa Português na Faculdade de Ciência da Linguagem, Comunicação & Arte da Universidade Pedagógica (Niassa) igualmente membro de direcção (tesoureiro) do Clube de Escritores Poetas & Amigos de Niassa (CEPAN).

Para leitura da revista na íntegra, em PDF, basta clicar no link a seguir:


https://www.dropbox.com/s/2yez527wsyk7wmg/SOLETRAS%20JUNHO%20DE%202015.pdf?dl=0