terça-feira, 17 de novembro de 2015

Coletânea A arte pela escrita Oito

Acaba de cruzar o Atlântico, direto de Portugal para minha casa, 
a Coletânea  de prosa e poesia - 2015 -"A Arte pela Escrita Oito" 
da qual participo com as prosas "Depois do céu", "Estro" e "Acácia", numa publicação conjunta com EscritArtes Goretidias e a editora Mosaico de Palavras.

Gratidão imensa à Goreti Dias e Dionísio Dinis pelo convite. Parabenizo-os pelo belo formato e conteúdo da Coletânea, resultado do excelente trabalho e dedicação à Literatura. Parabéns também a todos os participantes de todas as nacionalidades. Tim-Tim!




Acácia
By Tere Tavares

Onde se esgarçavam os labirintos sorridentes do céu? Quando se despira a noite para que dançassem sobre si as estrelas?

“Os peixes beijam arbustos à linha da água que se perfila na argila da minha alma. Teu corpo. Eu sorrio para que venhas banhar-me a fronte com o burburinho dos pássaros. Será que o sono dos pássaros é um dormir? Germinei em ravinas as telas melódicas da realidade. Como dizer-me se não seria eu a falar o motivo da minha vinda incontornável. Numa lua que não vejo, penso cultivar o teu sorriso telúrico, a tua tez de orvalho num incêndio sem direção a ranger no horizonte, onde nascem as ancas anônimas do recomeço. Alguém indica onde está o arborescer que falta? À boca das proas alicerçadas nos teus olhos de harpa, tuas mãos de navios dedilhando-me em lentíssimas vagas, docemente”.

Inventou a luz, mas as estrelas não se perderam. Precisava de um manto para encobrir a desilusão na perícia inconclusa das metamorfoses para suster os pontos ínvios, coragem era tudo que lhe restava – mesmo ante o medo de perdê-la. A espessura lúcida evidenciava a volúpia vital que lhe envolvia os lábios, no diafragma das primícias diluídas e sem regresso, para onde confluem as palpitações das pedras, os alvéolos do vento. Não é somente as cepas de um espécime extinto ainda tilintando num sem rumo de solidão soprando-lhe os ombros, num tropeço entre espuma e água: marés, dardos e grãos.

“Não nos perdemos, apenas nos distraímos. Sabes? Aquele tempo incolor em que descascamos. Como gravetos de chuva. Criamos beleza, nunca o distanciamento”.

Então pousou os olhos sobre o seu brilho. Seu corpo. A terra em mais um pomar consumido em seu início intacto. À sua similitude.

Escreveu esquecendo o tempo, abstraindo-se de tudo. As palavras pululavam em sua mente, num primeiro momento, fragmentadas em pensamentos e sentires, para não furtar-se à sinceridade dos personagens. O leitmotiv surgiu-lhe a partir da reflexão sobre o quanto é possível a des-configuração da imagem de si mesmo ou de outrem, ante os atropelos instados constantemente pelos acontecimentos e vicissitudes cotidianas, que a tudo querem dar forma brevíssima, por atalhos e caminhos imprevisíveis.

Deu lugar às paisagens que comumente não vemos, ao detalhe que muitas vezes nos escapa, nunca, porém, sem impregnarmo-nos dos seus rastros. Promoveu um prelúdio onde as emoções, aparentemente, se destroçavam.

O único e o outro, também único, tracejam, coincidem num pacto capaz de promover resgates, aproximações impensadas. Sentiu e quis insinuar ou subverter como objetivo daquele instante criativo, a possibilidade, sempre existente, de um momento de busca que se bifurca entre uma e outra alma. Como na confluência de dois rios: o encontro.

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Estro

“Há um Silêncio enorme em nós que nos chama acenando, e a entrada neste Silêncio é o começo de um ensinamento sobre a linguagem do céu. Porque o Silêncio é, em si, uma linguagem de profundidade infinita, mais fácil de entender porque não contém palavras, mais rica em compaixão e em eternidade do que qualquer forma de expressão humana. Não há nada no mundo que se pareça tanto com Deus quanto o Silêncio.” - Mestre Eckhart de Hochheim

Não sei se fecho os olhos reservando-me num ruído onde os casulos não vibram. Sou uma canção que navega impérvia, na espessura do limbo; uma erva errante que sucumbe sobre as pedras, isenta da sabedoria das vindimas e dos favos. A angústia é uma grade invisível, um anseio por gotas e fogo que me desarma. Com esse diminuto par de luas quero silenciar o incêndio, a água, os fins, o eriçar das épocas. A voz do que amo é um sorriso, um salvamento que se dissipa para desordenar-me. Minha pele é uma canoa que guarda o momento de ser nascente e rio e mar e foz. Algo é brisa e é renúncia e esquecimento ou vício em meus azuis anúncios. Desejo ver na minha nudez a serenidade que cobre a fuga, o jejuar da palavra, a migração das mariposas sem destino. Ou ninguém. Angelical e temporário, persistente como a juventude, como o sol que se recolhe numa pausa sem pálpebras. Não me dei conta das escalas profusas, das perfurações que se desprendiam numa linha indevassável e quase definitiva, inquirindo-me impiedosamente, onde eu havia perdido o melhor de mim. Onde estive quando não estive comigo? Arrependo-me, mas não é suficiente... um pássaro sem murmúrios adormece-me o peito, como cios que não se findam, como a sombra que ilumina a estranheza difundida nas pupilas. Porque é o sol que faz girar a flor. Porque os olhos se acostumam com a luz e aceitam a circularidade retornando àquilo que precede e ofusca. Porque é necessário ser todos e nenhum.

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Depois do céu

“Ele [Deus] é a riqueza em profusão porque é Um. Ele é o primeiro e o supremo porque é Um. Por isto, o Um penetra todas e cada uma das coisas, e permanece Um, unificando o separado. Por isto é que seis não são duas vezes três, mas seis vezes Um”. (Mestre Eckhart de Hochheim )

“Tenho todas as faces, sou todos os rostos que desconheço. A palavra não se perde no candeeiro do horizonte e é sempre outra palavra. E tem faixas e agulhas lúcidas sobre o fervilhar azul da pele, o calor glacial dos nervos. Quando enfim se reconstituirão os meus ossos em nódulos robustos beijando-me como estrofes de orvalho postas num piano ou as tranças de uma rede perdida num sorriso ondulado, numa quase amnésia do vento, elã.”

Enquanto dormia despertou e viu que o amor era somente o amor.

“Arrisco a riscar o chão, coberto por flocos de solidão.”

O que lhe sombreia os ombros são os imensos letreiros arrebanhados nas restingas rudes, nas arenas vazias, são dorsos que destoam o drama das coexistências, os volumes e tramas dos vincos e vivências, intenções desmaiadas no encalço do que se ausenta e persiste e desencontra o tempo que soçobra nos movimentos e assoma em constelações supérfluas, em brilhos escuros que suplicam o arrematar das chuvas, dedilhando deidades e ferrugens, um sol resplandecente para ouvir-lhe a arte que arquiteta nos resgates das analogias e das contenções. Sabe apenas uma pista de si:

“Hoje fui a asa que não tive. Meu quinhão é a incerteza dos dias. Por saber a pássaros e prolongar-me neles.”
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textos By Tere Taavares





terça-feira, 10 de novembro de 2015

Livro "Vozes & Recortes" - Impressões

Livro de Contos "Vozes & Recortes"  2015 By Tere Tavares (Editora Penalux - SP)


Recomendo a leitura de "Vozes & Recortes", segundo livro em prosa da amiga escritora, poeta e artista plástica Tere Tavares, membro da Academia Cascavelense de Letras.

De início, advirto que a leitura do livro exige um mergulho nas águas profundas da palavra. Isto porque a escrita da autora, embora se apresente acessível e simples, é um caminhar poético ora por alamedas, ora por ruas estreitas, ora por trilhas em meio a bosques e florestas. Se num determinado momento o sol brilha, noutro brilha a lua, e noutro chora o ar e florescem as orquídeas.

O uso da linguagem metafórica cria uma atmosfera poética na prosa da autora, deixando a leitura prazerosa, apresentando ao leitor um universo de imagens a serem exploradas a cada texto.

Vozes & Recortes é uma obra que, sem sombra de dúvida, reafirmando o que disse o poeta e jornalista José Maria Alves Nunes, autor do prefácio, eleva a autora à categoria de um dos grandes nomes da literatura contemporânea no Brasil.

José A Cauneto
Presidente da ALAP
Academia de Letras e Artes de Paranavaí

Veja mais aqui:

domingo, 8 de novembro de 2015

A unidade que me transforma e me divide

Não me pertenço.
Penso ser deste mundo
pressupondo que outro mundo
não exista além deste.
O que tenho é o espaço onde estou.
Onde estou sou o que tenho,
(tenho?) a mim mesma quando muito,
o café escuro que bebo.
Este pouco de mim é tudo o que aparento e sinto.
Estabelecer não me cabe
e se me cabe não estabeleço.

do livro "Meus Outros" 2007.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Do Projeto Releituras da Canção do Exílio de Gonçalves Dias


Extinção do Empecilho
      
Se isso ocorrer de fato
Haverá menos Gato e Rato
Orfanato e Cão

Toda fé na Lava Jato
A fatal Operação

À Justiça pede-se: vem cá
Prenda os ladrões de Sabiá.

Céus, que ainda floresceis de estrelas,
Descei a mais bela e cadente,
Para livrar da roubalheira toda Gente:
Nossa Terra Brasileira.

By Tere Tavares 



"RELEITURAS
A Canção do exílio, de Gonçalves Dias, um dos mais populares poemas da literatura brasileira, e com certeza, a intertextualidade mais frequente na nossa tradição poética. O retrato idealizado do país, a saudade do poeta romântico da pátria e a realidade dos problemas político-sociais do momento , nas extraordinárias releituras dos poetas atuais. Proposto como um simples exercício de criação, as vozes dos poetas revelaram belezas e indignações. Uma profunda capacidade de reflexão de como estamos tratando a nossa cultura. Mesmo não sendo esse seu papel, o poeta ( antena) acaba sendo um porta voz da população em suas reivindicações".
By Jose Couto  - a quem agradeço a inclusão do meu poema no Projeto.
Obrigada também ao Boca a penas  pela excelente parceria.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Livro de contos "Vozes & Recortes" - Revista Soletras

Livro de Contos Vozes & Recortes - Editora Penalux- Autora  Tere Tavares


Revista Soletras - Agosto 2015



Revista Soletras,
"A SOLETRAS – a Sopradora de Letras vem para ser uma revista literária electrónica sem fins lucrativos, editada a partir da cidade da Beira, Moçambique".

Edição de Agosto de 2015:
A "Soletras" está belíssima, recheada de bons poetas, contistas e matérias.
Entre as publicações desta edição: Álvaro Taruma; Celestina Marques; Deusa d'África; Hera de Jesus; Hirondina Joshua; Nataniel Nhabanga; Paulo Nguenha; Sanjo Muchanga; Sobrevivente Filho da Velhice e o amigo Ricardo Escudero.


Agradeço imenso à Revista SOLETRAS pela publicação do prefácio do meu livro de contos "Vozes & Recortes"(Editora Penalux prosa 2015), escrito por José Maria Alves Nunes.
Ao escritor Lino Mukurruza, vai também meu especial agradecimento.

Grande abraço a todos

O link a seguir vos leva à Revista Soletras que pode ser baixada para leitura integral em PDF:
https://www.dropbox.com/s/wgazvt16scrodb1/SOLETRAS%20AGOSTO%20DE%202015.pdf?dl=0

domingo, 23 de agosto de 2015

Livro de Contos "Vozes & Recortes"




Alma de papel e tinta

"As cores são a chave, os olhos o machado, a alma é o piano com as cordas”.
(Wassily Kandinsky)

Um nascimento que tem em si o solo, a fímbria do afeto, procurando o que julgava escondido. Seu papel: o corpo. Abarcando hastes de caules vertidos em fusões antecipadas nas corredeiras de folhas e na constância da aurora. O não evidente se movia na miragem que desbotava compacta, como que prevendo uma criança adormecida numa calma afetuosa. Sim, Ordep sabia-se: “tenho o direito de sonhar. Tenho direito ao delírio. Já me sabia caminhante, agora me reconheço utópico. A realidade me parece inacreditável”. 

Toda a sua substância seguia a esvair-se. Ordep sequer percebia quando o sol se distanciava do dia por que não interrompia seus movimentos. Quer na presença ou na ausência de tristeza ou risos, o amor – nenhum semeador se assemelha a esse construtor de cisternas – germinava-se em verbos, no cerzir infinito do vento, enlaçando-se na argila e nos vinhos da grande mãe Terra, sinalizando que sua feitura indefinida residia num lugar qualquer, e era sorvida em êxtase noutro deserto de vislumbres, numa voz de pedra. 

De algum modo Ordep era aquele quadro de Hopper; aquele deslocamento à frente do silêncio, do verde, da esperança, da comunicação atravessada, da solidão infatigável. 

Mentia ao condenar a mão alheia, dizendo-a frenética e sequiosa de afagos, de esfinges para o ego, do elogio fácil. No fundo, queria ser reconhecido entre a multidão e não sabia de que forma, depois de ter evidenciado em sua arca todo o apelo de que era portador. Sobrava-lhe a ilusão de que nada disso o fascinava, tampouco o tocava. Então, voaram de sua abertura facial, mariposas e cinzas afetadas de inferioridade, sedentas de cor e perfumes. Queria algo que aos outros interessasse – o mundo é coletivo. Ele era só mais um coletivo no meio da imensidão. Não seria descoberto; não seria aplaudido; não teria seus quinze minutos de fama. Esbravejava refutando aquele odor de aglomerações, como se quisesse ser tocado por uma fábula, por um condão desfalecido.

Disfarçado de liberdade, farejava apenas o que poderia ser sua própria morte: o farol iluminado. Apesar de ser um astro. “Essa manhã interminável em que me dei conta uma vez mais da minha inerte ventura, da cesura em que participo – a lágrima já foi mar um dia como o meu corpo, lapidado pelas montanhas de fogo. A cada instante que passa, sinto tudo de uma forma mais íngreme e não tenho o amparo das primaveras que me serviram de braços. E virá o inverno que eu talvez nem viva, que talvez me descreva. Quando me poderei guiar?”. 

O deslocamento de Ordep nunca o representava. A sensatez é o arranhão mais espesso e menos distante da profundidade que a tudo ondeia e unge. Perdia as horas de ser triste sempre que adentrava os caminhos da linguagem, como se desaparecesse, escrevia, escavando a trilha para além do caos, folha sobre folha. 

Beijou uma flor que fixou para sempre o pólen em seus lábios – agora vivia à sua procura. Ordep acomodou silêncios e passos rumorosos, e dançou, na pausa das chuvas, os ninhos embebidos de sol – porque, para ele, os livros são como pássaros que, acarinhados pelo instante, sonham vagar indefinidamente pelo céu, esquecidos de se curvarem.


Conto que abre o livro "Vozes & Recortes", obra escrita totalmente em prosa que sai pela EDITORA PENALUX:
tem o lançamento  marcado para o dia 24 de agosto de 2015 via Facebook. Acesso pelo link:
Adquira seu exemplar pelo catálogo da Editora Penalux:
http://www.editorapenalux.com.br/loja/product_info.php?products_id=315 
ou diretamente com a autora pelo e-mail  t.teretavares@gmail.com

Ficha Técnica:
Livro: “Vozes & Recortes”
Gênero: Contos (Selo Castiçal)
Formato: 14x21
Autora: Tere Tavares
Editora: Penalux
ISBN: 978-85-69033-45-5
Ano: 2015
Número de páginas: 112 em pólen bold
Valor: R$ 32,00 + frete.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Antologia Poética 29 de Abril O Verso da Violência




Sou uma das escritoras que a integram. Grata aos organizadores (as) e à Editora Patuá pela publicação dessa obra: um protesto poético contra a barbárie que ocorreu na capital do Paraná, Curitiba, contra os educadores(as) nesse fatídico dia. Haja ecos e mudanças.
A palavra serve sempre: parabéns a todos os autores(as) participantes.
Eis a minha participação:



O cardume pressente os bicos das gaivotas
E seu mergulhar inevitável.

Há um pequeno espaço no mar e na Praça Nossa Senhora de Salete.
Há uma fresta no tempo para arrebanhar tudo o que, solitariamente, navega na barbárie.
Um sopro humano sobressai das areias repletas de cestos e barcos,
Como se alguma morte guiasse a todos numa conjunção desordenada
Ou a vida suspirasse numa eternidade fora do homem, do pássaro, do peixe.

A metrópole dorme suas misérias e solidões famintas.
Olha. São filhos sem cadernos e sem livros.
Vertiginosamente flui uma esperança de bosques, uma renovação do ar.

Há tempo bastante nos intermináveis sumiços que se fixam nos olhos de todas as coisas.

As escolas. O vazio sanguinário, petrificado, que nem em pesadelo, se ousa imaginar.

Os barcos ainda estão pescando, e as gaivotas sobrevoam os barcos, e o cardume adormece torturado em estômagos infinitos e hálitos feridos.

Tudo é massacre e máscara para os corpos do espaço que a tudo assistem, incontestes, impunes, inexpugnáveis no seu armamento espúrio e sorrateiro.

O desgoverno.

Olha. Os mandatários sorriem satisfeitos atrás das tristes ramagens das Araucárias.

Ninguém acorda quando está morto ou quando finda uma jornada.

Olha. Os mestres sangram por ter o giz e a voz como únicas ferramentas.

Ninguém se fere se não há fome, se não houver morte, ninguém come.

Melancolias envelhecem e alegrias formam tensões, paixões e amores vestidos de silêncio e claridade. Há fumaça e estrondos afrontando a justiça — que não é justa.

Ainda é noite para quase todos.
Há gotas de tempo para madrugar os que adormeceram rispidamente, como curvas breves e rastros irreconhecíveis. O espaço que se filtra no sangue, como um grande dragão, despedaça o mar e os barcos; e os peixes; e os homens; e as paixões; e a eternidade, como se fossem leves e letais gotas de matilhas infelizes a caçar luzes, vestidos todos do que só se ouve no vento; e na nuvem; e no pó.

O despotismo. E seus asseclas.

Oh grande infelicidade que se vê palpável no entreolhar e no entreouvir — felizes! — das patas e dos pés que, no dia 29 de abril, se tornaram sombras e almas em escombros.

De Santa Perpétua à Mãe Preta — Julio Guerra chora esse descampado dia.
Chora todo o Paraná. Envergonha-se à humilhação.

Já não há amplitudes sobre os ombros dos que clamam pelo salvamento do ensino. Os alvos. Tampouco há derrota. Que derrotado é quem não se sente vivo ainda que tema a morte.

Ouvem todos que não há retorno para além do que se foi.
Somente a audiência infalível que terão consigo e com Deus: de tudo em nome.

Em Sinas
Tere Tavares

poesia
adelaide do julinho + ademir demarchi + adriane garcia + albertina laufer + ale safra + alex dias + alvaro posselt + amanda vital + angel cabeza + antônio lazzuli + assis de mello + beatriz bajo + camillo josé + carla diacov + carlos alberto muzille + carlos eduardo bonfá + carvalho junior + cel bentin + claudio daniel + donny correia + ellen maria + fabiana motta + felipe magnus + fernanda fatureto + gabriel felipe jacomel + geraldo witeze jr. + greta benitez + gustavo petter + helvio campos + homero gomes + ikaRo maxX + isabela romeiro vannucchi + ivan justen santana + josé aloise bahia + josé antônio cavalcanti + jovino machado + jr. bellé + leonardo chioda + líria porto + lisa alves + lívio oliveira + lubi prates + luciana cañete + luiz roberto guedes + maíra ferreira + marcelo adifa + marcelo ariel + marcelo de angelis + marcelo sandmann + marcelo vieira ribeiro + marco aurélio de souza + mariza lourenço + micheliny verunschk + miriam adelman + norma de souza lopes + nuno rau + nydia bonetti + pablo morenno + priscila merizzio + ricardo aleixo + ricardo escudeiro + ricardo silvestrin + robisson albuquerque-sete + ronald augusto + rosane carneiro + samantha abreu + sérgio fantini + silvana guimarães + stefanni marion + tarso de melo + tere tavares + thiago dominoni + thiago ponce de moraes + vasco cavalcante + waldo motta + wender montenegro + william zeytounlian + yuria santamaria pismel + ziul serip

apresentação/antologia
daniel faria

apresentação/depoimentos
célia musilli

depoimentos
alice ruiz + amabilis de jesus + caetano zaganini filho + christine vianna + claudio de assis da cunha + francis de lima aguiar + francisco soares neto + ícaro moura + josé melquíades ursi + rafael kenji kuriyama + sérgio daguano + thiago dominoni

fotografia
brunno covello + lina faria

diagramação/projeto gráfico
bruno palma e silva

colaboração
lubi prates

organização
domenico a. coiro + mar becker + priscila merizzio + silvana guimarães

domingo, 26 de julho de 2015

Livro Entre as Águas na versão E-book




Honrada e agradecida à querida amiga Carmo Vasconcelos e ao amigoHenrique L. Ramalho, pela publicação, na íntegra, da versão ebook do livro "Entre as Águas" (Contos 2011) - Um duplo abraço de cá do Atlântico por esse presente maravilhoso. Para leitura basta acessar o site:
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/Escritores/TERE-TAVARES/TERE.htm

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Verted'ouro

Van Gogh - Flor Jardim - 1888
Verted’ouro

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
(Olavo Bilac)

O sol continua a sumir por entre as pedras, com seus raios quase entristecidos. As ondas se esparramam como anjos incansáveis. A mulher com nome de flor ou de santa tinha a voz intensa, breve, e, principalmente risonha. Assemelhava-se a uma evolução musical de suave atmosfera.  Não bastasse o canto, tinha o encantamento, o pleno exercício do querer, aceitando o que não fora possível mudar. Pensava com o sentimento.

Seria um estado de beatitude elaborada para o inestimável memorial das criaturas iluminadas. Descrevia o que sentia enquanto a outra forma de si mesma escrevia o que pensava. Quando tudo cessava era o mirar do seu pensamento sem olhos, nunca o seu sentir sem palavras. “Fui melhor quando não fui eu”. Constatou ainda com dúvidas que o único meio de obter uma noção, mesmo que mínima sobre o bem e o mal,  é conhecer as lágrimas com a compaixão de quem é capaz de sentir pelo outro o sofrimento e a alegria.

Sua pretensa ingenuidade entrou instantaneamente noutro par de olhos fixos na escuridão.  Gostaria de dizer que não mudara em quase nada e que estava até mais bonita, mais feliz. “Os recados, às vezes, passam sem ruído, nem sempre cegos”, murmurou imaginando que viria do infinito algum elfo para esvaecer a sua hesitante decisão.

Não conteve o impulso de retornar e preencher com delicadeza o que carregaria para sempre no seu importante jardim sem importância.

Ainda que não soubesse, a engenharia das minudências soava como um límpido cristal, permitindo um quase perfeito retrato, à distância, do lugar onde estava. As mudanças invisíveis, enganadas, aparentemente imóveis.  Conduzia palavras como se fossem água e sol, universos autônomos refrescados livremente nas transparências.

Tentava dissuadir o berço de estrelas longínquas – ninguém é capaz de tecer melhor sobre o acaso do que a fugaz eternidade que lhe conferiam, a cada vez que, ingenuamente, as imaginava caladas.

“Com que amor me vive essa porção que me escapa. Sempre soube que a escreveria e seria com a alma que não domino.” Murmurou no passo que dava em direção de si mesma, como se aninhasse um segredo revelador. Na dupla face que a tudo contorna, mesmo veladamente, havia um zelo imprescindível. Os deuses possuem a mesma e inauferível dimensão que passa invariavelmente pelo desejo, à presença de perpetuarem-se no âmago das consciências e revolverem-se na imperfeição do que nunca morre. “Permaneço no outro como sendo o meu árido exterior re-fletido numa solução inevitável. Com a beleza párvoa de não estar em mim.”


Do livro "Entre as Águas" (prosa) 2011 By Tere Tavares

quarta-feira, 15 de julho de 2015

AQUAFÚRIA: UMA ANTOLOGIA DE POETAS SEDENTOS



"Lute pela Água. Lute pela vida".

Organização: Thiago Cervan
Apresentação: Carlos Eduardo Carneiro
Foto da capa: Laura Aidar
Julho de 2015


"AQUAFÚRIA: UMA ANTOLOGIA DE POETAS SEDENTOS"

Foto by Tere Tavares

Da flor das fontes

Que brota num veio

Para assinar-te a sede

E pela sede ensinar-te

Que é da fonte a flor

Incolor e inodora

Que te olha

Que te molha

Que te água.
By Tere Tavares


Confiram as demais participações em:
http://issuu.com/thiagocervan/docs/aquafuria_uma_antologia_de_poetas_s
Download gratuito. Em PDF.

O Poema "Da flor das fontes" também está publicado na Revista Fénix Logos:
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L16/LOGOS16-SET2015-POESIA-65.htm

Publicação na Antologia Fénix Logos Julho 2015

Toda gratidão e apreço à Carmo Vasconcelos e Henrique L. Ramalho pela publicação na Revista Fénix-Logos, Número 15, edição de Julho/2015.
Cumprimentos a todos os autores(as) participantes.
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L15/LOGOS15-JUL2015-TEXTO_22.htm


COMO SABES
"TÍMIDO COMO UMA CRIANÇA. SOU IGNORANTE"
Por Tere Tavares

"O inverossímil em matéria de sentimentos é o sinal mais seguro da verdade."
(Liev Tolstói).

Ao relevo submisso do espelho admitiu sem negações outra de si. Sem expressão de noções ou julgamentos. Sem mágoas ou amarguras, isenta de culpa por talvez destroçar-lhes quaisquer ressentimentos. Alegrou a tristeza no segmento de um objetivo ou de um objeto para tudo o que suportava. Intrometeram-se luminescências que se fecharam abertamente nos florescimentos vindos de fora. E persistiam em diversos murmúrios. Como os dias iguais a todos os dias que ainda submergiam numa loucura feliz. Um acesso exterior e nada para partilhar, apesar do convite – o temor é perdedor assíduo da indiferença – a pior forma de amor que há.
A malha da insônia seria o anzol fosforescente do corpo indefeso. Perto dali morava um cedro cinqüentenário, um canto de corruíra, uma cerejeira onde alguém, com muito zelo, reservara sementes para lhe dar.
Afagou-lhe as pálpebras, os anéis dos cabelos, a face, as formas de pérola. No seu abraço permitiu-lhe o abandono seguro de quem se sente amado. Incondicionalmente. O quarto sempre à sua espera, o quadro de tulipas pousando no coração azulado entre as paredes claras, o ensejo rosado a esperar-lhe o gosto singular, lençóis de algodão perfumados de maciez maternal. Uma ingênua liberdade toldava-lhe a tristeza adormecendo para reconfortar-se no amanhã, com um sorriso corajosamente inesquecível. Sobre uma luz difusa entre singelezas de fogo repetiu como uma canoa flutuante o langor que se perdera numa erva antiga, a cantiga que previa inteira e só por aquela noite a procurara como se soubesse não tê-la. “O inesquecível é o amor que sobra. Para algumas, e só para algumas coisas, que são para sempre.”
Aqueles olhos eram loucos e surdos. E eram também aqueles ouvidos com olhos. Porque há ouvidos cegos e fragores inaudíveis com olhares: E olhos mudos e lábios olhando as profusões invisíveis ao tato. O paladar pênsil do gesto sem lábios. Olhar sápido de olivas. E oliveiras repletas de retinas tocando o sol com brumas, com mãos de vinho... “que misteriosos olfatos escondeis além de vós? Precisarei de todos os sentidos ao mesmo tempo.” Ouviu um perfume qualquer que seu coração reconheceu, tocou-o de forma irreversível na escuridão, na proximidade ausente do momento que a prendia até que surgissem os delineamentos de consciência e subconsciência, o desconhecido perguntando se poderia resumir-se. Não com uma resposta qualquer. Tampouco com o retrocesso.
Sobrava-lhe o nada para expressar o mínimo, e não expor estranhamentos a caberem uns dentro dos outros – primaveras com floradas de gelo, verões sendo outonos mornos, invernos de calor a nevar no tropeço das nuvens. As oliveiras misturadas aos sândalos e madressilvas. Flores de laranjeira deslizando pelo tempo, entre as asas dos melros... um mero truque da imaginação, a memória talvez nem sua que se seguia por séculos.
E desse olfato surdo vê a completude indefinida em fractais. Nem tão abstratos assim, a imaginação do gosto lhe saliva a boca. “Não se lembrem de Pavlov. Houve uma vez em que me dei sais. Depois açúcares. Não há nada ou ...talvez alguma coisa aja fora de mim. Vejo novamente quando ouço e novamente toco quando olho. Outra vez me ouço quando degusto. E novamente me alimento quando tudo se mistura nesse inesgotável recurso de meia-estação.”
Multiplicou-se com rebeldia e graça por todas as frações da luz – no colo do ar e do tempo, como as areias juvenis... fecundando-se indefinidamente em oceanos pautados por um eco outro, do outro lado. O lado de dentro.

(do meu livro "Entre as Águas" publicado em 2011)

Tere Tavares
Cascavel - Paraná, Brasil
http://m-eusoutros.blogspot.com.br/

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Trânsfuga

Foto By Tere Tavares

Trânsfuga

No infinito das folhas, nas sombras, não sei de ti as arestas acesas, conversas entre amigos sobre a razão de viver, tu, o rosto torturado e perdido por detrás do nariz, espreguiças sinais de fogo à camilha, o algarismo que temos no intelecto, como objeto.

Cupidos dorminhocos acordam ao teu lado amores de papel, a tentação, como diria a réplica menos indigna e sem convicções, deitas por terra um ferimento profundo, uma acha de zelo para o que míngua.

O homem de casaco amarelo engana os tolos, as novas maneiras de ver se houve Adão ou Eva, ateístas controversos, metrópoles de caos e técnica, como se mestres morressem a cada segundo. 

Enquanto quase me ajoelho – às vezes pecas e nem desces do salto – não sei se devo agradecer, longe de mim, gosto, não gosto, é assim que eu fico, baba de caracol, borboleta adestrada. Porque morta. Como esse escorpião que trazes amarrado.

do livro "Entre as Águas" (2011) By Tere Tavares



quarta-feira, 1 de julho de 2015

Minha participação na Revista Soletras

Honrada e agradecida à Revista Soletras  e, em especial, ao escritor Lino Mukurruza 
pela iniciativa de propor-me essa entrevista. que consta nas páginas 7 e 8 da " Revista Soletras" edição de junho de 2015. Segue aqui: 

Ela é brasileira, pintora, escritora e, acima de tudo, autodidacta. Formou-se em literatura por gosto e prática e publicou o seu “Flor essência” – um livro naturalista, a avaliar pela forma nostálgica como os elementos da Natureza são percepcionados pelo sujeito poético. Alias, há uma espécie de cumplicidade entre a autora e o meio, tanto que se confunde o sujeito da escrita: se o meio, se a autora ou ambos. Chama-se nada mais nada menos que Tere Tavares, autora com quem mantivemos uma conversa, a qual lhe apresentamos a seguir.

Soletras: Como é que entra para a escrita? Há alguma influência particular para tal?

Tere: Não há uma exactidão quanto aos começos. Porém, desde a infância me sentia atraída pelos livros; cheguei a ganhar alguns concursos de redacção na escola. A escrita em si, repousava em outras exigências e, entre um e outro intervalo, ganhava substância. De muito gostar, ler e observar, nasceram os primeiros poemas, em distintos períodos. Quanto às influências, gosto de muitos autores, como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Macedônio Fernandez, Roa Bastos, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, Marcel Proust, Eduardo Lacerda, Demetrios Galvão, Marco Aqueiva, Cora Coralina, Clarice Lispector, Robert Musil, Marcelo Novaes... a lista é longa, mas encurto o caminho, dizendo que caminhei por entre inúmeros autores e autoras, dos clássicos aos contemporâneos, de que gosto muito. Perfazendo um somatório ao que possuo de vicissitudes, cheguei, digamos, até um ponto que não tem um término, visto que, é constante o buscar e o experimentar.

Soletras: O que representa a escrita para si?

Tere: A princípio, vejo-a como uma necessidade de comunicação, uma forma de expressão do pensamento e das ideias. Um aprofundar-se numa fonte de vida intensa e repleta. Um modo peculiar de entendimento e autoconhecimento. Um encontro comigo mesma e com os outros. Não pretendo representar nada que vá além do que os meus leitores possam extrair da minha escrita.

Soletras: Na sua poética, notamo-la tão próxima à Natureza (amor íntimo a residir em si), temática nova não diríamos, diferente sim! Quer comentar?

Tere: Amo a Na t u r e z a . E quando escrevo, de algum modo, a Natureza também escreve: como se tivéssemos um pacto. Respeito muito isso.

Soletras: Fala de pássaros como fosse uma ave, alguma canção para os pássa-ros, as flores, as águas e o intimo e/ou mar?

Tere: A vida é um voo, um mar, um jardim, uma canção. As notas dessa múltipla partitura se diversificam para unirem-se num grande mosaico de palavras, onde todas as formas de vida se perfilam, dançam e confluem.

Soletras: Lidos alguns dos seus livros, sentimos algumas umas proximidades neles: a mesma fluidez, sobretudo na descrição, quer na poesia como na prosa (muita imagem, técnica impar, criação individual). Algum segredo nisso?

Tere: A criação decorre dos sentires e visões que vou percebendo ao meu redor. Sou artista plástica, talvez, advenha disso uma certa habilidade de pintar com as palavras. No mais é tudo fluência criativa sem segredos nem artifícios.

Soletras: Pode partilhar a sua experiência de ser escritora?

Tere: No fundo, eu ainda não me sinto totalmente madura como Escritora. A Literatura requer estudos constantes, viagens noutros e diversos mundos que vão para além das perspectivas, perpassando o próprio ser. Sigo experienciando. Sem ater-me a cânones, academicismos ou técnicas. Simplesmente escrevo pelo prazer de escrever.

Soletras: Sente-se na sua poética uma semelhança técnica (descrição), quando comparada com a de Núria Masot (em “A sombra do templário”). É uma simples coincidência?

Tere: Confesso que desconheço, pelo menos até ver o nome nessa pergunta, a escritora Núria Masot, seu livro e sua técnica. Tenho certeza então que se trata de coincidência, até por que não me atenho, como afirmei na pergunta anterior, a qualquer técnica pré-estabelecida.

Soletras: Como é que olha o mundo através da escrita?

Tere: Como uma forma de ampliar horizontes e conhecimentos. Com abrangências múltiplas e amplitudes inimagináveis. Com limitações também, vezes inúmeras. Há momentos em que penso serem os olhos do mundo que me apanham e me dão palavras. Escrever alarga o meu mundo e a minha vida. Lanço-me então nessa busca contínua e incansável.

Soletras: “Há no livro muitos outros segredos nos convidando a serem explorados com cuidado…” (diz o prefaciador do seu Flor Essência). Quais são esses segredos?

Tere: Digamos que há fios de invisibilidade em cada linha que se lê, independentemente de quem a escreveu ou escreve. Não há nada de intencional nisso, como também, e não há como negar, que existe a pluralidade na sintaxe, um quê de subjectividade que se propõem às aberturas do pensamento: eu não chamaria isso de segredo ou mistério, mas antes de pistas, de insights e signos justapostos a formarem um conjunto no qual o leitor dirá de si mesmo. ante a leitura que o captura justamente por esses fios, não sobrando mais nada ao escritor.

Soletras: Você tem entrado em contacto com alguns livros de autores moçambicanos. Quais? Pode comentar essa experiência?

Tere: Conheço algo da escrita do jovem Lino Mukurruza, versos auspiciosos que li no Facebook, no qual reconheço um grande potencial literário, notadamente na sua poesia. Posso dizer que é um trabalho de alto nível, muito promissor. Através de Lino Mukurruza, também conheci a “Revista Soletras” edição em PDF, onde li o José Craveirinha, um grande poeta moçambicano.
Posso dizer que essa experiência é, para além de enriquecedora, uma grande abertura de horizontes. É imenso saber-se lido e ler escritores de outros continentes. Uma prova a mais de que a arte, essencialmente a Literatura, não conhece fronteiras.

Soletras: Há muitos autores moçambicanos, sobretudo jovens, que vêem no Brasil uma oportunidade para se lançarem na escrita. É realista esta percepção?

Tere: As oportunidades existem, sempre, para todos. Galgá-las, porém, materializando um ideal ou um objectivo, é outra questão. Se houver qualidade, persistência, esforço e um pouco de sorte vejo que é muito possível a esses jovens autores realizarem seus sonhos e virem a ser publicados não apenas no Brasil, mas em outros países lusófonos.

Lino Mukurruza

(Moçambique) Lino Mukurruza (pseud.). Lino Sousa Mucuruza, moçambicano. Publicou “Vontades de partir & outros desejos” – Poesia. (FUNDAC, 2014), “Almas em tácitas” – Poesia (LUA DE MARFIM, 2015) Colabora em diversas revistas, nacionais e internacionais, só para destacar algumas: (“PIRÂMIDE”, “SOLETRAS”, “LITERATAS”, “CORREIO DA PALAVRA” – Revista da ALPAS 21, “XITENDE”, “SINESTESIA” Caderno literário “PRAGMATHA” entre outras). Consta nas antologias poéticas “CLEPSYDRA” – Coordenada pela poeta Gisela M. Gracias Ramos Rosa - (COISAS DE LER, 2014), “À FLOR DA ALMA” – Coordenada pela poeta Sandra Ferrari Radich Fresa - (SOL, 2014) “Vozes do Hiterland” (Letras de Angola, 2014), “PREMONIÇÕES” – (LUA DE MARFIM, 2015), “POEMA-ME” (LUA DE MARFIM, 2015), “POESIA DE PINTAR E SER FELIZ” (LUA DE MARFIM, 2015) na 12 Volume da antologia “LOGOS” (Janeiro, Fevereiro 2015), foi vencedor mencionado e participa na antologia do XXX prémio mundial de poesia “NÓSSIDE” 2014. Vencedor em segundo lugar do 2º Concurso de Literatura da Academia de Letras, Artes Ciências de Brasil (ALACIB). Vencedor em 3º lugar do concurso internacional de literatura ALPAS 21 “a palavra do século” (Brasil, 2015). Actualmente cursa Português na Faculdade de Ciência da Linguagem, Comunicação & Arte da Universidade Pedagógica (Niassa) igualmente membro de direcção (tesoureiro) do Clube de Escritores Poetas & Amigos de Niassa (CEPAN).

Para leitura da revista na íntegra, em PDF, basta clicar no link a seguir:


https://www.dropbox.com/s/2yez527wsyk7wmg/SOLETRAS%20JUNHO%20DE%202015.pdf?dl=0

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Sobre lagartas e borboletas - Poema e Participação

Foto de Marcelo Gallep
Tere Tavares
Sou uma abelha, cuja colmeia é de letras melífluas. Sempre que um novo
favo de folhas se enfeixa, o chamo de livro, e de livros faço enxames. Não
me furto ao alimento que me é primordial à vida: escrevo, com cera resinada
de flores e chuvas, as caixinhas, onde, repartida e inteiramente, me entrego aos que gostam de virar páginas e colher palavras, como néctares para a alma.

Máscara Brasileira

Não definiu a proposta
As formas mais simples.
O que governa
Não escreve a boa tradição.
Na atualidade
E desde sempre
Faz muito tempo
Não é o verdadeiro eu que conta
Antes a concepção mais falsa
Do que deveria ser honestidade.
Canta o povo
Dança seu coração
Não obstante
De novo
Canta o povo
Dança seu coração
Sua alma se perde
E não tem que mudar por obrigação
E ainda pode mudar seu tortuoso caminho
Com seu grito de asas abertas
De inconformismo

Carátula Brasileña

No definió la propuesta
Sensilamente las formas.
Lo que gobierna
No escribe la buena tradición.
En la actualidad
Y desde siempre
Hace mucho tiempo.
No es el verdadero yo que cuenta
Si no la más falsa concepción
De lo que debería ser honestidad.
Canta el pueblo
Baila su corazón
Sin embargo
De nuevoCanta el pueblo
Baila su corazón
Su alma se pierde
Y él no tiene que cambiar por obligación
Y todavía puede cambiar su estorbado camino
Con su grito de alas abiertas
De no conformidad.

Tere Tavares


O e-book SOBRE LAGARTAS E BORBOLETAS já está disponível para venda no site da livraria Saraiva. Adquira seu exemplar clicando no link abaixo:
http://www.saraiva.com.br/sobre-lagartas-e-borboletas-8893578.html

A renda obtida será revertida para Ong Mano Down.Lançamento oficial no sábado, dia 27 de junho, o dia inteiro... compareça: https://www.facebook.com/sobrelagartaseborboletas?fref=nf

Mais detalhes:

SOBRE LAGARTAS E BORBOLETAS

Do “Projeto do Ovo ao Voo” idealizado pelas poetas Adriana Aneli, Adriane Garcia, Chris Herrmann e Maria Balé nasce o e-book “SOBRE LAGARTAS E BORBOLETAS”.

São 75 poetas, de várias idades, estilos e países reunidos com o objetivo de construir visões múltiplas sobre o tema “transformação”.

De sonetos a improvisos repentistas, da prosa poética ao rapper, a liberdade lírica dá o tom à obra e ao exercício poético: desafio e superação, medo e coragem, desejo e libertação.

O livro recebe o selo TUBAP Books, prefácio de Chris Herrmann, projeto gráfico de João Baptista da Costa Aguiar e Angela Mendes, com ilustrações inéditas da artista plástica mineira Cristina Arruda.

A surpresa fica por conta das biografias dos poetas, narradas a partir dos olhos dos insetos que os representam.

A renda obtida com a venda do livro será totalmente revertida para o projeto social MANO DOWN, entidade sem fins lucrativos que promove, através da visibilidade, a igualdade social, para que as pessoas com down e outros deficientes tenham liberdade para dirigir a própria vida.

O Lançamento virtual do livro "SOBRE LAGARTAS E BORBOLETAS", acontece na rede social Facebook no dia 27 de junho de 2015, durante todo o dia, com bate-papo e participação de todos os autores em página criada especialmente para divulgação do projeto, uma oportunidade para discutir literatura com professores, escritores, jornalistas, músicos e premiados artistas:

https://www.facebook.com/sobrelagartaseborboletas?ref=hl

O livro já está à venda pelo site da Livraria Saraiva:

http://www.saraiva.com.br/sobre-lagartas-e-borboletas-8893578.html

Autores:

Adri Aleixo, Adriana Aneli Costa Lagrasta, Adriana Elisa Bozzetto, Adriane Garcia, Afobório Feito de Carniça, Alberto Bresciani, Albino Alves, Alessandro Dornelos, Alexandre Guarnieri, Ana Elisa Ribeiro, Anahí Celeste Cao (Argentina), Bianca Velloso, Caetano Lagrasta, Carlos Magno, Carlos Moreira, Carlos Ventura (Suíça), Carminha Mosmann, Cely de Ceci, Chris Herrmann (Alemanha), Clauco Oliveira, Claudinei Vieira, Claudio Castoriadis, Cris Arruda, Diovani Mendonça (diÔ), Edmilson Felipe, Félix Coronel, Fran Nóbrega, Gabriel Resende Santos, Germana Zanettini, Germano Quaresma, Inês Monguilhott, Iracema Machado, Janet Zimmermann, Jô Diniz, Jorge Nagao, José Couto, José Reginaldo, Lázara Papandrea, Leila Silveira, Líria Porto, Lou Albergaria, Lourença Lou, Luciana do Rocio Mallon, Luciane Lopes, Luís Augusto Cassas, Luiz Gondim, Mag Faria, Maite Voces Calvo, Maria Balé, Mariana Queiroz, Marília Lima, Marina Bozzetto, Marcelo Adifa, Marcelo Moro, Marcos Magoli, Marcus Fabiano, Nil Kremer, Norma de Souza Lopes, Paulo Bentancur, Paulo de Toledo, Paulo Guilherme, Paulo Magalhães, Paulo Paterniani, Rogério Miranzelo, Seh M. Pereira, Sonia Salim, Suzana Pires, Tania Amares, Tejo Damasceno, Tere Tavares, Thiago Prada, Vera Molina, Wander Porto, Winston Morales Chavarro e Zeca Jardim.

Agora o livro "SOBRE LAGARTAS E BORBOLETAS' , numa estação de felicidade, ganhará também a versão impressa que começará a circular a partir de Agosto de 2015. Não fique sem o seu exemplar:
EXTRA! EXTRA! "Asas formadas, a borboleta está pronta para sair do casulo em forma de obra de arte: SIM nosso livro vai ganhar versão impressa!!!

Com selo editorial da Scenarium, teremos uma edição artesanal, com exemplares numerados e costura oriental.

Conheça o trabalho de Lunna Guedes:

https://scenariumplural.wordpress.com/

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Adágios

Uva e Vinho - Aquarela 2014 BY Tere Tavares


Adágios

Entre aceitações e esperanças, a presença do temor não pressupõe covardia, ausência de lucidez ou verdade, porventura uma incorrigível curiosidade ambiguamente vivaz, não absoluta, pela mesma propositura de que nada é absoluto.

Como se o relógio caminhasse em inação, não recebia ecos no oco da emoção, solar – fruto do distanciamento que não obtinha. O chapéu e os óculos esquecidos, como o amontoado de endereços onde a ousadia escorregava por denunciar no rubor do silêncio o ridículo perdão da fala.

Objetando-se à hipocrisia, continua a dispor na mesa os pratos com verdades convenientes e loucuras aceitáveis. Abre a longitude nas toalhas inodoras das uvas, das vinhas, clamando a supressão de sarmentos, cordões e troncos – os cachos frondosos como as folhas que os vem proteger, para não se transformarem em videiras sem braços. Contudo, a morfologia será a mesma, na essência ou na gema não há nada para suplantar... quando o cálice é a retirada dos brotos, a desfolha amadura o  fruto à cumplicidade dos carvalhos, o mosto fecundo dos vinhos.

Depois de She obteve a certeza de que possivelmente havia um talvez que lhe pertencesse. Ao traduzir a leitura, especulando os últimos anos de quase completa deserção desfruta a graça que afinal não se perdera. Não em She.

Apesar de perceber a palidez, imersa na decoração, mais diminuta a cada vez que se punha em frente à luz...a  diluição das possíveis modelagens , não tinha certeza, era culpa da sua ingenuidade, falta de atitude ou excesso de cuidado. Atitudes drásticas também não eram afetas de She.

Queria ser como uma touça de bambu e seqüestrar muito carbono, dirimindo a poluição da alma que  não se originava na queima das folhas, mas de algo que em She era fóssil por reconhecer há tempo aquela feliz desconhecida.

Na difusão dos pormenores havia têmperas de futuro. Ousar sonhá-lo passa distante de supor obtê-lo, pois de verdadeiro, talvez nem o hoje exista. O que importa é a troca –  moedas infantis e frágeis, revestidas de uma inocência quase reprovável –  sem  perda de validade.

Convalescendo a fios precisos pede sobretudo, que a sua saudade não sucumba na mesma intensidade quanto a que lhe deixam,  que não lhe neguem permanecer recordando o inextinguível quando a areia lhe alcançar a cor que a reservará.
  
O silêncio carrega a mesma crueldade e indiferença da fala –  deseja não sentir nada por ninguém. Rebusca o solo, repisa-o. Nada. Ainda a mesma coisa. Absolutamente impossível. Em cada lado do lodo resgata esculturas multiformes, sonhos talhados à força de não negar forças. Cegueiras que enxergam feito um ser pequenino que espreita com ansiedade às ríspidas aberturas, suaves adormecimentos de Natais esmerados, alinhavando perspectivas no esmaecido tropel de esperanças à guarda de uma oferta que o devir  lhe oculta. Somente a loucura lhe entrega uma fração da verdade – diversa da razão – por refletir-se na mais absoluta verdade: a inexistência do temor que só aos insanos é concedida.


do livro Entre as Águas (prosa 2011) By Tere Tavares