domingo, 11 de junho de 2017

Bradha

Bradha
Era linda como o canto dos pássaros refletido nos rios. Deliciava-se no calor das tardes em que lhe coube a doçura de um invólucro sem imperfeições. Era mais que o silvo sedento de um ser conflituoso, como naquele dia em que ousou confiar num sentido esquerdo, terna como os anjos que, displicentemente, lhe sopravam segredos que lhe escorriam do rosto feito um poema recém-nascido. Ela não se pertencia. Não tocava a realidade com o porquê buscado, e o buscado porquê de haver chorado um mar sendo apenas uma gota agudizada.


E ali deitar outra impossibilidade, outra tolice impensada. “Superar menina. Superar. Que a vida é dos saberes e não”. Ela não lavou os cabelos. Protegeu os ouvidos com o improviso – o ar frio tem lá seus caprichos, o frio artificial é ruim como tudo o que é artificial. Por vezes o conforto gera o seu oposto. Há que saber do inconsciente das poses e das posses. A natureza não aceita interferências ou excessos sem cobrar a conta. Inércia foi tudo o que lhe restou naquele não dia. Era uma mulher de sorte. Afinal, delgada é a linha entro o acerto e o tropeço. 

A partir do original publicado em:

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