sexta-feira, 29 de maio de 2009

Enquanto ouço a Ave Maria

Tela: Madonna e Bambino- TT

Enquanto ouço a Ave Maria

Ser artista não significa calcular e contar, mas sim amadurecer como a árvore que não apressa a sua seiva e enfrenta tranqüila as tempestades da primavera, sem medo de que depois dela não venha nenhum verão (Rainer Maria Rilke)

A natureza desnuda o efêmero que existe em mim. Como uma auréola de eterna quimera, observo o interminável subterfúgio do nada, as suas intermitências insondáveis. Guardo almas e rostos em frações e artefatos de tempo – quiçá por sonhar o improvável, o ilegítimo, ou por não admitir a possibilidade real da verdadeira ilusão. Incapaz de resistir às precipitações da consciência, meu olhar pesquisa o pensamento, a rebeldia de cada instante que não me precipita em sua fugaz duração. O orvalho brilha como singelos diamantes à luz do sol sobre as florescências rubriplúmeas. A névoa agradavelmente fria parece coadjuvar com os vales num interlúdio para nutrir o hoje. É sublime respirar o sorriso, o pacto radiante que ultrapassa o silêncio.

Não há preocupação. Nem razão para motivos. No indescritível dos momentos há um pequeno alívio, uma trégua. E no impalpável, na réstia de alento que se distrai para quando eu possa, comemoro toda a sorte da minha arte. Um gorjeio de ternura me fita confiante no que possuo de mais sensível, como se detivesse o dom de fazer brotar do barro uma obra semelhante à divina.

Uma nova estação reaparecerá para forjar dos erros os passos de não se perder nos próprios; Deus, inigualavelmente perfeito, não obscurece sua criação com o perfeccionismo.
Nem eu ousaria desperdiçar a referência em que o coração novamente acredita, e inebriado sorve o necessário – porque é da sua natureza crer que será feliz.


http://blogdoalt.files.wordpress.com/2008/04/gazeta-alt-ed66-24-05-09-visualizacao.pdf.

15 comentários:

Madalena Barranco disse...

Tere... Sua prosa nutriu minha alma da felicidade que ilumina o tempo que não existe. Vir ao seu blog é um bálsamo precioso.
Beijos

Roberto Malacrida disse...

Querida Tere.

Não ouso pensar que este texto é uma prosa, tão eloquente e lírico.
Como verdadeira rendeira teces com palavras verdadeiras obras de artes da nossa língua. Acompanho nossa querida Madá, e também faço uso deste bálsamo como unguento santo. Beijos enormes...

João Esteves disse...

É, Terê, a natureza dos nossos corações inclui essa crença na felicidade possível. Bem dito, tudo. Muito bem.
Beijos

Salete Cardozo Cochinsky disse...

Tere, querida
Leio ternura por si e pelo dom de poder produzir e transpor para um texto o etéreo e diáfano que nos constitue e a natureza que nos cerca.
Um texto é uma prova concreta, a objetivação do subjetivo que só pode ser observado e promover movemento após essa mudança de estado. Dos sentidos e afetos, o imáginário que se faz real e simboliza, para, nesse caso, textos sublimes fazer o bem a tantos.
Beijos
Salete

Ramosforest.Environment disse...

Tere,

"Não há preocupação. Nem razão para motivos... porque é da sua natureza crer que será feliz."

No Angelus, um abraço por esses lindos e inspirados texto e pintura.

Luiz Ramos

PS. Obrigado por sua visita ao meu blog. Dia 5 de junho é o Dia do Meio Ambiente.
Volte sempre, Aqui, sempre voltarei.

Anônimo disse...

Roberto (Malacrida está aqui?) disse uma grande verdade: tua prosa é poesia pura, Tere! Se não te conhecesse pessoalmente, pensarias que és um anjo.
Beijo, amiga!
Ana Guimarães

☆Lu Cavichioli disse...

Tere, o inexplicável vem do cosmo e toda gama de sentimento Deus colocou no homem. Portanto, devemos seguir contemplando a necessidade gritante de ser feliz.

Texto fantástico, bem a teu modo em desfiar natureza, aliando à natureza humana.

Bjs linda Tere e um ótimo domingo.

Lu C.

Ricardo e Regina Calmon disse...

Em texto celestial,moldas nuvens,como se fosse,para ler e reler vezes várias,tributo esse à Madona!

Beijo mãos suas,madrinha e rainha nossa,das letras entre outras artes!

Viva a Vida

Unknown disse...

Tere, repousamos ao ler seu texto, repousamos ao perceber que a sina da
felicidade só o é quando contraposta à da infelicidade. São os dois
momentos que se entrelaçam e nos definem. Lindo, como tudo e como
sempre. Beijos, minha poetisa desfeita em palavras.

antes blog do que nunca! disse...

Palavras para quê, diante de tão sublime texto. Que Deus conserve em ti, a inigualável mestria de encantar em prosa e verso.

1 Bj*
Luísa

Anônimo disse...

Tere

Como sempre um texto magnífico.
Um beijão minha querida amiga acadêmica cascavelense.

Vládia Queiroz disse...

muito bom seu blog!
tô feliz de ver tanta gente conhecida por aqui.

"o interminável subterfúgio do nada" (acho que vou dormir com essas palavras na minha cabeça)

bjus

Vládia Queiroz

Tere Tavares disse...

Amigos queridos,
A presença de cada um é sempre esperada e guardada com muito carinho. A força revificadora existente na amizade e na partilha da arte, é semente profícua e perene. Obrigada!!
Um forte abraço a todos!

Renato Torres disse...

querida tere,

urdes em prosa como em poesia com a mesma força que se quer viva, sem reservas, ao que temos de profundamente humano.

beijos,

r

Tere Tavares disse...

Renato,
Obrigada amigo pela presença; ainda esta semana ouvi o CD "Bem Musical"- a tua voz elevando ainda mais a poesia. Abração.