quarta-feira, 13 de março de 2024

Texto - Clemente - do livro Entre as águas- Tere Tavares - Fortuna Crítica

 

                                    Arte:Tere Tavares - Pescador ao pôr do sol.


Clemente

O sol sumia por entre as pedras entristecidas. As ondas, como enormes maços de nostalgia, esparramavam-se incansavelmente sobre a imensidão difusa da praia.

Era uma vez um desvairado pairando sobre a vastidão. Atravessou a crueza da sombra e foi ter com os rochedos. Era possível que estivesse num lugar onde provasse toda a sorte de sensações. Seu objetivo era o lado oposto. Lá encontrou ondas maiores e ameaçadoras. Alguém vendia ilusões a cinco reais.

Resolveu retornar ao lugar de onde viera. Sentia-se vigiado. Sequer se lembrava dos seus. No brilho dos finos grãos de areia, como redigidos por uma estrela de meio-dia, lia-se o motivo de cada ser que ali houvesse aportado. Seriam legíveis aos outros os passos que dava na mesma proporção que lhe eram nítidos os rastros dos outros?

O desvairado, contorcido pelas bifurcações do pensamento, almejava estar diante de outro cenário.  Mal podia conter o torpor da sua terrível ansiedade. “Deves sentir cada direção escolhida, seja como for”. Aplaudiu ao sinal como quem se agarra ao intransponível. “Terás de sentir também esses ares recém-plantados, e os infinitos. Queres? Quem sabe as areias movediças? Não recomendo que te satisfaças tão rapidamente”.

Atendeu sorrindo com a febril consciência de um ponto sem ponto. Provara a todos e a si mesmo – a mente liberta o fazia sentir-se lucidamente fecundo, eufórico. O primeiro nascimento, o segundo viver, o terceiro término. Não lutou contra a canção espiralada no peito. Brincou com os seixos. Guardou alguns búzios. Não se tornaria opaco outra vez. Era como se repartisse a própria vida sobre um tabuleiro interminável, o delírio cinza e sublime – sem perceber a loucura que o acompanharia até o céu. 

Tere Tavares, livro Entre as águas, Contos, 2011.

 

Francisco Da Cunha

Texto belíssimo tanto nas descrições quanto na narração.Antes de tudo, é um texto lírico entre contrastes e alegiras UM texto em que os eleitos inanimados se ani.izam ao mês.o tempo,realizando uma simbiose de beleza de pensa.entos saudáveis a alusões não bem aceitas pela voz narrativa.

A narrativa é de terceira pessoa, mas as frases da enunciação aspeadas parecem ser como se fossem orientações conduzidas pelo narrador de terceira pessoa. A linguagem da autora, através do discurso tanto do narrado quanto do que ouve um personagem interlocutor, por vezes, dá a impressão de que que são uma mesma personagem transitando do discurso do enunciado para o discurso da enunciação. Essa é uma estratégia da autora para lidar com a complexidade da história que é transmitida a nós, leitores. O mais intrigante ou instigando é que a disjunção do narrador de terceira pessoa com o discurso do narrador da enunciação, se causam embaraços de vozes narrativas, ela, a disjunção é compensada pelo todo do texto em si. Que dirigimos nosso olhar para as ideias e pensamentos do texto. É nesse ponto que o tema de alguém determinado a atravessar para um outro lado pelo que o texto diz ou oculta torna a história de alguém muito palatável e atraída a amar a continuidade na leitura dessa narrativa, como disse, permeada pelo lirismo, pela poeticidade textual. No discurso narrativo, no chamado "récit”, o ponto mais elevado da comunicação literária se faz graças ao poder e magia encantaria da linguagem que desliza suavemente, por assim dizer, na realidade entendida no plano individual pelo recurso do lirismo envolvente e pelas ideias transmitidas através de dois espaços literários: o da ida e o do regresso. Penso que ler uma narrativa de Tere Tavares é adentrar no reino da poesia de mãos dadas com a prosa. Ler essa autora é predispor-se a enfrentar a magia, a fábula, a indeterminação, o domínio do oráculo, ou, por outras palavras, a entidade pelo espelho de Carroll. Enfim, é penetrar na desautomizaçâo exigida como um vetor sofisticado do sublime poético.

 By Francisco da Cunha e Silva Filho, RJ

Geovane Fernandes Monteiro

Encantador seu texto, Tere! Consegue com maestria conduzir o leitor a soltar as mãos e abrir os olhos diante da linha malabarista da boa e confiável literatura. Havemos de cair? Eis a responsabilidade que o texto de Tere Tavares nos possibilita.

Giovanni Francomacaro - Itália.

Dipinto stupendo! E Stupendo anche il brano. Non so spiegarti perché ma nel Folle , pellegrino, ho visto l'anima femminile. La follia appartiene a chi non sa dove si trova e dove andare. Il tuo folle ha in se la sua meta: l'inferno e il paradiso, il cielo e la terra, e l'abbraccio del mare che tutto sublima. Clemente è una Donna.

Tradução by Tere Tavares: Pintura incrível! Estupenda também a canção. Não consigo explicar porquê, mas na Loucura, peregrinação, vi a alma feminina. A loucura pertence àqueles que não sabem onde estão e para onde ir. Sua loucura tem seu objetivo: inferno e céu, céu e terra, e o abraço do mar que tudo sublima. Clemente é uma mulher.

In facebbok em 12 03 24
lhttps://www.facebook.com/tere.tavares.1/posts/pfbid08LhJDK6Fc6Z66ZrUTb8Nag8wFqGaP1UXU6EFQScDinUwuco2jjRis96Q5CXy7edml


terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Odara - Conto de Tere Tavares - Coletânea "A arte pela escrita IV", PT - Fortuna crítica

 Odara

Matura-se em fases tão irresignáveis quanto é certa a sutileza das mudanças, sendo invariavelmente o resultado do que imagina sem evidenciar o que aparenta ao olhar alheio – um desabafo pretérito e inescrutável.
Às vezes pensa em enviar-lhe o último sentimento que o navegou, o passeio que reescrevera no ontem. Lembra-se das coisas que, quase inconfessavelmente, lhe confessou. Conhece-a talvez mais profundo do que alguém que tenha convivido consigo, entretanto, é tão triste perceber que jamais lhe dirá que um dia a percorreu, quanto mais que esteve tão próximo do seu amor, que foi lancinante a voz da razão a retorná-lo, quiçá, a um porto seguro – aprendera com o tempo e guarda isso para sempre – é grato por cada palavra que não trocaram, por cada devaneio que, mesmo agora, ao rebuliço de lembrar-lhe o sorriso, se avizinha dele, na mente, na pele.
No alto do seu quinhão de vida nunca perdeu a importância, como se reconhecesse entre todos os anônimos uma alma similar à dele, à curiosidade, à inquietude que, mesmo madura, ainda o habita – e como reconheceria a si mesmo no que desejava se assim não fosse? Fora tão pudico, fora como é, tanta a demora, a fugacidade de estar naquele lugar, naquele dorso irresponsável. E se pergunta sem encontrar resposta ou repelindo-a: porque algo tão breve fora suficiente para impregnar-lhe o resto de todos os seus dias?
Ainda não conhece toda a química com que foi feito. Fora do seu espaço há outros espaços que o incitam indefinidamente à busca. Como não identificar-se no que explora, como sendo ele próprio a descobrir-se? Do contrário, como nasceriam, quanto se tatuariam de si os ocasos do mundo?
Nas linhas cujo espelho inevitavelmente o reflete, não é possível refletir – suspenso como um ponto hesita entre ser sensato ou enlouquecer. Percebe que as margens jamais se encontram e, talvez por isso, permaneçam inseparáveis singrando, indeléveis, o placentário espaço de onde tudo surge.
Com deuses bons e maus a lhe agarrarem o pensamento confia nas palavras como alguma coisa que não degenera. “Mesmo que o amanhã não surja não será por que o mataste, mas por que terás morrido antes que ele chegasse”.
Ouve de um Sadhu que a verdade não supera a busca pela verdade. E que belas sílabas sibilam por entre os minutos esculpidos de sua presença. Vê-se como um anjo azul que se recusa a cair, um velho cancioneiro que ainda é juventude.
Texto: Tere Tavares publicado na Coletânea "A arte pela escrita quatro" (2014),
Mosaico de Palavras Editora, e EscriitArtes.- Portugal -PT Fortuna Crítica:

Marinella Dina: Solo tu hai questo potere di descrivere queste sottigliezze dell'anima che rendi così flessuose, lineari, che le vediamo anche noi con i nostri occhi. " Si rende conto che i margini non si incontrano mai e, forse, per questo, rimangono inseparabili singendo, indelebili, il placentario spazio da cui tutto sorge." C'è molta filosofia in ciò che scrivi, nascosta negli anfratti. "il pensiero si affida alle parole come qualcosa che non degenera." C'è l'uomo, la donna, che descrivi nel suo andare nel mondo, viandante, che ci pare amico perchè lo riconosciamo come amico, amica, come noi stessi siamo. Ogni volta rinnovo il piacere della scrittura che accarezza l'anima... prosa poetica d'altissimo 
livello. 

Carlos Ricardo Soares
Sempre gratificante e inspirador ler e pousar os sentidos sobre as possibilidades das palavras que escreves como se as inscrevesses com um estilete na superfície de barro do mundo, e tacteá-las com os olhos.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

TEXTO: "Minah" -do livro de contos "CAMPOS ERRANTES' - 2018 - Tere Tavares - Com fortuna Crítica

 Minah

Hoje se cumpre algo mais que uma razão para sorrir um vento mínimo que se instala na garganta e alcança os pulmões adoecidos de uma alegria quase incandescente. Ardoroso é o torpor que lhe sai pelas narinas de um tempo tenro e terno como quando havia idades pequenas para segredar a orfandade não se sabe por que pacto reza ou culpa. Os afinados esmeros do trajeto, sem ordem alguma, debulham-se como finas e longas pernas de ave, como se beijassem seu futuro, ainda sem forma e sem lágrima, por que oculto nas ondas proibidas pela febre e pelo ar pegajoso, rijo como uma pedra que lhe cai sobre os cabelos de ouro, deixando-lhe o contraste de uma paz nunca escrita – a órbita a cada guerra. Há quem de si tenha saudade. Aquela de ter sido. E de ter-se ido. A respiração sem angústia seguindo-se nos entretantos, serenando-se em toda a ação que foi olvido, armadura.
“Tudo muda no pouco que me alcança com um capricho silente, casto. Pertenço a essa inescapável condição humana que, por ser excessiva, é quase nula. Só os ossos sabem sobrar nessa estrutura amarga. Quero distanciar-me do diz-me o que não és para que eu diga o que nunca sou ou fui – como essa habitação que se salvou das explosões. Quero uma gota de água que deixe os lilases menos cordatos. Quero esperar tranquilamente pelas espáduas setembrinas e pelas estrelas inconsumíveis enquanto regresso à casa das rotulações inclinadas. É o sabor da novidade que espreito nas diferenças que sobejam entre a sabotagem e o jogo. A palavra ausente de impurezas”.
Minah inebria-se. Consumição acima dos rios ainda não conhecidos pelos mastros dos navios. Rabisca um firmamento particular, um planeta novo, um coração intocado, sem ser a inapta atitude da servidão. Colhe o arpejo, recolhendo-se como uma ostra. Por mais que ela se esforce, só diz que não encontra forma de dizer onde termina a sensibilidade – esse precioso sentimento que perfaz a grandeza de ensinar e aprender. Finalmente, se prostra por ser pequena, e quão pequena, para suportar a enormidade. Que a passagem sabe-a infinita, sofrida, assustadiça, mas também salvadora. Porque os olhos nunca se calam nem abafam o canto.
do livro "Campos errantes" contos -Editora Penalux, SP - 2018 by Tere Tavares. Fortuna Crítica:

Francisco Da Cunha
SUA NARRATIVA TEM ALGO QUE ME INSTIGA A DESCOBRIR COMO ANLISTA DE TEXTOS LITERÁRIOS. É TODO UM SENTIDO DE HUMANIDADE QUE DAS PALAVRAS ESTRUTURADAS EM FRASES SÓ PODERIAM SER AUSCULTADAS PELA VIA POÉTICA OU FILOSÓFICA, POIS PASSAMOS DA IMANÊNCIA TEXTUAL AO VALOR ONTOLÓGICO. FRUI-SE MAIS LINGUAGEM (À MANEIRA DOS SIMBOLISMO) DO QUE PROPRIAMENTE A PROCURA DO ENREDO TRADICIONAL DA FICÇÃO CANÔNICA, POSTO QUE DESTA PERCEBEMOS RESSONÂNCIAS. O SEU TEXTO NARRATIVO SERIA MELHOR CAPTADO PELOS MEANDRO DO VEIO LÍRICO, DA SUBJETIVIDADE EM CLAVE MAIOR. FRUI-SE O QUE SEJA HUMANO, LÍRICO, POÉTICO, PORTANTO. MAS TAMBÉM NÃO SE PERDE DE TODO A COMUICAÇÃO DE SENTIMENTOS MULTIFACETADOS QUE A SONDAGEM MAIS PROFUNDA TERIA QUE INVESTIGAR. VEJO, OUTROSSIM, QUE O TEXTO FICCIONAL REFLETE ENQUADRAMENTOS DA PINTURA. DA FOTOGRAFIA. DA ESCULTURA.TRATA-SEM COMO NARRATVIDADE DE UM TEXTO ELABORADO SOB A POTENCIALIDADE DE UM LIRISMO INOVADOR. NO QUAL A LINGUAAEM LITERÁRIA É O PILAR MAIS SÓLIDO E FUNDAMENTAL. 
FRANCISCO DA CUNHA E SILVA FILHO - 12. 01. 2024

Arte: Tere Tavares


segunda-feira, 12 de junho de 2023

Poema do livro Diário dos inícios - de Tere Tavares - Fortuna crítica

 

       Livro Diário dos inícios - poesia- 2021- Matanoia Editora, RJ
              https://loja.metanoiaeditora.com/diario-dos-inicios
                                                                     Foto: Tere Tavares


Impasse
Talvez ouçam as súplicas de um sonho enorme
Que não cabe na casa
A luz asperge sons. Nada arrefece a sensação de pânico.
A face é pequena para esses embaçamentos frios
É outro o sabor das luas minguantes.
Nenhuma folhagem entre ir e vir
Sobra rigidez entre solo e água
Entre vidro e madeira.
Casa sem curva. Desvalimento.
Antes de tudo: o Lar.
******


Fortuna crítica:

Marinella Dina
Lasci sempre dentro chi ti legge un senso di appartenenza, un suono poetico che si fa sigla, impronta comune a tutta l'umanità. Pochi riescono come te a uscire dal limite della propria personalità e a rendere il linguaggio accessibile universalmente, Non mi stupisco ma mi rallegro che molti si siano accorti della tua speciale poetica. Universale. Pulita, accorta. Un forte abbraccio e sempre grazia.

Angela Fagundes
"É outro o sabor das luas minguantes" As frutas são mais doces, mas a ideia de "minguar" acho que leva às lágrimas... Amiga querida, amo a sabedoria que você trabalha seus poemas.

Raquel Gallego
Simple, profunda y conmovedora como las pequeñas grandes cosas cotidianas.Gracias.

Adir Luz Almeida
Tere Tavares , suave como um pequeno punhal. Adorei, como adoro o seu estilo, muito próprio, de escrever. A imagem só atinge em cheio. 

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Poema no hall de entrada do Teatro Sefrin Filho de Cascavel, PR

 O contraste.

Ou seria tudo invisível.

Branco demais.
Tere Tavares, do livro Diário dos inícios, Metanoia Editora, Selo Mundo Contemporâneo Edições, RJ, Segunda Edição, 2021. Esse poema, foi impresso e está colocado, na entrada do Teatro Municipal Sefrin Filho, de Cascavel, PR, cidade onde moro,. Motivo de muita alegria, a certeza de que, tudo o que é semeado com amor, germina. Obrigada à Secretaria da Cultura de Cascavel e seus dirigentes. Agradecimentos a Academia Cascavelense de Letras.





Três momentos para guardar na memória e coração


Três momentos, três acontecimentos para guardar na memória e no coração:
1) Participação na exposição de poemas, "Delas e para Elas", alusivo ao 08 de março de 2023, juntamente com demais mulheres integrantes da ACL, na Feira do Teatro.
2) Poemas de mulheres cascavelenses, enfeitando as escadarias do Teatro Municipal Sefrin Filho de Cascavel, PR, em 2022 e 2023.
3) Poemas de autoria de mulheres, expostos nas escadarias do Paço das Artes, de Cascavel, PR, por ocasião do evento alusivo ao dia da Mulher em Março de 2023.
Nossa gratidão expressa a todos e todas que se envolveram nesses eventos e trabalhos engrandecendo a Literatura e a Cultura que se faz em Cascavel. Daqui para o mundo é só um segundo!
Colher vem depois do plantio!






Exposição Feira do Teatro - Dia da Mulher- 2023

Poema na escadaria do Teatro Municipal Sefrin Filho - 2022 e 2023

Poema na escadaria do Paço das Artes- Dia da Mulher - 2023


 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Texto de Tere Tavares com fortuna crítica

 Pré-agonia

Não importava o que fizesse. Não agradava. Grudava-se no seu aperfeiçoamento por que sentia um enorme prazer nisso. Era o que lhe importava.
Aquela iníqua aldrava não se negava à Andarilha de quatro trilhas e mil inteiros. Faria de efervescências os seus canteiros e de silêncios cônscios os reinícios, os bons vícios de que desfrutava sem tornar-se um Lama ou uma Madre Teresa.
Mas Quase. Por calar-se e submeter-se aos grandes ventos dobrando-se, se preciso fosse, até rente ao chão. Ouve de Alguém: “Escapar. Sem fugir. Somente escapar Andarilha”.
O Quase lhe ardia feito um copo de vinho vindo dos barris que continham os rastros dos Pisadores que, com gosto, esmagaram as bagas arroxeadas e negras; os Pisadores que, do fruto dos próprios pés, nunca conheceriam o sabor de um belo gole – pois que furtado anteriormente à safra – os Pisadores que seriam, pelo Quase, engolidos como uma superabundância frustrada.
Andarilha, ainda no Quase e no seu Agradar embriagava-se bravia e refratária. Escoava-se como um cêntimo dos poemas de São João da Cruz: “Não posso prometer que virei e, quando venho, sou sem duração, sem aviso e nunca sozinha. Creiam-me. Não pendo dessa ferrugem, nem desse erro grudado na minha garganta. Porque o Tempo”.
Quanto mais a noite prosseguia e a lua se anunciava, mais pronunciada tornava-se a sua memória, mais febril e frágil era a mina d’água que o agora lhe negava, guardando-se para quando findasse o vácuo, o desterro de sabê-la exilada da Terra. Diz-lhe outro Alguém, num insolvente obséquio, como se ressuscitasse a cada sílaba e sufocasse, do início até o final um sinto muito: “Esses nódulos espalhados pelo corpo, das palmas das mãos à planta dos pés, esses que com o mínimo pronunciamento reavivam-se, recidivos, são todos os nãos que deixaram e deixam de serem ditos. São esses nódulos que, irremediável e invisivelmente, nos curam. Só quando atravessamos o negrume estamos prontos para abraçar a claridade. O tempo humano não é o mesmo de Deus. Minha Menina. Sinto muito”.
Andarilha aprenderia sem, contudo, deixar de apreender, como se não lhe importassem as desculpas que o Mundo, insubmisso, lhe pedia. Seguiria no contrassenso da Garra, como um Gato aguçado pela essência de um Leão, discordando da máxima de Kafka: "Há esperanças, só não para nós".
“Todo nó tem o viés e o revés reavivado no Verde. Nós também. A luz só é importante porque a escuridão é necessária. Por isso me chamo Andarilha. Nada, além disso, me representa ou me precede com tamanha exatidão”.
do livro de contos A LICITUDE DOS OLHOS Penalux- 2016 Francisco da Cunha
É um trecho do livro "A licitude dos olhos" do qual li alguns outros trechos, mas não a totalidade, tarefa para depois. Entretanto, há algo que me intriga sempre nesses textos da Tere Tavares, algo cifrados, com muita simbologia, tanto de nomes patronímicos quanto de nomes de outra natureza animal ou não. O texto corre, e rápido, no ritmo desnorteante, num quase alucinação. O "entrecho" mal se percebe ( mas o há) nos faz pensar em coisas como um voz oracular com construções sentenciosas, aforismos, máximas etc., um desconcerto de caminhos e saídas na narrativa com tendência a citações que indiciam autores de primeira linha da literatura universal. Está-se diante de um texto com estrutura complexa, enviesada, apontando para direções várias no tempo, no espaço e na condição existencial. Sua hermenêutica exige aparato crítico de maior curvatura, pois nos desafia a penetrar em caminhos ínvios exigindo abrir clareiras da parte do intérprete. inclusive não podendo este negligenciar a questão de genologia e suas formas de narrativas contemporâneas.
Francisco da Cunha e Silva Filho.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Aquarelas de Tere Tavares - Fortuna Crítica

Obras em exposição no álbum Tere Tavares desde 2015 na: 
Álbuns de 1ª Bienal Virtual de Arte Contemporânea no Brasil
https://www.facebook.com/media/set?set=oa.954722444561576&type=3 

https://www.facebook.com/media/set?set=oa.954722444561576&type=3&av=100001419602233&eav=AfZNktABWcZ2XhMLhnksYAWeH_SYcBDqkyAfe8z6yRgGQfyXdGbfbZdftcVnevLY7ko

Tere Tavares 
Da série "Mulheres" by Tere Tavares Cascavel, PR, Brasil.
                   "Mulher que sonha com o mar" - Aquarela - 2014- TT
"Eva" Aquarela - 2015 -TT

                                          "A Bailarina" - Aquarela- 2015- TT


Alguns Feedbacks:

Bebe Schmitt disse: Me lembrou Marie Laurencin.
Raquel Gallego disse: Si, siempre es un bello dia, cuando las mujeres se reunen.... Cuando armé. Mujer babel, un movil con piezas de madera unidas por hilos... Pensé en una babel de mujeres hablando distintas lenguas pero entendiendose unidas en su. Condicion femenina.... Y esa babel no cae... Esa babel somos nosotras.
Dorotea Duval disse: Estas pinturas debes ponerlas más grandes, en un post directo. Son preciosas... Y, como los iconos ---y también como mis rosas, creo-- no tienen nada que ver con el arte de los artistas, del mercado o de las galerías: son textos, imágenes para leer, pura comunicación, alma pura y viva. En eso son iguales a la pintoras de Raquel Gallego. Me siento feliz de haberlas unido.
Raquel Gallego disse: Gracias por el recuerdo, compatiremos amistad y obras... El arte es como el chocolate, mas rico si se comparte.
Marinella Dina disse. L'arte è un punto di contatto unico e irripetibile. Il tuo modo di dipingere il corpo femminile parla di amore per il corpo, il nostro corpo femminile, così bello e così armonioso. La tua è una ricerca dell'armonia, che si esplica in tutti i dipinti che fai. Che siano fiori o corpi femminili è sempre della bellezza che si parla e di quello che suscita in chi la guarda: ammirazione. Ognuno ha un'ottica diversa ma il punto è sempre quella: la grazia, l'armonia, la bellezza. Dicono salveranno il mondo. Io lo credo. Grazie di avere pensato a me per la condivisione. E' per me un privilegio. Francisco da Cunha e Silva Filho disse: O QUE IMPRESSIONISTICAMENTE VEJO PRIMEIRO NESSA EVA SÃOS OS OLHOS DELA, A VIVACIDADE, UM BRILHO COMO SE ESTIVESSE QUERENDO NOS DIZER ALGUMA COISA COM O OLHAR. OS OLHOS FALAM PARA QUEM OS VÊ COM CUIDADO, COM VONTADE DE NELES PENETRAR E REVELAR-LHE OS SEGREDOS E MISTÉRIOS DE UMA BELA MULHER. AH, QUANTO O OLHAR DIZ DO TODO!

A MINHA ADMIRAÇÃO PELO QUE FAZ EM AMBAS AS ARTES: A DA ESCRITA PROSA/POESIA. E A DO PINCEL E TELA UNIDOS À IMAGINAÇÃO DA AUTORA /ARTISTA.PARABÉNS.


sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Fortuna crítica do Texto Acácia - Original publicado em 2013 na Germina - Revista de Literatura e Arte

Rosas de Verão-2016- Aquarela - Tere Tavares



Acácia

Onde se esgarçavam os labirintos sorridentes do céu? Quando se despira a noite para que dançassem sobre si as estrelas?
“Os peixes beijam arbustos à linha da água que se perfila na argila da minha alma. Teu corpo. Eu sorrio para que venhas banhar-me a fronte com o burburinho dos pássaros. Será que o sono dos pássaros é um dormir? Germinei em ravinas as telas melódicas da realidade. Como dizer-me se não seria eu a falar o motivo da minha vinda incontornável. Numa lua que não vejo, penso cultivar o teu sorriso telúrico a tua tez de orvalho num incêndio sem direção a ranger no horizonte, onde nascem as ancas anônimas do recomeço. Alguém indica onde está o arborescer que falta? À boca das proas alicerçadas nos teus olhos de harpa, tuas mãos de navios dedilhando-me em lentíssimas vagas, docemente”.
Inventou a luz, mas as estrelas não se perderam. Precisava de um manto para encobrir a desilusão na perícia inconclusa das metamorfoses para suster os pontos ínvios, coragem era tudo que lhe restava – mesmo ante o medo de perdê-la. A espessura lúcida evidenciava a volúpia vital que lhe envolvia os lábios, no diafragma das primícias diluídas e sem regresso, para onde confluem as palpitações das pedras, os alvéolos do vento. Não é somente as cepas de um espécime extinto ainda tilintando num sem rumo de solidão soprando-lhe os ombros, num tropeço entre espuma e água: marés, dardos e grãos.
“Não nos perdemos, apenas nos distraímos. Sabes? Aquele tempo incolor em que descascamos. Como gravetos de chuva ...criamos beleza, nunca o distanciamento”.
Então pousou os olhos sobre o seu brilho. Seu corpo. A terra em mais um pomar consumido em seu início intacto. À sua similitude.
Texto e Arte: Tere Tavares
Publicado originalmente na Germida - Revista De Literatura e Arte- 2013.

https://www.germinaliteratura.com.br/2013/ageneticadacoisa_teretavares_dez13.htm?fbclid=IwAR2bskLjXTrXdDG8GaSZ_O3M6-bpPnDtIAxzZ5nnQsj1ENsOtrzhiBzHweg


    Giovanni Francomacaro: Tere, testo e dipinto sono bellissimi! Complimenti!

    Francisco Da Cunha

    Sim , o texto e o que o acompanha, a pintura, se harmonizam na indefinição dos sentidos, na imanência do significado poético através do recursos metafóricos espraiados ao longo da linguagem tornada prosa-poesia ou poesia-prosa. Os enigmas das vozes que se ouvem se confundem entre si e falam uma linguagem que só quem desfruta da captação do poético pode entender. Um texto que equivale a um poema no qual as indeterminações são provocados por sensações simbólicas várias e multifacetadas. Parece um espaço onírico, onde beleza de formas e sentimentos afloram à superfície das águas oceânicas. Seu texto é pura poiésis.

     Raquel Gallego: Siempre comprendiendo la hermosa relación del hombre y la naturaleza... gracias por tu sensibilidad,Tere.

    Patrícia Claudine Hoffmann
    Tudo tão mágico... de outros mundos habitantes de ti. Obrigada por trazer tanta beleza. Que bom ter você perto da gente.

Guida Luis
Lindíssimo texto querida amiguinha Tere, nele há vida, cores, odores, tudo de belo que existe! A aquarela é imensamente bela!

Cristina Rinaldi
È meraviglioso cara Tere, sei una grande poetessa.