sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Fortuna crítica do Texto Acácia - Original publicado em 2013 na Germina - Revista de Literatura e Arte

Rosas de Verão-2016- Aquarela - Tere Tavares



Acácia

Onde se esgarçavam os labirintos sorridentes do céu? Quando se despira a noite para que dançassem sobre si as estrelas?
“Os peixes beijam arbustos à linha da água que se perfila na argila da minha alma. Teu corpo. Eu sorrio para que venhas banhar-me a fronte com o burburinho dos pássaros. Será que o sono dos pássaros é um dormir? Germinei em ravinas as telas melódicas da realidade. Como dizer-me se não seria eu a falar o motivo da minha vinda incontornável. Numa lua que não vejo, penso cultivar o teu sorriso telúrico a tua tez de orvalho num incêndio sem direção a ranger no horizonte, onde nascem as ancas anônimas do recomeço. Alguém indica onde está o arborescer que falta? À boca das proas alicerçadas nos teus olhos de harpa, tuas mãos de navios dedilhando-me em lentíssimas vagas, docemente”.
Inventou a luz, mas as estrelas não se perderam. Precisava de um manto para encobrir a desilusão na perícia inconclusa das metamorfoses para suster os pontos ínvios, coragem era tudo que lhe restava – mesmo ante o medo de perdê-la. A espessura lúcida evidenciava a volúpia vital que lhe envolvia os lábios, no diafragma das primícias diluídas e sem regresso, para onde confluem as palpitações das pedras, os alvéolos do vento. Não é somente as cepas de um espécime extinto ainda tilintando num sem rumo de solidão soprando-lhe os ombros, num tropeço entre espuma e água: marés, dardos e grãos.
“Não nos perdemos, apenas nos distraímos. Sabes? Aquele tempo incolor em que descascamos. Como gravetos de chuva ...criamos beleza, nunca o distanciamento”.
Então pousou os olhos sobre o seu brilho. Seu corpo. A terra em mais um pomar consumido em seu início intacto. À sua similitude.
Texto e Arte: Tere Tavares
Publicado originalmente na Germida - Revista De Literatura e Arte- 2013.

https://www.germinaliteratura.com.br/2013/ageneticadacoisa_teretavares_dez13.htm?fbclid=IwAR2bskLjXTrXdDG8GaSZ_O3M6-bpPnDtIAxzZ5nnQsj1ENsOtrzhiBzHweg


    Giovanni Francomacaro: Tere, testo e dipinto sono bellissimi! Complimenti!

    Francisco Da Cunha

    Sim , o texto e o que o acompanha, a pintura, se harmonizam na indefinição dos sentidos, na imanência do significado poético através do recursos metafóricos espraiados ao longo da linguagem tornada prosa-poesia ou poesia-prosa. Os enigmas das vozes que se ouvem se confundem entre si e falam uma linguagem que só quem desfruta da captação do poético pode entender. Um texto que equivale a um poema no qual as indeterminações são provocados por sensações simbólicas várias e multifacetadas. Parece um espaço onírico, onde beleza de formas e sentimentos afloram à superfície das águas oceânicas. Seu texto é pura poiésis.

     Raquel Gallego: Siempre comprendiendo la hermosa relación del hombre y la naturaleza... gracias por tu sensibilidad,Tere.

    Patrícia Claudine Hoffmann
    Tudo tão mágico... de outros mundos habitantes de ti. Obrigada por trazer tanta beleza. Que bom ter você perto da gente.

Guida Luis
Lindíssimo texto querida amiguinha Tere, nele há vida, cores, odores, tudo de belo que existe! A aquarela é imensamente bela!

Cristina Rinaldi
È meraviglioso cara Tere, sei una grande poetessa.


Nenhum comentário: