segunda-feira, 22 de julho de 2019

Do que o círculo ouve

Arte: Tere Tavares

Elbiah não deixa nunca de finalizar a frase antes que o sono chegue.  Na sincronia do mar sua alma navega como uma canoa subtraída que talvez pouse numa praia inóspita e resgate uma aurora a descer com sonhos e impaciências no compasso em que dançam as ondas. Como se esperasse acostumada à ausência Elbiah agarra-se no sargaço que escurece a orla suporta maresias e ventos como um carinho gestado impregnando a pele das pedras. No engodo de suspender-se deixa-se ficar com o fervor dos veleiros esquecidos chamados uma mulher de sorte ou desejos ou cavalos de ébano. Não me furtei de ser-te o sonho infuso nem de sonhar-te. Chegarei a tempo de roçar as chuvas e aclarar-me nos teus gestos.

Tere Tavares
Na ternura das horas- ensaios- 2017

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