dezembro - v. 11, n.(2015)
http://www.germinaliteratura.com.br/2015/livros_vozes_e_recortes_por_krishnamurti_goes_dos_anjos.htm
Para leitura acesse o link acima.
Agradeço ao escritor Krishnamurti Góes Dos Anjos pela resenha
e à Germina - Revista de Literatura e Arte pela publicação. Meus agradecimentos à Mariza Lourenço pela recepção e edição. Grande abraço. |
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Publicação na Germina - Revista de Literatura e Arte
Publicação na Revista Germina - Revista de Literatura e Arte
Publicação na Revista FÉNIX LOGOS Nº 18 JANEIRO de 2016
UMA EMBARCAÇÃO PENSADA PELAS ÁGUAS
Por Tere Tavares
Por Tere Tavares
À lágrima que sorri. À grafia das faces. Há tesouros que preferem ficar nos baús. Os tesouros inúteis.
“Serei sempre algo mais do que os sorrisos que chorei. Não há nenhuma diferença entre mim e essas estátuas; ambas somos estátuas a moverem-se passivamente, ramos de luas onde somente o solo nos retorna ao que somos, por sermos feitas à cava lentíssima das argilas que não cozem, como espelhos ao contrário, prisioneiras da liberdade. Há quantas investigações os olhos? A ausência de verdade? Do trigo ao pão, quanto é grão? Infecundidade dos devires”?
O sal não é mais que a terra. Para Josef, a rebeldia é a natureza do mundo. O silêncio aquoso desaba sobre o dia rendilhado de avencas. Epigramas de gotas colorem as fissuras das casas redobradas de transparências, sem jamais serem as mesmas casas, escorregando num desluzir contínuo e mudo a defluência das janelas, o alinhamento impassível das pausas, no pó descascado pelo vento.
O sol-pôr que adentra esculpe a chávena repleta, nunca meio vazia nem meio cheia. O cascalho se completa com vozes plissadas em halos, com profundas meditações. Nada é infecundo na poética de edificar (se), ou desejar criar um mundo a partir de si. “Deixa-me nascer somente agora, neste pequeno olvido de estrelas”. Perdurava intransferível, suplicante como o ar onde jogava letras, letras e mais nada, para desgrudar o mosto inodoro das asas. Porque não lhe foi dado ser, senão um estar. Não somos antigos nem moços, somos as lacerações ardilosas do tempo, a raça humana, um bando de necessitados. Josef é a incredulidade a dizer que ainda é possível acreditar num coração com orquestras. E há nele um céu aceso e um sopro musical.
“Existem momentos em que redescubro as finalidades da luz, o lusco-fusco remoído à clareza do breu. Porque a palavra carrega a pungência de tudo o que vive, como num trabalhoso ócio, transmutando-se em seiva de linguagem inata do que me integra, ainda que não conheça. Porque fora do tempo existe o espaço, a não existência ou só um retalho metafísico, outras solidões, também sós, a palha que virou chapéu. Quanto de mim sou eu nisso tudo, qual dos meus silêncios murmura o inteiro do que já não mora aqui dentro? Enrolo a língua dentro das folhas, folhas fora, folhas todas, mudas folhas. Sou folhas soltas, línguas soltas. Ondulo nas folhas para existir. O meu rosto é uma folha, um amontoado de folhas nervuradas pela vontade. Lanço-me nos horizontes permissíveis, feito sol, feito raio de borboletas, de não me guardar, não mais. Ah, pudesse eu compreender as ervas, a mastigação dos pássaros, cinco selvas depois dos poros sulcados na escuridão abissal das mãos”.
Josef perdura no cicio oculto das cigarras e para não perder-se na sinceridade de si mesmo, agarra-se ao vento, traindo as amarras que o libertam. Anota o futuro dos papéis dentro das lágrimas. A casa emudece, como antigamente, como sempre, como as palavras e as sínteses ambíguas, sentimentos e sentidos dizendo além dos instantes que veem morar nas linhas quase antigas da sua face, expressão e significância moldando-se entre os desvãos que vão ou não formar.
Josef nunca sabe o alcance, as envergaduras de algo antes do arremesso. Mas, é possível que haja, para ele, algo a intuir claramente, a obscurecer a inexatidão das causas, escassez ou demasia, uma fragrância obtida no ato de camuflar ou exibir, na visão ou na cegueira, um corredor que lhe insinua o caminho ilusório e imenso da linguagem; sementes da cor, do sonho que transfiguram a arquitetura do seu sopro, o balbucio inclemente da imaginação. Dias de decisões escolhidas a esmo que o sangram e o singram como círculos de chuva seca, como páginas sem aridez, como Josef.
do livro "Vozes & Recortes" Contos -Editora Penalux -2015
Tere Tavares
Cascavel - PR - Brasil
http://m-eusoutros.blogspot.com.br/
sábado, 30 de janeiro de 2016
Vozes & Recortes - Resenha por João Paula Santos Pires.
Editora Penalux
Resenha do Livro: "Vozes & Recortes", contos. Autora: Tere Tavares.
“Eu não quero ser compreendida, o amor me parece ser importante.” A frase de Lygia Fagundes Telles parece dialogar com Vozes & Recortes, quinto livro da escritora Tere Tavares. Resguardado por imagens que se ondulam em frases belas, Vozes & Recortes cintila por composições que, no âmago, têm um propósito sublime. Tavares propõe ao leitor a magia de lhe sublimar a essência, de fazê-lo [re]crer no amor como um construtor de cisternas.
Outrossim, o brilho representado pelo texto conserva sua força quando se quebram os diques da contenção formal e dos padrões estáticos e estéticos. Os escritos esboçam o lavrar singelo e terno de mundos que pedem compreensão, mas de onde os olhares são condoreiros e se pontilham de cima para baixo, na multiplicidade das recepções: Nada escapa a quem tem em si o fragmento de todos os sóis.
Tere Tavares se reveste em âmbares de subjetividade e afinco, que palmilham os caminhos da utopia e do sonho. Aliás, os contos se fantasiam de imagens oníricas que desafiam as lentes do mundo categórico e perene. No limite entre parágrafos e expectativas, cabe ao leitor admirar o inebriare da criação lúcida e do sentimento desinibido. Afinal, Vozes & Recortes é o compêndio de uma lucidez que há muito deixou de ser peremptória. Nos contos de Tere, o instante não é definitivo e não existem versos indiscutíveis. Irrefutável é o poder da autora de metamorfosear os domínios da realidade e de expressar horizontes inefáveis no céu de sua literatura:
“Eram asas construídas de pedaços para não omitir aos pássaros a boca da paisagem absoluta – até que falasse, por dentro, somente a limpidez de antes. Algo que eu amava e se transformara em partes de mim mesma: uma soberana inocência capturando o silêncio”.
Em suas Vozes & Recortes, Tere Tavares captou muitos silêncios, que se desenharam de flores e introspecção, de incógnitas, de poesia e de caminhos escuros que clamam por luz. No universo de liberdade da autora, os silêncios podem ser musicais e mesclados, acomodados e plenos. E toda plenitude precisa de recantos estrelados para despontar. Quanto de mim sou eu nisso tudo, qual dos meus silêncios murmura o inteiro do que já não mora aqui dentro?
Caberá também ao leitor conservar a cautela, sobre o agradável risco de se perder em contemplação. Quando voltar a si, poderá já ter sido envolvido pelo silêncio da sonoridade e pelas estrelas de ritmo, com as quais a autora faz questão de nos presentear. De volta à compreensão racional, o emaranhado de palavras terá cumprido seu especial intento: emocionar. E então a arte resplandece na atmosfera paisagística de Tere. Afinal, suas palavras podem caminhar livres em jardins silenciosos. Podem se renovar em mesclas, vozes, laços, recortes. Antes que o parágrafo termine.
Outrossim, o brilho representado pelo texto conserva sua força quando se quebram os diques da contenção formal e dos padrões estáticos e estéticos. Os escritos esboçam o lavrar singelo e terno de mundos que pedem compreensão, mas de onde os olhares são condoreiros e se pontilham de cima para baixo, na multiplicidade das recepções: Nada escapa a quem tem em si o fragmento de todos os sóis.
Tere Tavares se reveste em âmbares de subjetividade e afinco, que palmilham os caminhos da utopia e do sonho. Aliás, os contos se fantasiam de imagens oníricas que desafiam as lentes do mundo categórico e perene. No limite entre parágrafos e expectativas, cabe ao leitor admirar o inebriare da criação lúcida e do sentimento desinibido. Afinal, Vozes & Recortes é o compêndio de uma lucidez que há muito deixou de ser peremptória. Nos contos de Tere, o instante não é definitivo e não existem versos indiscutíveis. Irrefutável é o poder da autora de metamorfosear os domínios da realidade e de expressar horizontes inefáveis no céu de sua literatura:
“Eram asas construídas de pedaços para não omitir aos pássaros a boca da paisagem absoluta – até que falasse, por dentro, somente a limpidez de antes. Algo que eu amava e se transformara em partes de mim mesma: uma soberana inocência capturando o silêncio”.
Em suas Vozes & Recortes, Tere Tavares captou muitos silêncios, que se desenharam de flores e introspecção, de incógnitas, de poesia e de caminhos escuros que clamam por luz. No universo de liberdade da autora, os silêncios podem ser musicais e mesclados, acomodados e plenos. E toda plenitude precisa de recantos estrelados para despontar. Quanto de mim sou eu nisso tudo, qual dos meus silêncios murmura o inteiro do que já não mora aqui dentro?
Caberá também ao leitor conservar a cautela, sobre o agradável risco de se perder em contemplação. Quando voltar a si, poderá já ter sido envolvido pelo silêncio da sonoridade e pelas estrelas de ritmo, com as quais a autora faz questão de nos presentear. De volta à compreensão racional, o emaranhado de palavras terá cumprido seu especial intento: emocionar. E então a arte resplandece na atmosfera paisagística de Tere. Afinal, suas palavras podem caminhar livres em jardins silenciosos. Podem se renovar em mesclas, vozes, laços, recortes. Antes que o parágrafo termine.
Tere Tavares Emocionadamente agradecida ao Joao Paula Santos Pires e àEditora Penalux, Wilson Gorj e Tonho França por esse presente, essa resenha que guardo com o maior apreço. Estou deveras feliz, De perder a fala. Obrigada. Merci. Gracias. Thanks. Grazie.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
Publicação na Revista eisFluências - Dezembro de 2015.
Revista eisFLUÊNCIAS -Dezembro/2015-38ª Edição-EDIÇÃO ESPECIAL DE NATAL com
232 participações de 16 países. Eu consto na página 35.
Grata pela publicação Carmo Vasconcelos e Henrique L. Ramalho nessa belíssima e especial edição de Natal da Revista eisFluènciasl, ao mesmo tempo que os parabenizo pelo exímio trabalho! Um feliz Natal! Grande e fraternal abraço.
POR JESUS CRISTO
Tere Tavares
Tere Tavares
Há muito espaço no tempo que foi por Ele dividido.
Sobram ternura e acolhimento nos Seus olhos que no céu se misturam às estrelas, porque a Ele semelhantes.
E Sua sabedoria nos deixou uma herança de bens intocáveis e nunca extintos.
Antes Dele e Depois Dele.
Esse que nos visita estejamos onde estivermos
E nos abençoa ainda que não lhe peçamos
E partilha conosco a sua vida e com sua presença oculta nos contempla como Irmão e como Pai e como Amigo inseparável.
Porque Nascido para morrer sobre nós a Sua Vida
O amamos para sempre e sempre.
Tere Tavares
Cascavel, Paraná, Brasil
https://www.facebook.com/tere.tavares.1
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/revista/eisFluencias/38-DEZ15/eisFluencias_Nov_2015_6_38-35.htmO amamos para sempre e sempre.
Tere Tavares
Cascavel, Paraná, Brasil
https://www.facebook.com/tere.tavares.1
terça-feira, 24 de novembro de 2015
VOZES & RECORTES um livro de Tere Tavares
Resenha por:
Krishnamurti Góes Dos Anjos
Krishnamurti Goes dos Anjos é escritor e pesquisador. Autor de “Il Crime dei Caminho Novo” (Romance), “Gato de Telhado”, “Um Novo Século”, “Embriagado Intelecto e outros contos” e “Doze Contos e meio Poema”. Tem participação em várias coletâneas e antologias, algumas resultantes de prêmios literários. Possui textos publicados em revistas literárias na Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Panamá, México e Espanha. Seu último livro, “O Touro do rebanho”, publicado pela editora portuguesa Chiado, obteve o primeiro lugar no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores UBE/RJ em 2014, na categoria Romance.
Agradeço imenso caro Escritor Krihnamurti Goes dos Anjos tuas impressões sobre o livro "Vozes & Recortes" me deixam bastante feliz. Honrada pela leitura e apreciação.
Agradeço, mais uma vez, à Editora Penalux,pela publicação. Grande abraço.
Krishnamurti Góes Dos Anjos
A palavra constitui o grande veículo de expressão do conhecimento que o homem tem das coisas. E a imaginação a condição primeira de todo o conhecimento. Verdade consensual no mundo do homo sapiens.Muito bem. De que forma a literatura contribui para a difusão deste conhecimento? Contribui na medida em que lança mão da imaginação criadora transfigurando o real e transformando a realidade palpável, organizando-a dentro de novas sínteses e novos sistemas, que estão atrelados ao universo interior de seus produtores. E é assim que esta experiência colhida no contato com a imaginação criadora do escritor nos enriquece, pois nos insinua novos caminhos a seguir. Verdade também consensual, todavia muito pouco conhecida.
Avancemos mais. Grosso modo, há um modo de ser e vera realidade tipicamente poético e outro tipicamente prosaico. No primeiro o “eu”, matriz das artes, assume-se como espetáculo e espectador ao mesmo tempo; já na prosa, há um movimento do “eu” para fora de si. Em síntese: duas cosmovisões diferenciadas, embora complementares.
Essas breves considerações nos vêm à mente ao iniciar a leitura de ‘Vozes & recortes’ de Tere Tavares, Editora Penalux – Guaratinguetá – São Paulo, 2015 – 112p. Este livro se nos afigura como obra singular no atual panorama da literatura brasileira contemporânea. Poesia e prosa andam juntas nesta obra e ambas se nutrem do mesmo lastro subjetivista e transfigurador da realidade. Os 28 textos ali reunidos não se prestam à formas engessadas, à “belezas” formais predeterminadas. Com a sabedoria instintiva dos criadores, a autora sabe que a arte é uma consequência da criação, não o cumprimento de uma meta estética preestabelecida. Assim é que prosa e poesia se atraem e se fortalecem em confluências e novos trançados. Dessa recíproca atração advém o fato de que certos trechos constituem verdadeiras clareiras poéticas como o exemplo abaixo extraído do belíssimo texto: “Nada diz mais do que uma folha em branco”:
“Então se recolhe: ‘A criação é notadamente silenciosa, solitária, até mesmo angustiante – mas traz entranhada consigo o prazer de criar’. E isso é tudo o que lhe importa. Toda a virtuosidade que alcança se alastra através da leitura que faz do mundo ausente das bibliotecas. Então sonha: ‘Com as palavras nas faces quero atravessar o silêncio e suprir a falta das asas, a mística leveza de um retorno a um originário berço de estrelas, e obter, enfim, a alforria do efêmero, de mim.”
Introspectiva, intuitiva, capaz de descer fundo para abeirar-se do indizível, a autora surpreende-nos com uma linguagem de expressão trabalhada, aflita e profundamente criativa: “O que posso dar ao mundo significa o nascer contínuo, a invenção de um amor original, um gesto genuíno, essencialmente, uma inocência”.Em outros trechos, verdades estonteantes onde o pensamento escapa do óbvio, se esgueira pelos meandros da ambiguidade e revelam frases luminosas que estremecem de súbito a superfície do relato:
“Porque a palavra carrega a pungência de tudo o que vive, como num trabalhoso ócio, transmutando-se em seiva de linguagem inata do que me integra, ainda que não conheça. Porque fora do tempo existe o espaço, a não existência ou um só retalho metafísico, outras solidões, também sós, a palha que virou chapéu”.
Tere Tavares roça verdades existenciais com as asas de luminosos trechos esvoaçantes a revelar-nos a estranheza dessa contingência a que chamamos vida: “Não somos antigos nem moços, somos as lacerações ardilosas do tempo, a raça humana, um bando de necessitados. Josef é a incredulidade a dizer que ainda é possível acreditar num coração com orquestras. E há nele um céu aceso e um sopro musical.”
Prosa poética, poesia em prosa, ou que nome se queira dar à literatura de Tere Tavares, já não importa. O fato inconteste, a merecer aplausos, é que a liberdade estética adotada pela autora, dentre muitas coisas, também nos dá conta de que vivemos em um tempo, no qual nossas almas estão sufocadas, esmagadas em favor de valores para os quais o homem é objeto desimportante. Não seria esta a mais nobre função da literatura? Com efeito.
Krishnamurti Goes dos Anjos é escritor e pesquisador. Autor de “Il Crime dei Caminho Novo” (Romance), “Gato de Telhado”, “Um Novo Século”, “Embriagado Intelecto e outros contos” e “Doze Contos e meio Poema”. Tem participação em várias coletâneas e antologias, algumas resultantes de prêmios literários. Possui textos publicados em revistas literárias na Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Panamá, México e Espanha. Seu último livro, “O Touro do rebanho”, publicado pela editora portuguesa Chiado, obteve o primeiro lugar no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de Escritores UBE/RJ em 2014, na categoria Romance.
Agradeço imenso caro Escritor Krihnamurti Goes dos Anjos tuas impressões sobre o livro "Vozes & Recortes" me deixam bastante feliz. Honrada pela leitura e apreciação.
Agradeço, mais uma vez, à Editora Penalux,pela publicação. Grande abraço.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Coletânea A arte pela escrita Oito
Acaba de cruzar o Atlântico, direto de Portugal para minha casa,
a Coletânea de prosa e poesia - 2015 -"A Arte pela Escrita Oito"
da qual participo com as prosas "Depois do céu", "Estro" e "Acácia", numa publicação conjunta com EscritArtes Goretidias e a editora Mosaico de Palavras.
Gratidão imensa à Goreti Dias e Dionísio Dinis pelo convite. Parabenizo-os pelo belo formato e conteúdo da Coletânea, resultado do excelente trabalho e dedicação à Literatura. Parabéns também a todos os participantes de todas as nacionalidades. Tim-Tim!
Acácia
By Tere Tavares
Onde se esgarçavam os labirintos sorridentes do céu? Quando se despira a noite para que dançassem sobre si as estrelas?
“Os peixes beijam arbustos à linha da água que se perfila na argila da minha alma. Teu corpo. Eu sorrio para que venhas banhar-me a fronte com o burburinho dos pássaros. Será que o sono dos pássaros é um dormir? Germinei em ravinas as telas melódicas da realidade. Como dizer-me se não seria eu a falar o motivo da minha vinda incontornável. Numa lua que não vejo, penso cultivar o teu sorriso telúrico, a tua tez de orvalho num incêndio sem direção a ranger no horizonte, onde nascem as ancas anônimas do recomeço. Alguém indica onde está o arborescer que falta? À boca das proas alicerçadas nos teus olhos de harpa, tuas mãos de navios dedilhando-me em lentíssimas vagas, docemente”.
Inventou a luz, mas as estrelas não se perderam. Precisava de um manto para encobrir a desilusão na perícia inconclusa das metamorfoses para suster os pontos ínvios, coragem era tudo que lhe restava – mesmo ante o medo de perdê-la. A espessura lúcida evidenciava a volúpia vital que lhe envolvia os lábios, no diafragma das primícias diluídas e sem regresso, para onde confluem as palpitações das pedras, os alvéolos do vento. Não é somente as cepas de um espécime extinto ainda tilintando num sem rumo de solidão soprando-lhe os ombros, num tropeço entre espuma e água: marés, dardos e grãos.
“Não nos perdemos, apenas nos distraímos. Sabes? Aquele tempo incolor em que descascamos. Como gravetos de chuva. Criamos beleza, nunca o distanciamento”.
Então pousou os olhos sobre o seu brilho. Seu corpo. A terra em mais um pomar consumido em seu início intacto. À sua similitude.
Escreveu esquecendo o tempo, abstraindo-se de tudo. As palavras pululavam em sua mente, num primeiro momento, fragmentadas em pensamentos e sentires, para não furtar-se à sinceridade dos personagens. O leitmotiv surgiu-lhe a partir da reflexão sobre o quanto é possível a des-configuração da imagem de si mesmo ou de outrem, ante os atropelos instados constantemente pelos acontecimentos e vicissitudes cotidianas, que a tudo querem dar forma brevíssima, por atalhos e caminhos imprevisíveis.
Deu lugar às paisagens que comumente não vemos, ao detalhe que muitas vezes nos escapa, nunca, porém, sem impregnarmo-nos dos seus rastros. Promoveu um prelúdio onde as emoções, aparentemente, se destroçavam.
O único e o outro, também único, tracejam, coincidem num pacto capaz de promover resgates, aproximações impensadas. Sentiu e quis insinuar ou subverter como objetivo daquele instante criativo, a possibilidade, sempre existente, de um momento de busca que se bifurca entre uma e outra alma. Como na confluência de dois rios: o encontro.
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Estro
“Há um Silêncio enorme em nós que nos chama acenando, e a entrada neste Silêncio é o começo de um ensinamento sobre a linguagem do céu. Porque o Silêncio é, em si, uma linguagem de profundidade infinita, mais fácil de entender porque não contém palavras, mais rica em compaixão e em eternidade do que qualquer forma de expressão humana. Não há nada no mundo que se pareça tanto com Deus quanto o Silêncio.” - Mestre Eckhart de Hochheim
Não sei se fecho os olhos reservando-me num ruído onde os casulos não vibram. Sou uma canção que navega impérvia, na espessura do limbo; uma erva errante que sucumbe sobre as pedras, isenta da sabedoria das vindimas e dos favos. A angústia é uma grade invisível, um anseio por gotas e fogo que me desarma. Com esse diminuto par de luas quero silenciar o incêndio, a água, os fins, o eriçar das épocas. A voz do que amo é um sorriso, um salvamento que se dissipa para desordenar-me. Minha pele é uma canoa que guarda o momento de ser nascente e rio e mar e foz. Algo é brisa e é renúncia e esquecimento ou vício em meus azuis anúncios. Desejo ver na minha nudez a serenidade que cobre a fuga, o jejuar da palavra, a migração das mariposas sem destino. Ou ninguém. Angelical e temporário, persistente como a juventude, como o sol que se recolhe numa pausa sem pálpebras. Não me dei conta das escalas profusas, das perfurações que se desprendiam numa linha indevassável e quase definitiva, inquirindo-me impiedosamente, onde eu havia perdido o melhor de mim. Onde estive quando não estive comigo? Arrependo-me, mas não é suficiente... um pássaro sem murmúrios adormece-me o peito, como cios que não se findam, como a sombra que ilumina a estranheza difundida nas pupilas. Porque é o sol que faz girar a flor. Porque os olhos se acostumam com a luz e aceitam a circularidade retornando àquilo que precede e ofusca. Porque é necessário ser todos e nenhum.
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Depois do céu
“Ele [Deus] é a riqueza em profusão porque é Um. Ele é o primeiro e o supremo porque é Um. Por isto, o Um penetra todas e cada uma das coisas, e permanece Um, unificando o separado. Por isto é que seis não são duas vezes três, mas seis vezes Um”. (Mestre Eckhart de Hochheim )
“Tenho todas as faces, sou todos os rostos que desconheço. A palavra não se perde no candeeiro do horizonte e é sempre outra palavra. E tem faixas e agulhas lúcidas sobre o fervilhar azul da pele, o calor glacial dos nervos. Quando enfim se reconstituirão os meus ossos em nódulos robustos beijando-me como estrofes de orvalho postas num piano ou as tranças de uma rede perdida num sorriso ondulado, numa quase amnésia do vento, elã.”
Enquanto dormia despertou e viu que o amor era somente o amor.
“Arrisco a riscar o chão, coberto por flocos de solidão.”
O que lhe sombreia os ombros são os imensos letreiros arrebanhados nas restingas rudes, nas arenas vazias, são dorsos que destoam o drama das coexistências, os volumes e tramas dos vincos e vivências, intenções desmaiadas no encalço do que se ausenta e persiste e desencontra o tempo que soçobra nos movimentos e assoma em constelações supérfluas, em brilhos escuros que suplicam o arrematar das chuvas, dedilhando deidades e ferrugens, um sol resplandecente para ouvir-lhe a arte que arquiteta nos resgates das analogias e das contenções. Sabe apenas uma pista de si:
“Hoje fui a asa que não tive. Meu quinhão é a incerteza dos dias. Por saber a pássaros e prolongar-me neles.”
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textos By Tere Taavares
a Coletânea de prosa e poesia - 2015 -"A Arte pela Escrita Oito"
da qual participo com as prosas "Depois do céu", "Estro" e "Acácia", numa publicação conjunta com EscritArtes Goretidias e a editora Mosaico de Palavras.
Gratidão imensa à Goreti Dias e Dionísio Dinis pelo convite. Parabenizo-os pelo belo formato e conteúdo da Coletânea, resultado do excelente trabalho e dedicação à Literatura. Parabéns também a todos os participantes de todas as nacionalidades. Tim-Tim!
Acácia
By Tere Tavares
Onde se esgarçavam os labirintos sorridentes do céu? Quando se despira a noite para que dançassem sobre si as estrelas?
“Os peixes beijam arbustos à linha da água que se perfila na argila da minha alma. Teu corpo. Eu sorrio para que venhas banhar-me a fronte com o burburinho dos pássaros. Será que o sono dos pássaros é um dormir? Germinei em ravinas as telas melódicas da realidade. Como dizer-me se não seria eu a falar o motivo da minha vinda incontornável. Numa lua que não vejo, penso cultivar o teu sorriso telúrico, a tua tez de orvalho num incêndio sem direção a ranger no horizonte, onde nascem as ancas anônimas do recomeço. Alguém indica onde está o arborescer que falta? À boca das proas alicerçadas nos teus olhos de harpa, tuas mãos de navios dedilhando-me em lentíssimas vagas, docemente”.
Inventou a luz, mas as estrelas não se perderam. Precisava de um manto para encobrir a desilusão na perícia inconclusa das metamorfoses para suster os pontos ínvios, coragem era tudo que lhe restava – mesmo ante o medo de perdê-la. A espessura lúcida evidenciava a volúpia vital que lhe envolvia os lábios, no diafragma das primícias diluídas e sem regresso, para onde confluem as palpitações das pedras, os alvéolos do vento. Não é somente as cepas de um espécime extinto ainda tilintando num sem rumo de solidão soprando-lhe os ombros, num tropeço entre espuma e água: marés, dardos e grãos.
“Não nos perdemos, apenas nos distraímos. Sabes? Aquele tempo incolor em que descascamos. Como gravetos de chuva. Criamos beleza, nunca o distanciamento”.
Então pousou os olhos sobre o seu brilho. Seu corpo. A terra em mais um pomar consumido em seu início intacto. À sua similitude.
Escreveu esquecendo o tempo, abstraindo-se de tudo. As palavras pululavam em sua mente, num primeiro momento, fragmentadas em pensamentos e sentires, para não furtar-se à sinceridade dos personagens. O leitmotiv surgiu-lhe a partir da reflexão sobre o quanto é possível a des-configuração da imagem de si mesmo ou de outrem, ante os atropelos instados constantemente pelos acontecimentos e vicissitudes cotidianas, que a tudo querem dar forma brevíssima, por atalhos e caminhos imprevisíveis.
Deu lugar às paisagens que comumente não vemos, ao detalhe que muitas vezes nos escapa, nunca, porém, sem impregnarmo-nos dos seus rastros. Promoveu um prelúdio onde as emoções, aparentemente, se destroçavam.
O único e o outro, também único, tracejam, coincidem num pacto capaz de promover resgates, aproximações impensadas. Sentiu e quis insinuar ou subverter como objetivo daquele instante criativo, a possibilidade, sempre existente, de um momento de busca que se bifurca entre uma e outra alma. Como na confluência de dois rios: o encontro.
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Estro
“Há um Silêncio enorme em nós que nos chama acenando, e a entrada neste Silêncio é o começo de um ensinamento sobre a linguagem do céu. Porque o Silêncio é, em si, uma linguagem de profundidade infinita, mais fácil de entender porque não contém palavras, mais rica em compaixão e em eternidade do que qualquer forma de expressão humana. Não há nada no mundo que se pareça tanto com Deus quanto o Silêncio.” - Mestre Eckhart de Hochheim
Não sei se fecho os olhos reservando-me num ruído onde os casulos não vibram. Sou uma canção que navega impérvia, na espessura do limbo; uma erva errante que sucumbe sobre as pedras, isenta da sabedoria das vindimas e dos favos. A angústia é uma grade invisível, um anseio por gotas e fogo que me desarma. Com esse diminuto par de luas quero silenciar o incêndio, a água, os fins, o eriçar das épocas. A voz do que amo é um sorriso, um salvamento que se dissipa para desordenar-me. Minha pele é uma canoa que guarda o momento de ser nascente e rio e mar e foz. Algo é brisa e é renúncia e esquecimento ou vício em meus azuis anúncios. Desejo ver na minha nudez a serenidade que cobre a fuga, o jejuar da palavra, a migração das mariposas sem destino. Ou ninguém. Angelical e temporário, persistente como a juventude, como o sol que se recolhe numa pausa sem pálpebras. Não me dei conta das escalas profusas, das perfurações que se desprendiam numa linha indevassável e quase definitiva, inquirindo-me impiedosamente, onde eu havia perdido o melhor de mim. Onde estive quando não estive comigo? Arrependo-me, mas não é suficiente... um pássaro sem murmúrios adormece-me o peito, como cios que não se findam, como a sombra que ilumina a estranheza difundida nas pupilas. Porque é o sol que faz girar a flor. Porque os olhos se acostumam com a luz e aceitam a circularidade retornando àquilo que precede e ofusca. Porque é necessário ser todos e nenhum.
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Depois do céu
“Ele [Deus] é a riqueza em profusão porque é Um. Ele é o primeiro e o supremo porque é Um. Por isto, o Um penetra todas e cada uma das coisas, e permanece Um, unificando o separado. Por isto é que seis não são duas vezes três, mas seis vezes Um”. (Mestre Eckhart de Hochheim )
“Tenho todas as faces, sou todos os rostos que desconheço. A palavra não se perde no candeeiro do horizonte e é sempre outra palavra. E tem faixas e agulhas lúcidas sobre o fervilhar azul da pele, o calor glacial dos nervos. Quando enfim se reconstituirão os meus ossos em nódulos robustos beijando-me como estrofes de orvalho postas num piano ou as tranças de uma rede perdida num sorriso ondulado, numa quase amnésia do vento, elã.”
Enquanto dormia despertou e viu que o amor era somente o amor.
“Arrisco a riscar o chão, coberto por flocos de solidão.”
O que lhe sombreia os ombros são os imensos letreiros arrebanhados nas restingas rudes, nas arenas vazias, são dorsos que destoam o drama das coexistências, os volumes e tramas dos vincos e vivências, intenções desmaiadas no encalço do que se ausenta e persiste e desencontra o tempo que soçobra nos movimentos e assoma em constelações supérfluas, em brilhos escuros que suplicam o arrematar das chuvas, dedilhando deidades e ferrugens, um sol resplandecente para ouvir-lhe a arte que arquiteta nos resgates das analogias e das contenções. Sabe apenas uma pista de si:
“Hoje fui a asa que não tive. Meu quinhão é a incerteza dos dias. Por saber a pássaros e prolongar-me neles.”
-----------------------------------
textos By Tere Taavares
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Livro "Vozes & Recortes" - Impressões
Livro de Contos "Vozes & Recortes" 2015 By Tere Tavares (Editora Penalux - SP) |
Recomendo a leitura de "Vozes & Recortes", segundo livro em prosa da amiga escritora, poeta e artista plástica Tere Tavares, membro da Academia Cascavelense de Letras.
De início, advirto que a leitura do livro exige um mergulho nas águas profundas da palavra. Isto porque a escrita da autora, embora se apresente acessível e simples, é um caminhar poético ora por alamedas, ora por ruas estreitas, ora por trilhas em meio a bosques e florestas. Se num determinado momento o sol brilha, noutro brilha a lua, e noutro chora o ar e florescem as orquídeas.
O uso da linguagem metafórica cria uma atmosfera poética na prosa da autora, deixando a leitura prazerosa, apresentando ao leitor um universo de imagens a serem exploradas a cada texto.
Vozes & Recortes é uma obra que, sem sombra de dúvida, reafirmando o que disse o poeta e jornalista José Maria Alves Nunes, autor do prefácio, eleva a autora à categoria de um dos grandes nomes da literatura contemporânea no Brasil.
José A Cauneto
Presidente da ALAP
Academia de Letras e Artes de Paranavaí
Veja mais aqui:
https://www.facebook.com/crescalendo/photos/a.191219040959695.50276.175921655822767/932284913519767/?type=3&theater
Adquira seu exemplar. Contato: t.teretavares@gmail.com
Adquira seu exemplar. Contato: t.teretavares@gmail.com
domingo, 8 de novembro de 2015
A unidade que me transforma e me divide
Não me pertenço.
Penso ser deste mundo
pressupondo que outro mundo
não exista além deste.
pressupondo que outro mundo
não exista além deste.
O que tenho é o espaço onde estou.
Onde estou sou o que tenho,
(tenho?) a mim mesma quando muito,
o café escuro que bebo.
(tenho?) a mim mesma quando muito,
o café escuro que bebo.
Este pouco de mim é tudo o que aparento e sinto.
Estabelecer não me cabe
e se me cabe não estabeleço.
e se me cabe não estabeleço.
do livro "Meus Outros" 2007.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Do Projeto Releituras da Canção do Exílio de Gonçalves Dias
Extinção do
Empecilho
Se isso ocorrer
de fato
Haverá menos
Gato e Rato
Orfanato e Cão
Toda fé na Lava
Jato
A fatal Operação
À Justiça
pede-se: vem cá
Prenda os
ladrões de Sabiá.
Céus, que ainda
floresceis de estrelas,
Descei a mais
bela e cadente,
Para livrar da
roubalheira toda Gente:
Nossa Terra
Brasileira.
By Tere Tavares
A Canção do exílio, de Gonçalves Dias, um dos mais populares poemas da literatura brasileira, e com certeza, a intertextualidade mais frequente na nossa tradição poética. O retrato idealizado do país, a saudade do poeta romântico da pátria e a realidade dos problemas político-sociais do momento , nas extraordinárias releituras dos poetas atuais. Proposto como um simples exercício de criação, as vozes dos poetas revelaram belezas e indignações. Uma profunda capacidade de reflexão de como estamos tratando a nossa cultura. Mesmo não sendo esse seu papel, o poeta ( antena) acaba sendo um porta voz da população em suas reivindicações".
By Jose Couto - a quem agradeço a inclusão do meu poema no Projeto.
Obrigada também ao Boca a penas pela excelente parceria.
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Livro de contos "Vozes & Recortes" - Revista Soletras
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Livro de Contos Vozes & Recortes - Editora Penalux- Autora Tere Tavares |
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Revista Soletras - Agosto 2015 |
Revista Soletras,
"A SOLETRAS – a Sopradora de Letras vem para ser uma revista literária electrónica sem fins lucrativos, editada a partir da cidade da Beira, Moçambique".
Edição de Agosto de 2015:
"A SOLETRAS – a Sopradora de Letras vem para ser uma revista literária electrónica sem fins lucrativos, editada a partir da cidade da Beira, Moçambique".
Edição de Agosto de 2015:
A "Soletras" está belíssima, recheada de bons poetas, contistas e matérias.
Entre as publicações desta edição: Álvaro Taruma; Celestina Marques; Deusa d'África; Hera de Jesus; Hirondina Joshua; Nataniel Nhabanga; Paulo Nguenha; Sanjo Muchanga; Sobrevivente Filho da Velhice e o amigo Ricardo Escudero.
Agradeço imenso à Revista SOLETRAS pela publicação do prefácio do meu livro de contos "Vozes & Recortes"(Editora Penalux prosa 2015), escrito por José Maria Alves Nunes.
Entre as publicações desta edição: Álvaro Taruma; Celestina Marques; Deusa d'África; Hera de Jesus; Hirondina Joshua; Nataniel Nhabanga; Paulo Nguenha; Sanjo Muchanga; Sobrevivente Filho da Velhice e o amigo Ricardo Escudero.
Agradeço imenso à Revista SOLETRAS pela publicação do prefácio do meu livro de contos "Vozes & Recortes"(Editora Penalux prosa 2015), escrito por José Maria Alves Nunes.
Ao escritor Lino Mukurruza, vai também meu especial agradecimento.
Grande abraço a todos
O link a seguir vos leva à Revista Soletras que pode ser baixada para leitura integral em PDF:
https://www.dropbox.com/s/wgazvt16scrodb1/SOLETRAS%20AGOSTO%20DE%202015.pdf?dl=0
Grande abraço a todos
O link a seguir vos leva à Revista Soletras que pode ser baixada para leitura integral em PDF:
https://www.dropbox.com/s/wgazvt16scrodb1/SOLETRAS%20AGOSTO%20DE%202015.pdf?dl=0
domingo, 23 de agosto de 2015
Livro de Contos "Vozes & Recortes"
Alma de papel e tinta
"As cores são a chave, os olhos o machado, a alma é o piano com as cordas”.
(Wassily Kandinsky)
Um nascimento que tem em si o solo, a fímbria do afeto, procurando o que julgava escondido. Seu papel: o corpo. Abarcando hastes de caules vertidos em fusões antecipadas nas corredeiras de folhas e na constância da aurora. O não evidente se movia na miragem que desbotava compacta, como que prevendo uma criança adormecida numa calma afetuosa. Sim, Ordep sabia-se: “tenho o direito de sonhar. Tenho direito ao delírio. Já me sabia caminhante, agora me reconheço utópico. A realidade me parece inacreditável”.
Toda a sua substância seguia a esvair-se. Ordep sequer percebia quando o sol se distanciava do dia por que não interrompia seus movimentos. Quer na presença ou na ausência de tristeza ou risos, o amor – nenhum semeador se assemelha a esse construtor de cisternas – germinava-se em verbos, no cerzir infinito do vento, enlaçando-se na argila e nos vinhos da grande mãe Terra, sinalizando que sua feitura indefinida residia num lugar qualquer, e era sorvida em êxtase noutro deserto de vislumbres, numa voz de pedra.
De algum modo Ordep era aquele quadro de Hopper; aquele deslocamento à frente do silêncio, do verde, da esperança, da comunicação atravessada, da solidão infatigável.
Mentia ao condenar a mão alheia, dizendo-a frenética e sequiosa de afagos, de esfinges para o ego, do elogio fácil. No fundo, queria ser reconhecido entre a multidão e não sabia de que forma, depois de ter evidenciado em sua arca todo o apelo de que era portador. Sobrava-lhe a ilusão de que nada disso o fascinava, tampouco o tocava. Então, voaram de sua abertura facial, mariposas e cinzas afetadas de inferioridade, sedentas de cor e perfumes. Queria algo que aos outros interessasse – o mundo é coletivo. Ele era só mais um coletivo no meio da imensidão. Não seria descoberto; não seria aplaudido; não teria seus quinze minutos de fama. Esbravejava refutando aquele odor de aglomerações, como se quisesse ser tocado por uma fábula, por um condão desfalecido.
Disfarçado de liberdade, farejava apenas o que poderia ser sua própria morte: o farol iluminado. Apesar de ser um astro. “Essa manhã interminável em que me dei conta uma vez mais da minha inerte ventura, da cesura em que participo – a lágrima já foi mar um dia como o meu corpo, lapidado pelas montanhas de fogo. A cada instante que passa, sinto tudo de uma forma mais íngreme e não tenho o amparo das primaveras que me serviram de braços. E virá o inverno que eu talvez nem viva, que talvez me descreva. Quando me poderei guiar?”.
O deslocamento de Ordep nunca o representava. A sensatez é o arranhão mais espesso e menos distante da profundidade que a tudo ondeia e unge. Perdia as horas de ser triste sempre que adentrava os caminhos da linguagem, como se desaparecesse, escrevia, escavando a trilha para além do caos, folha sobre folha.
Beijou uma flor que fixou para sempre o pólen em seus lábios – agora vivia à sua procura. Ordep acomodou silêncios e passos rumorosos, e dançou, na pausa das chuvas, os ninhos embebidos de sol – porque, para ele, os livros são como pássaros que, acarinhados pelo instante, sonham vagar indefinidamente pelo céu, esquecidos de se curvarem.
Conto que abre o livro "Vozes & Recortes", obra escrita totalmente em prosa que sai pela EDITORA PENALUX:
tem o lançamento marcado para o dia 24 de agosto de 2015 via Facebook. Acesso pelo link:
Adquira seu exemplar pelo catálogo da Editora Penalux:
http://www.editorapenalux.com.br/loja/product_info.php?products_id=315
ou diretamente com a autora pelo e-mail t.teretavares@gmail.com
http://www.editorapenalux.com.br/loja/product_info.php?products_id=315
ou diretamente com a autora pelo e-mail t.teretavares@gmail.com
Ficha Técnica:
Livro: “Vozes & Recortes”
Gênero: Contos (Selo Castiçal)
Formato: 14x21
Autora: Tere
Tavares
Editora: Penalux
ISBN:
978-85-69033-45-5
Ano: 2015
Número de páginas:
112 em pólen bold
Valor: R$ 32,00 + frete.
Valor: R$ 32,00 + frete.
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Antologia Poética 29 de Abril O Verso da Violência
Sou uma das escritoras que a integram. Grata aos organizadores (as) e à Editora Patuá pela publicação dessa obra: um protesto poético contra a barbárie que ocorreu na capital do Paraná, Curitiba, contra os educadores(as) nesse fatídico dia. Haja ecos e mudanças.
A palavra serve sempre: parabéns a todos os autores(as) participantes.
Eis a minha participação:
O cardume pressente os bicos das gaivotas
E seu mergulhar inevitável.
Há um pequeno espaço no mar e na Praça Nossa Senhora de Salete.
Há uma fresta no tempo para arrebanhar tudo o que, solitariamente, navega na barbárie.
Um sopro humano sobressai das areias repletas de cestos e barcos,
Como se alguma morte guiasse a todos numa conjunção desordenada
Ou a vida suspirasse numa eternidade fora do homem, do pássaro, do peixe.
A metrópole dorme suas misérias e solidões famintas.
Olha. São filhos sem cadernos e sem livros.
Vertiginosamente flui uma esperança de bosques, uma renovação do ar.
Há tempo bastante nos intermináveis sumiços que se fixam nos olhos de todas as coisas.
As escolas. O vazio sanguinário, petrificado, que nem em pesadelo, se ousa imaginar.
Os barcos ainda estão pescando, e as gaivotas sobrevoam os barcos, e o cardume adormece torturado em estômagos infinitos e hálitos feridos.
Tudo é massacre e máscara para os corpos do espaço que a tudo assistem, incontestes, impunes, inexpugnáveis no seu armamento espúrio e sorrateiro.
O desgoverno.
Olha. Os mandatários sorriem satisfeitos atrás das tristes ramagens das Araucárias.
Ninguém acorda quando está morto ou quando finda uma jornada.
Olha. Os mestres sangram por ter o giz e a voz como únicas ferramentas.
Ninguém se fere se não há fome, se não houver morte, ninguém come.
Melancolias envelhecem e alegrias formam tensões, paixões e amores vestidos de silêncio e claridade. Há fumaça e estrondos afrontando a justiça — que não é justa.
Ainda é noite para quase todos.
Há gotas de tempo para madrugar os que adormeceram rispidamente, como curvas breves e rastros irreconhecíveis. O espaço que se filtra no sangue, como um grande dragão, despedaça o mar e os barcos; e os peixes; e os homens; e as paixões; e a eternidade, como se fossem leves e letais gotas de matilhas infelizes a caçar luzes, vestidos todos do que só se ouve no vento; e na nuvem; e no pó.
O despotismo. E seus asseclas.
Oh grande infelicidade que se vê palpável no entreolhar e no entreouvir — felizes! — das patas e dos pés que, no dia 29 de abril, se tornaram sombras e almas em escombros.
De Santa Perpétua à Mãe Preta — Julio Guerra chora esse descampado dia.
Chora todo o Paraná. Envergonha-se à humilhação.
Já não há amplitudes sobre os ombros dos que clamam pelo salvamento do ensino. Os alvos. Tampouco há derrota. Que derrotado é quem não se sente vivo ainda que tema a morte.
Ouvem todos que não há retorno para além do que se foi.
Somente a audiência infalível que terão consigo e com Deus: de tudo em nome.
Em Sinas
Tere Tavares
Página do evento: https://www.facebook.com/events/1474759149504984/
poesia
adelaide do julinho + ademir demarchi + adriane garcia + albertina laufer + ale safra + alex dias + alvaro posselt + amanda vital + angel cabeza + antônio lazzuli + assis de mello + beatriz bajo + camillo josé + carla diacov + carlos alberto muzille + carlos eduardo bonfá + carvalho junior + cel bentin + claudio daniel + donny correia + ellen maria + fabiana motta + felipe magnus + fernanda fatureto + gabriel felipe jacomel + geraldo witeze jr. + greta benitez + gustavo petter + helvio campos + homero gomes + ikaRo maxX + isabela romeiro vannucchi + ivan justen santana + josé aloise bahia + josé antônio cavalcanti + jovino machado + jr. bellé + leonardo chioda + líria porto + lisa alves + lívio oliveira + lubi prates + luciana cañete + luiz roberto guedes + maíra ferreira + marcelo adifa + marcelo ariel + marcelo de angelis + marcelo sandmann + marcelo vieira ribeiro + marco aurélio de souza + mariza lourenço + micheliny verunschk + miriam adelman + norma de souza lopes + nuno rau + nydia bonetti + pablo morenno + priscila merizzio + ricardo aleixo + ricardo escudeiro + ricardo silvestrin + robisson albuquerque-sete + ronald augusto + rosane carneiro + samantha abreu + sérgio fantini + silvana guimarães + stefanni marion + tarso de melo + tere tavares + thiago dominoni + thiago ponce de moraes + vasco cavalcante + waldo motta + wender montenegro + william zeytounlian + yuria santamaria pismel + ziul serip
adelaide do julinho + ademir demarchi + adriane garcia + albertina laufer + ale safra + alex dias + alvaro posselt + amanda vital + angel cabeza + antônio lazzuli + assis de mello + beatriz bajo + camillo josé + carla diacov + carlos alberto muzille + carlos eduardo bonfá + carvalho junior + cel bentin + claudio daniel + donny correia + ellen maria + fabiana motta + felipe magnus + fernanda fatureto + gabriel felipe jacomel + geraldo witeze jr. + greta benitez + gustavo petter + helvio campos + homero gomes + ikaRo maxX + isabela romeiro vannucchi + ivan justen santana + josé aloise bahia + josé antônio cavalcanti + jovino machado + jr. bellé + leonardo chioda + líria porto + lisa alves + lívio oliveira + lubi prates + luciana cañete + luiz roberto guedes + maíra ferreira + marcelo adifa + marcelo ariel + marcelo de angelis + marcelo sandmann + marcelo vieira ribeiro + marco aurélio de souza + mariza lourenço + micheliny verunschk + miriam adelman + norma de souza lopes + nuno rau + nydia bonetti + pablo morenno + priscila merizzio + ricardo aleixo + ricardo escudeiro + ricardo silvestrin + robisson albuquerque-sete + ronald augusto + rosane carneiro + samantha abreu + sérgio fantini + silvana guimarães + stefanni marion + tarso de melo + tere tavares + thiago dominoni + thiago ponce de moraes + vasco cavalcante + waldo motta + wender montenegro + william zeytounlian + yuria santamaria pismel + ziul serip
apresentação/antologia
daniel faria
apresentação/depoimentos
célia musilli
depoimentos
alice ruiz + amabilis de jesus + caetano zaganini filho + christine vianna + claudio de assis da cunha + francis de lima aguiar + francisco soares neto + ícaro moura + josé melquíades ursi + rafael kenji kuriyama + sérgio daguano + thiago dominoni
fotografia
brunno covello + lina faria
diagramação/projeto gráfico
bruno palma e silva
colaboração
lubi prates
organização
domenico a. coiro + mar becker + priscila merizzio + silvana guimarães
domingo, 26 de julho de 2015
Livro Entre as Águas na versão E-book
Honrada e agradecida à querida amiga Carmo Vasconcelos e ao amigoHenrique L. Ramalho, pela publicação, na íntegra, da versão ebook do livro "Entre as Águas" (Contos 2011) - Um duplo abraço de cá do Atlântico por esse presente maravilhoso. Para leitura basta acessar o site:
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/Escritores/TERE-TAVARES/TERE.htm
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Verted'ouro
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Van Gogh - Flor Jardim - 1888 |
Verted’ouro
Não és bom, nem és
mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
(Olavo Bilac)
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
(Olavo Bilac)
O sol continua a sumir por entre as pedras, com seus raios quase
entristecidos. As ondas se esparramam como anjos incansáveis. A mulher com nome
de flor ou de santa tinha a voz intensa, breve, e, principalmente risonha. Assemelhava-se
a uma evolução musical de suave atmosfera.
Não bastasse o canto, tinha o encantamento, o pleno exercício do querer,
aceitando o que não fora possível mudar. Pensava com o sentimento.
Seria um estado de beatitude elaborada para o inestimável
memorial das criaturas iluminadas. Descrevia o que sentia enquanto a outra forma
de si mesma escrevia o que pensava. Quando tudo cessava era o mirar do seu
pensamento sem olhos, nunca o seu sentir sem palavras. “Fui melhor quando não
fui eu”. Constatou ainda com dúvidas que o único meio de obter uma noção, mesmo
que mínima sobre o bem e o mal, é conhecer
as lágrimas com a compaixão de quem é capaz de sentir pelo outro o sofrimento e
a alegria.
Sua pretensa ingenuidade entrou instantaneamente noutro par de
olhos fixos na escuridão. Gostaria de
dizer que não mudara em quase nada e que estava até mais bonita, mais feliz.
“Os recados, às vezes, passam sem ruído, nem sempre cegos”, murmurou imaginando
que viria do infinito algum elfo para esvaecer a sua hesitante decisão.
Não conteve o impulso de retornar e preencher com delicadeza o
que carregaria para sempre no seu importante jardim sem importância.
Ainda que não soubesse, a engenharia das minudências soava
como um límpido cristal, permitindo um quase perfeito retrato, à distância, do
lugar onde estava. As mudanças invisíveis, enganadas, aparentemente
imóveis. Conduzia palavras como se
fossem água e sol, universos autônomos refrescados livremente nas
transparências.
Tentava dissuadir o berço de estrelas longínquas – ninguém é
capaz de tecer melhor sobre o acaso do que a fugaz eternidade que lhe conferiam,
a cada vez que, ingenuamente, as imaginava caladas.
“Com que amor me vive essa porção que me escapa. Sempre
soube que a escreveria e seria com a alma que não domino.” Murmurou no passo
que dava em direção de si mesma, como se aninhasse um segredo revelador. Na
dupla face que a tudo contorna, mesmo veladamente, havia um zelo
imprescindível. Os deuses possuem a mesma e inauferível dimensão que passa
invariavelmente pelo desejo, à presença de perpetuarem-se no âmago das
consciências e revolverem-se na imperfeição do que nunca morre. “Permaneço no
outro como sendo o meu árido exterior re-fletido numa solução inevitável. Com a
beleza párvoa de não estar em mim.”
Do livro "Entre as Águas" (prosa) 2011 By Tere Tavares
quarta-feira, 15 de julho de 2015
AQUAFÚRIA: UMA ANTOLOGIA DE POETAS SEDENTOS
"Lute pela Água. Lute pela vida".
Organização: Thiago Cervan
Apresentação: Carlos Eduardo Carneiro
Foto da capa: Laura Aidar
Julho de 2015
"AQUAFÚRIA: UMA ANTOLOGIA DE POETAS SEDENTOS"
Foto by Tere Tavares |
Da flor das fontes
Que brota num veio
Para assinar-te a sede
E pela sede ensinar-te
Que é da fonte a flor
Incolor e inodora
Que te olha
Que te molha
Que te água.
By Tere Tavares
Confiram as demais participações em:
http://issuu.com/thiagocervan/docs/aquafuria_uma_antologia_de_poetas_s
Download gratuito. Em PDF.
O Poema "Da flor das fontes" também está publicado na Revista Fénix Logos:
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L16/LOGOS16-SET2015-POESIA-65.htm
Publicação na Antologia Fénix Logos Julho 2015
Toda gratidão e apreço à Carmo Vasconcelos e Henrique L. Ramalho pela publicação na Revista Fénix-Logos, Número 15, edição de Julho/2015.
Cumprimentos a todos os autores(as) participantes.
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L15/LOGOS15-JUL2015-TEXTO_22.htm
Ao relevo submisso do espelho admitiu sem negações outra de si. Sem expressão de noções ou julgamentos. Sem mágoas ou amarguras, isenta de culpa por talvez destroçar-lhes quaisquer ressentimentos. Alegrou a tristeza no segmento de um objetivo ou de um objeto para tudo o que suportava. Intrometeram-se luminescências que se fecharam abertamente nos florescimentos vindos de fora. E persistiam em diversos murmúrios. Como os dias iguais a todos os dias que ainda submergiam numa loucura feliz. Um acesso exterior e nada para partilhar, apesar do convite – o temor é perdedor assíduo da indiferença – a pior forma de amor que há.
A malha da insônia seria o anzol fosforescente do corpo indefeso. Perto dali morava um cedro cinqüentenário, um canto de corruíra, uma cerejeira onde alguém, com muito zelo, reservara sementes para lhe dar.
Afagou-lhe as pálpebras, os anéis dos cabelos, a face, as formas de pérola. No seu abraço permitiu-lhe o abandono seguro de quem se sente amado. Incondicionalmente. O quarto sempre à sua espera, o quadro de tulipas pousando no coração azulado entre as paredes claras, o ensejo rosado a esperar-lhe o gosto singular, lençóis de algodão perfumados de maciez maternal. Uma ingênua liberdade toldava-lhe a tristeza adormecendo para reconfortar-se no amanhã, com um sorriso corajosamente inesquecível. Sobre uma luz difusa entre singelezas de fogo repetiu como uma canoa flutuante o langor que se perdera numa erva antiga, a cantiga que previa inteira e só por aquela noite a procurara como se soubesse não tê-la. “O inesquecível é o amor que sobra. Para algumas, e só para algumas coisas, que são para sempre.”
Aqueles olhos eram loucos e surdos. E eram também aqueles ouvidos com olhos. Porque há ouvidos cegos e fragores inaudíveis com olhares: E olhos mudos e lábios olhando as profusões invisíveis ao tato. O paladar pênsil do gesto sem lábios. Olhar sápido de olivas. E oliveiras repletas de retinas tocando o sol com brumas, com mãos de vinho... “que misteriosos olfatos escondeis além de vós? Precisarei de todos os sentidos ao mesmo tempo.” Ouviu um perfume qualquer que seu coração reconheceu, tocou-o de forma irreversível na escuridão, na proximidade ausente do momento que a prendia até que surgissem os delineamentos de consciência e subconsciência, o desconhecido perguntando se poderia resumir-se. Não com uma resposta qualquer. Tampouco com o retrocesso.
Sobrava-lhe o nada para expressar o mínimo, e não expor estranhamentos a caberem uns dentro dos outros – primaveras com floradas de gelo, verões sendo outonos mornos, invernos de calor a nevar no tropeço das nuvens. As oliveiras misturadas aos sândalos e madressilvas. Flores de laranjeira deslizando pelo tempo, entre as asas dos melros... um mero truque da imaginação, a memória talvez nem sua que se seguia por séculos.
E desse olfato surdo vê a completude indefinida em fractais. Nem tão abstratos assim, a imaginação do gosto lhe saliva a boca. “Não se lembrem de Pavlov. Houve uma vez em que me dei sais. Depois açúcares. Não há nada ou ...talvez alguma coisa aja fora de mim. Vejo novamente quando ouço e novamente toco quando olho. Outra vez me ouço quando degusto. E novamente me alimento quando tudo se mistura nesse inesgotável recurso de meia-estação.”
Multiplicou-se com rebeldia e graça por todas as frações da luz – no colo do ar e do tempo, como as areias juvenis... fecundando-se indefinidamente em oceanos pautados por um eco outro, do outro lado. O lado de dentro.
(do meu livro "Entre as Águas" publicado em 2011)
Tere Tavares
Cascavel - Paraná, Brasil
http://m-eusoutros.blogspot.com.br/
Cumprimentos a todos os autores(as) participantes.
http://www.carmovasconcelos-fenix.org/LOGOS/L15/LOGOS15-JUL2015-TEXTO_22.htm
COMO SABES
"TÍMIDO COMO UMA CRIANÇA. SOU IGNORANTE"
Por Tere Tavares
"O inverossímil em matéria de sentimentos é o sinal mais seguro da verdade."
(Liev Tolstói).
"TÍMIDO COMO UMA CRIANÇA. SOU IGNORANTE"
Por Tere Tavares
"O inverossímil em matéria de sentimentos é o sinal mais seguro da verdade."
(Liev Tolstói).
Ao relevo submisso do espelho admitiu sem negações outra de si. Sem expressão de noções ou julgamentos. Sem mágoas ou amarguras, isenta de culpa por talvez destroçar-lhes quaisquer ressentimentos. Alegrou a tristeza no segmento de um objetivo ou de um objeto para tudo o que suportava. Intrometeram-se luminescências que se fecharam abertamente nos florescimentos vindos de fora. E persistiam em diversos murmúrios. Como os dias iguais a todos os dias que ainda submergiam numa loucura feliz. Um acesso exterior e nada para partilhar, apesar do convite – o temor é perdedor assíduo da indiferença – a pior forma de amor que há.
A malha da insônia seria o anzol fosforescente do corpo indefeso. Perto dali morava um cedro cinqüentenário, um canto de corruíra, uma cerejeira onde alguém, com muito zelo, reservara sementes para lhe dar.
Afagou-lhe as pálpebras, os anéis dos cabelos, a face, as formas de pérola. No seu abraço permitiu-lhe o abandono seguro de quem se sente amado. Incondicionalmente. O quarto sempre à sua espera, o quadro de tulipas pousando no coração azulado entre as paredes claras, o ensejo rosado a esperar-lhe o gosto singular, lençóis de algodão perfumados de maciez maternal. Uma ingênua liberdade toldava-lhe a tristeza adormecendo para reconfortar-se no amanhã, com um sorriso corajosamente inesquecível. Sobre uma luz difusa entre singelezas de fogo repetiu como uma canoa flutuante o langor que se perdera numa erva antiga, a cantiga que previa inteira e só por aquela noite a procurara como se soubesse não tê-la. “O inesquecível é o amor que sobra. Para algumas, e só para algumas coisas, que são para sempre.”
Aqueles olhos eram loucos e surdos. E eram também aqueles ouvidos com olhos. Porque há ouvidos cegos e fragores inaudíveis com olhares: E olhos mudos e lábios olhando as profusões invisíveis ao tato. O paladar pênsil do gesto sem lábios. Olhar sápido de olivas. E oliveiras repletas de retinas tocando o sol com brumas, com mãos de vinho... “que misteriosos olfatos escondeis além de vós? Precisarei de todos os sentidos ao mesmo tempo.” Ouviu um perfume qualquer que seu coração reconheceu, tocou-o de forma irreversível na escuridão, na proximidade ausente do momento que a prendia até que surgissem os delineamentos de consciência e subconsciência, o desconhecido perguntando se poderia resumir-se. Não com uma resposta qualquer. Tampouco com o retrocesso.
Sobrava-lhe o nada para expressar o mínimo, e não expor estranhamentos a caberem uns dentro dos outros – primaveras com floradas de gelo, verões sendo outonos mornos, invernos de calor a nevar no tropeço das nuvens. As oliveiras misturadas aos sândalos e madressilvas. Flores de laranjeira deslizando pelo tempo, entre as asas dos melros... um mero truque da imaginação, a memória talvez nem sua que se seguia por séculos.
E desse olfato surdo vê a completude indefinida em fractais. Nem tão abstratos assim, a imaginação do gosto lhe saliva a boca. “Não se lembrem de Pavlov. Houve uma vez em que me dei sais. Depois açúcares. Não há nada ou ...talvez alguma coisa aja fora de mim. Vejo novamente quando ouço e novamente toco quando olho. Outra vez me ouço quando degusto. E novamente me alimento quando tudo se mistura nesse inesgotável recurso de meia-estação.”
Multiplicou-se com rebeldia e graça por todas as frações da luz – no colo do ar e do tempo, como as areias juvenis... fecundando-se indefinidamente em oceanos pautados por um eco outro, do outro lado. O lado de dentro.
(do meu livro "Entre as Águas" publicado em 2011)
Tere Tavares
Cascavel - Paraná, Brasil
http://m-eusoutros.blogspot.com.br/
quinta-feira, 9 de julho de 2015
Trânsfuga
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Foto By Tere Tavares |
Trânsfuga
No infinito das folhas, nas sombras, não sei de ti as arestas acesas, conversas entre amigos sobre a razão de viver, tu, o rosto torturado e perdido por detrás do nariz, espreguiças sinais de fogo à camilha, o algarismo que temos no intelecto, como objeto.
Cupidos dorminhocos acordam ao teu lado amores de papel, a tentação, como diria a réplica menos indigna e sem convicções, deitas por terra um ferimento profundo, uma acha de zelo para o que míngua.
O homem de casaco amarelo engana os tolos, as novas maneiras de ver se houve Adão ou Eva, ateístas controversos, metrópoles de caos e técnica, como se mestres morressem a cada segundo.
Enquanto quase me ajoelho – às vezes pecas e nem desces do salto – não sei se devo agradecer, longe de mim, gosto, não gosto, é assim que eu fico, baba de caracol, borboleta adestrada. Porque morta. Como esse escorpião que trazes amarrado.
do livro "Entre as Águas" (2011) By Tere Tavares
quarta-feira, 1 de julho de 2015
Minha participação na Revista Soletras
Honrada e agradecida à Revista Soletras e, em especial, ao escritor Lino Mukurruza
pela iniciativa de propor-me essa entrevista. que consta nas páginas 7 e 8 da " Revista Soletras" edição de junho de 2015. Segue aqui:
Para leitura da revista na íntegra, em PDF, basta clicar no link a seguir:
https://www.dropbox.com/s/2yez527wsyk7wmg/SOLETRAS%20JUNHO%20DE%202015.pdf?dl=0
pela iniciativa de propor-me essa entrevista. que consta nas páginas 7 e 8 da " Revista Soletras" edição de junho de 2015. Segue aqui:
Ela é brasileira, pintora, escritora e,
acima de tudo, autodidacta. Formou-se em literatura por gosto e prática e
publicou o seu “Flor essência” – um livro naturalista, a avaliar pela forma
nostálgica como os elementos da Natureza são percepcionados pelo sujeito
poético. Alias, há uma espécie de cumplicidade entre a autora e o meio, tanto
que se confunde o sujeito da escrita: se o meio, se a autora ou ambos. Chama-se
nada mais nada menos que Tere Tavares, autora com quem mantivemos uma conversa,
a qual lhe apresentamos a seguir.
Soletras:
Como é que entra
para a escrita? Há alguma influência particular para tal?
Tere: Não há uma exactidão quanto aos
começos. Porém, desde a infância me sentia atraída pelos livros; cheguei a
ganhar alguns concursos de redacção na escola. A escrita em si, repousava em
outras exigências e, entre um e outro intervalo, ganhava substância. De muito
gostar, ler e observar, nasceram os primeiros poemas, em distintos períodos. Quanto
às influências, gosto de muitos autores, como Carlos Drummond de Andrade,
Cecília Meireles, Macedônio Fernandez, Roa Bastos, Fernando Pessoa, Vinícius de
Moraes, Marcel Proust, Eduardo Lacerda, Demetrios Galvão, Marco Aqueiva, Cora
Coralina, Clarice Lispector, Robert Musil, Marcelo Novaes... a lista é longa,
mas encurto o caminho, dizendo que caminhei por entre inúmeros autores e
autoras, dos clássicos aos contemporâneos, de que gosto muito. Perfazendo um
somatório ao que possuo de vicissitudes, cheguei, digamos, até um ponto que não
tem um término, visto que, é constante o buscar e o experimentar.
Soletras:
O que representa
a escrita para si?
Tere: A princípio, vejo-a como uma
necessidade de comunicação, uma forma de expressão do pensamento e das ideias.
Um aprofundar-se numa fonte de vida intensa e repleta. Um modo peculiar de
entendimento e autoconhecimento. Um encontro comigo mesma e com os outros. Não
pretendo representar nada que vá além do que os meus leitores possam extrair da
minha escrita.
Soletras:
Na sua poética,
notamo-la tão próxima à Natureza (amor íntimo a residir em si), temática nova
não diríamos, diferente sim! Quer comentar?
Tere: Amo a Na t u r e z a . E quando
escrevo, de algum modo, a Natureza também escreve: como se tivéssemos um pacto.
Respeito muito isso.
Soletras:
Fala de pássaros
como fosse uma ave, alguma canção para os pássa-ros, as flores, as águas e o
intimo e/ou mar?
Tere: A vida é um voo, um mar, um jardim,
uma canção. As notas dessa múltipla partitura se diversificam para unirem-se
num grande mosaico de palavras, onde todas as formas de vida se perfilam,
dançam e confluem.
Soletras:
Lidos alguns dos
seus livros, sentimos algumas umas proximidades neles: a mesma fluidez,
sobretudo na descrição, quer na poesia como na prosa (muita imagem, técnica
impar, criação individual). Algum segredo nisso?
Tere: A criação decorre dos sentires e
visões que vou percebendo ao meu redor. Sou artista plástica, talvez, advenha
disso uma certa habilidade de pintar com as palavras. No mais é tudo fluência
criativa sem segredos nem artifícios.
Soletras:
Pode partilhar a
sua experiência de ser escritora?
Tere: No fundo, eu ainda não me sinto
totalmente madura como Escritora. A Literatura requer estudos constantes,
viagens noutros e diversos mundos que vão para além das perspectivas,
perpassando o próprio ser. Sigo experienciando. Sem ater-me a cânones,
academicismos ou técnicas. Simplesmente escrevo pelo prazer de escrever.
Soletras:
Sente-se na sua
poética uma semelhança técnica (descrição), quando comparada com a de Núria
Masot (em “A sombra do templário”). É uma simples coincidência?
Tere: Confesso que desconheço, pelo
menos até ver o nome nessa pergunta, a escritora Núria Masot, seu livro e sua
técnica. Tenho certeza então que se trata de coincidência, até por que não me
atenho, como afirmei na pergunta anterior, a qualquer técnica pré-estabelecida.
Soletras:
Como é que olha
o mundo através da escrita?
Tere: Como uma forma de ampliar
horizontes e conhecimentos. Com abrangências múltiplas e amplitudes inimagináveis.
Com limitações também, vezes inúmeras. Há momentos em que penso serem os olhos
do mundo que me apanham e me dão palavras. Escrever alarga o meu mundo e a
minha vida. Lanço-me então nessa busca contínua e incansável.
Soletras:
“Há no livro
muitos outros segredos nos convidando a serem explorados com cuidado…” (diz o prefaciador
do seu Flor Essência). Quais são esses segredos?
Tere: Digamos que há fios de invisibilidade
em cada linha que se lê, independentemente de quem a escreveu ou escreve. Não
há nada de intencional nisso, como também, e não há como negar, que existe a
pluralidade na sintaxe, um quê de subjectividade que se propõem às aberturas do
pensamento: eu não chamaria isso de segredo ou mistério, mas antes de pistas,
de insights e signos justapostos a formarem um conjunto no qual o leitor dirá
de si mesmo. ante a leitura que o captura justamente por esses fios, não
sobrando mais nada ao escritor.
Soletras:
Você tem entrado
em contacto com alguns livros de autores moçambicanos. Quais? Pode comentar
essa experiência?
Tere: Conheço algo da escrita do jovem
Lino Mukurruza, versos auspiciosos que li no Facebook, no qual reconheço um grande
potencial literário, notadamente na sua poesia. Posso dizer que é um trabalho
de alto nível, muito promissor. Através de Lino Mukurruza, também conheci a
“Revista Soletras” edição em PDF, onde li o José Craveirinha, um grande poeta
moçambicano.
Posso
dizer que essa experiência é, para além de enriquecedora, uma grande abertura
de horizontes. É imenso saber-se lido e ler escritores de outros continentes.
Uma prova a mais de que a arte, essencialmente a Literatura, não conhece
fronteiras.
Soletras:
Há muitos
autores moçambicanos, sobretudo jovens, que vêem no Brasil uma oportunidade
para se lançarem na escrita. É realista esta percepção?
Tere: As oportunidades
existem, sempre, para todos. Galgá-las, porém, materializando um ideal ou um
objectivo, é outra questão. Se houver qualidade, persistência, esforço e um
pouco de sorte vejo que é muito possível a esses jovens autores realizarem seus
sonhos e virem a ser publicados não apenas no Brasil, mas em outros países
lusófonos.
Por Lino Mukurruza
Lino Mukurruza
(Moçambique) Lino Mukurruza (pseud.). Lino Sousa Mucuruza, moçambicano. Publicou “Vontades de partir & outros desejos” – Poesia. (FUNDAC, 2014), “Almas em tácitas” – Poesia (LUA DE MARFIM, 2015) Colabora em diversas revistas, nacionais e internacionais, só para destacar algumas: (“PIRÂMIDE”, “SOLETRAS”, “LITERATAS”, “CORREIO DA PALAVRA” – Revista da ALPAS 21, “XITENDE”, “SINESTESIA” Caderno literário “PRAGMATHA” entre outras). Consta nas antologias poéticas “CLEPSYDRA” – Coordenada pela poeta Gisela M. Gracias Ramos Rosa - (COISAS DE LER, 2014), “À FLOR DA ALMA” – Coordenada pela poeta Sandra Ferrari Radich Fresa - (SOL, 2014) “Vozes do Hiterland” (Letras de Angola, 2014), “PREMONIÇÕES” – (LUA DE MARFIM, 2015), “POEMA-ME” (LUA DE MARFIM, 2015), “POESIA DE PINTAR E SER FELIZ” (LUA DE MARFIM, 2015) na 12 Volume da antologia “LOGOS” (Janeiro, Fevereiro 2015), foi vencedor mencionado e participa na antologia do XXX prémio mundial de poesia “NÓSSIDE” 2014. Vencedor em segundo lugar do 2º Concurso de Literatura da Academia de Letras, Artes Ciências de Brasil (ALACIB). Vencedor em 3º lugar do concurso internacional de literatura ALPAS 21 “a palavra do século” (Brasil, 2015). Actualmente cursa Português na Faculdade de Ciência da Linguagem, Comunicação & Arte da Universidade Pedagógica (Niassa) igualmente membro de direcção (tesoureiro) do Clube de Escritores Poetas & Amigos de Niassa (CEPAN).
Para leitura da revista na íntegra, em PDF, basta clicar no link a seguir:
https://www.dropbox.com/s/2yez527wsyk7wmg/SOLETRAS%20JUNHO%20DE%202015.pdf?dl=0
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