sábado, 10 de junho de 2017

Do que o círculo ouve

Rosa Oceânica - Arte By Tere Tavares

Do que o circulo ouve

Elbiah não deixa nunca de finalizar a frase antes que o sono chegue.  Na sincronia do mar, sua alma navega como uma canoa subtraída que, talvez, pouse numa praia inóspita e resgate uma aurora a descer com sonhos e impaciências no compasso em que dançam as ondas. Como se esperasse acostumada à ausência, Elbiah agarra-se no sargaço que escurece a orla, suporta maresias e ventos como um carinho gestado impregnando a pele das pedras. No engodo de suspender-se, deixa-se ficar com o fervor dos veleiros esquecidos, chamados uma mulher de sorte ou desejos ou cavalos de ébano: “não me furtei de ser-te o sonho infuso nem de sonhar-te. Chegarei a tempo de roçar as chuvas e aclarar-me nos teus gestos”.
(Originalmente publicado na revista "Escritoras Suicidas" de Outubro/2016
http://www.escritorassuicidas.com.br/edicao52_4.htm#teretavares52

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