quarta-feira, 13 de março de 2024

Texto - Clemente - do livro Entre as águas- Tere Tavares - Fortuna Crítica

 

                                    Arte:Tere Tavares - Pescador ao pôr do sol.


Clemente

O sol sumia por entre as pedras entristecidas. As ondas, como enormes maços de nostalgia, esparramavam-se incansavelmente sobre a imensidão difusa da praia.

Era uma vez um desvairado pairando sobre a vastidão. Atravessou a crueza da sombra e foi ter com os rochedos. Era possível que estivesse num lugar onde provasse toda a sorte de sensações. Seu objetivo era o lado oposto. Lá encontrou ondas maiores e ameaçadoras. Alguém vendia ilusões a cinco reais.

Resolveu retornar ao lugar de onde viera. Sentia-se vigiado. Sequer se lembrava dos seus. No brilho dos finos grãos de areia, como redigidos por uma estrela de meio-dia, lia-se o motivo de cada ser que ali houvesse aportado. Seriam legíveis aos outros os passos que dava na mesma proporção que lhe eram nítidos os rastros dos outros?

O desvairado, contorcido pelas bifurcações do pensamento, almejava estar diante de outro cenário.  Mal podia conter o torpor da sua terrível ansiedade. “Deves sentir cada direção escolhida, seja como for”. Aplaudiu ao sinal como quem se agarra ao intransponível. “Terás de sentir também esses ares recém-plantados, e os infinitos. Queres? Quem sabe as areias movediças? Não recomendo que te satisfaças tão rapidamente”.

Atendeu sorrindo com a febril consciência de um ponto sem ponto. Provara a todos e a si mesmo – a mente liberta o fazia sentir-se lucidamente fecundo, eufórico. O primeiro nascimento, o segundo viver, o terceiro término. Não lutou contra a canção espiralada no peito. Brincou com os seixos. Guardou alguns búzios. Não se tornaria opaco outra vez. Era como se repartisse a própria vida sobre um tabuleiro interminável, o delírio cinza e sublime – sem perceber a loucura que o acompanharia até o céu. 

Tere Tavares, livro Entre as águas, Contos, 2011.

 

Francisco Da Cunha

Texto belíssimo tanto nas descrições quanto na narração.Antes de tudo, é um texto lírico entre contrastes e alegiras UM texto em que os eleitos inanimados se ani.izam ao mês.o tempo,realizando uma simbiose de beleza de pensa.entos saudáveis a alusões não bem aceitas pela voz narrativa.

A narrativa é de terceira pessoa, mas as frases da enunciação aspeadas parecem ser como se fossem orientações conduzidas pelo narrador de terceira pessoa. A linguagem da autora, através do discurso tanto do narrado quanto do que ouve um personagem interlocutor, por vezes, dá a impressão de que que são uma mesma personagem transitando do discurso do enunciado para o discurso da enunciação. Essa é uma estratégia da autora para lidar com a complexidade da história que é transmitida a nós, leitores. O mais intrigante ou instigando é que a disjunção do narrador de terceira pessoa com o discurso do narrador da enunciação, se causam embaraços de vozes narrativas, ela, a disjunção é compensada pelo todo do texto em si. Que dirigimos nosso olhar para as ideias e pensamentos do texto. É nesse ponto que o tema de alguém determinado a atravessar para um outro lado pelo que o texto diz ou oculta torna a história de alguém muito palatável e atraída a amar a continuidade na leitura dessa narrativa, como disse, permeada pelo lirismo, pela poeticidade textual. No discurso narrativo, no chamado "récit”, o ponto mais elevado da comunicação literária se faz graças ao poder e magia encantaria da linguagem que desliza suavemente, por assim dizer, na realidade entendida no plano individual pelo recurso do lirismo envolvente e pelas ideias transmitidas através de dois espaços literários: o da ida e o do regresso. Penso que ler uma narrativa de Tere Tavares é adentrar no reino da poesia de mãos dadas com a prosa. Ler essa autora é predispor-se a enfrentar a magia, a fábula, a indeterminação, o domínio do oráculo, ou, por outras palavras, a entidade pelo espelho de Carroll. Enfim, é penetrar na desautomizaçâo exigida como um vetor sofisticado do sublime poético.

 By Francisco da Cunha e Silva Filho, RJ

Geovane Fernandes Monteiro

Encantador seu texto, Tere! Consegue com maestria conduzir o leitor a soltar as mãos e abrir os olhos diante da linha malabarista da boa e confiável literatura. Havemos de cair? Eis a responsabilidade que o texto de Tere Tavares nos possibilita.

Giovanni Francomacaro - Itália.

Dipinto stupendo! E Stupendo anche il brano. Non so spiegarti perché ma nel Folle , pellegrino, ho visto l'anima femminile. La follia appartiene a chi non sa dove si trova e dove andare. Il tuo folle ha in se la sua meta: l'inferno e il paradiso, il cielo e la terra, e l'abbraccio del mare che tutto sublima. Clemente è una Donna.

Tradução by Tere Tavares: Pintura incrível! Estupenda também a canção. Não consigo explicar porquê, mas na Loucura, peregrinação, vi a alma feminina. A loucura pertence àqueles que não sabem onde estão e para onde ir. Sua loucura tem seu objetivo: inferno e céu, céu e terra, e o abraço do mar que tudo sublima. Clemente é uma mulher.

In facebbok em 12 03 24
lhttps://www.facebook.com/tere.tavares.1/posts/pfbid08LhJDK6Fc6Z66ZrUTb8Nag8wFqGaP1UXU6EFQScDinUwuco2jjRis96Q5CXy7edml


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