quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Quem sabe do mesmo verão

  1. Nem os carinhos esperam das brisas futuras,
    o sol dos destinos, onde os desertos andam,
    um brando vento. Os juncos sem motivo.
    Esbater-se num incerto detalhe,
    supremos momentos
    em que se tem por companhia
    o suave rosto do exílio,
    em tons límpidos como o céu e as águas,
    ouvir ou lembrar, algures,
    o silêncio de todas as nuvens.
    A areia morna tornando-se esquecida do mundo.
    Até não perceber a íntima presença,
    a impressão de que há tempo, muito tempo,
    aquela espuma se assemelha
    com algo da própria alma,
    e já não se é mais só.
    Alçantes do raso, soando ao longo da margem,
    regressos, memórias, amores.
    Os relevos todos do sentimento
    ao que se faz presente, amado.
    Faz-me bem. Mais que bem.
    Faz-me pensar que será eterno o meu sentir.
    Faz-me viver sem pensar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

FLOR ESSÊNCIA - POESIAS DE ECOLOGIA HUMANA.


Por Ricardo Mainieri – poeta e publicitário, autor do livro “Travessia dos Espelhos”.


FLOR ESSÊNCIA, POESIAS DE ECOLOGIA HUMANA.

A Natureza, principalmente nos séculos que nos antecederam, foi reverenciada por diversas religiões.Ao contrário dos tempos pós-Revolução Industrial, quando o homem passou a dominá-la, subjugá-la e ir, pouco a pouco, criminosamente devastando-a.

Ela aparece na tradição Wicca que estimula o amor pela Terra e que reverencia o aspecto feminino do Divino. Está, também, na Mitologia Grega com seus diversos deuses e deusas ligados à colheita e à fertilidade.No haicai  como um dos exercícios do budismo, nos ikebanas. Surge, sobremaneira, na poesia de Terê Tavares.

Pois esta escritora, nascida no RS, em meio aos campos do Alto Uruguai, traz em seu livro de estréia Flor essência, uma imersão na Natureza ora reverenciando-a, ora criticando o comportamento do Homem, dito, civilizado. Ela usa os elementos naturais para falar da psique profunda, do “religare” que está na base latina da palavra religião, de uma maneira toda particular.


Terê Tavares recupera, poeticamente, uma ecologia autêntica.Algo que tem ficado no discurso oficial, mas não encontra guarida nas ações efetivas de preservação ambiental.Salvo certas ações meio kamikazes de ONGs, espalhadas pelo Planeta...

Mas a poesia desta gaúcha, radicada há vários anos na cidade paranaense de Cascavel, aposentada do serviço público, é muito mais do que simplesmente, um itinerário de paisagens.

O bom-gosto do livro começa em sua capa.Um lindo buquê de flores estampada, em ornamento. Depois, a cor rósea, simbolizando o feminino da proposta da autora e da própria Natureza, que é mulher em sua personificação. Junta-se a isso, o prefácio extremamente bem redigido por Paulo Eduardo Lacerda, poeta paulista e graduando de Letras pela USP e a orelha de Ney Alexandre, contista cearense.

Do interior do livro emergem poemas belíssimos. Terê Tavares consegue extrair de suas pequenas obras, discursos surrealistas entremeados por uma musicalidade sutil e envolvente. As palavras, cuidadosamente esculpidas, compõem um painel alegórico e com dicção moderna. A autora demonstra domínio técnico e delicada sensibilidade, inclusive pelo social que, também, mostra sua face nesta Flor essência.

Mas, falar em poesia, sem dar aos leitores o prazer da degustação espiritual é falta de cortesia. Pois, vamos a mostra de alguns espécimes poéticos de Terê Tavares. Prestem atenção:

      Jabuticabeira

       noiva do sol
veste-se de olhos negros
    núpcias da noite

            Luas

    tenho duas luas
         sorrindo
      sob a blusa

   gêmeas & macias
cabem nas mãos tuas
 as minhas duas luas
   redondas e nuas

       mordaças
       bailarinas
      minhas luas
       travessas
        meninas
       levam-te
  até que respires
o sossego do sono

Não é necessário dizer mais nada.A poesia deixou seu recado.Que vocês podem conferir nesta obra da editora Coluna do Saber, sediada em Cascavel, Paraná. Contatos com a autora pelo e-mail t.teretavares@gmail.com

Fiquem com a benção dos elementais e a beleza destas ecológicas páginas.

Ricardo Mainieri – poeta e publicitário, autor do livro “Travessia dos Espelhos”.