O texto como imagem em Tere
Tavares
Por Luciano
Mendes
Luciano
Mendes De Faria Filho
Logo no segundo parágrafo de sua
crônica "Eu te soube", do livro "Luz"(2024), Tere Tavares
nos diz: "nem tudo cabe dentro do silêncio". Lendo o livro dela, a
impressão que tive é que "nem tudo cabe dentro das palavras". Na
obra, a palavra é, aquém e além de "Tudo", um instrumento da imagem
(e da imaginação).
Nas sessenta pequenas crônicas
que compõem a obra, que também pode ser lida como uma "prosa
poética", Tere Tavares faz justiça à sua alma de artista plástica,
inventora de cores, de realidades várias, e de brincante com as texturas do
real. Estar diante dos seus textos é quase como estar contemplando um de seus
"outros" quadros; é quase como estar "diante de uma
imagem", para lembrar o feliz título do livro de Sandra Regina Ramalho e
Oliveira (Letras Contemporâneas, 2010).
Diante do leitor, desfilam,
desviam, desfiam, os vários elos que compõem, na cosmovisão quase animista da
autora, o conjunto do universo. Das plantas, flores, pedras emanam tanta luz
quanto dos astros celestes. Mas também os sentimos, as sensações, os juízos, os
conceitos, resplandecem. São, como ela mesma menciona, fragmentos de luz. Para
isso, muitas vezes organizadas em períodos curtos, as palavras mais evocam do
que expõem; mais provocam do que explicam; mais tecem do que enovelam.
Tudo isto não me parece ser por
acaso. Mas também não é cálculo calculado. As palavras no papel, na forma de
textos, mais se assemelham, reitero, à disposição cuidadosa, mas nunca precisa,
com que a artista lança as tintas na tela. Em camadas justapostas, mas que
transparecem, vão formando uma imagem. Lê-las é um exercício de
desconstrução/reconstrução permanente. Mas é, sobretudo, e antes de tudo, uma
experiência de fruição estética, é um passeio em meio a instantes.
Luciano
Mendes De Faria Filho
Licenciado em Pedagogia, mestre
em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutor em Educação
(Área de História da Educação) pela universidade de São Paulo. É professor de
História da Educação na UFMG e docente do programa de Pós-graduação em Educação
da Faculdade de Educação da mesma universidade. É pesquisador bolsista da CNPq
vinculado ao Grupo de Estudo e Pesquisa em História da Educação.
Destaco em especial neste conto a força do investigativo vindo dos longos poemas que são os próprios contos de Tere Tavares. Há a inscrição do rigor poético, mas com a mesma feliz criação, o caminho novo fica mais alargado com a trama e seus roteiros de ações. O que os livros empoeirados arrancariam de fato da personagem com os olhos esquecidos na igreja? As mãos nos pés arrancados de Santo Antônio teriam que encontro naquele ambiente vivificado por seu abandono? Desconfianças são motivadas pela narrativa sólida em dualidades, em contrastes insólitos supervalorizando a ambientação possível nas descobertas de silêncios nos gestos. Caminhemos por entre os tantos sacerdócios da boa literatura que o roteiro é longo, incerto, cheio de miragens, de bons e operatórios enganos. Geovane Fernades Monteiro.