terça-feira, 21 de outubro de 2025

Publicação na Revista O Bule - Conto-prosa-poética de Tere Tavares

 Pequena ontologia dos ninhos

Os nós são cegos, mas é possível vê-los. O extraordinário reside em recriar-se, reinventar-se, seja como persona ou personagem. Somos, para nós mesmos, estranhezas entranhadas num mundo de orquestração. No outro encontramos, esmiuçadamente, o nosso reflexo.
Feito estátua de sal, ela vai amolecendo como se os cães a seguissem. Ela leva consigo os filhos longínquos de cujos choros foram decodificadas todas as frequências e sintonias, toda a riqueza do que investigou em seus seres de lar, dos seios cedidos como alimento à lágrima branca e gêmea, a escuta do vocábulo mãe como palavra prima, como cerne único: salvação e destino de quanto o fio que conduz, mais que tudo antes, é luminária.
Ela diz a si mesma como se de joelhos: “A beleza nunca é suave, no mais das vezes, é uma espécie de castigo incessantemente cultuado. Tudo que é fere. E ferve. Mas cada ser tem sua conceituação. Há a feiura e ela também pode ser bela, depende do ângulo de quem vê. Tudo é singular, um exercício sem previsão. Ouço um pacífico som de ave, todavia. Astutamente eu passeio entre as pessoas normais porque a normalidade se aproxima intimamente do fracasso. Fui amada em forma de terra, de ferida e angústia. Eu quis a vida e dela me fiz herdeira mesmo sabendo do seu fim, do meu fim que morria na voz enamorada de mim como alvo na linha que nunca saberia de qualquer escrita viva na esfera da cintilação profunda entre uma noite e o raiar dos traços à frente dos que me amaram sem saber nunca se os correspondia. Como uma mulher marítima, eu nunca aceitei porto como presente senão como escolha ou façanha. Fui amada em forma de rio e delta sem que ninguém soubesse das gotas o sabor escorregadio e raro, fui amada sem ser vista, porque assim eu seria amada pelo que realmente sou e nunca pela voz lamuriosa de um partir sem nenhuma devoção. De como riscar os olhos sem falhar na escolha. Saciar o desejo e se dar a um diário sem as folhas para arrancar – porque nunca dizem a verdade”.

Texto do livro "Destinos desdobrados" contos, 2021 - Editora Litteralux- Tere Tavares

Livro destinos desdorados de Tere Tavares


Fortuna crítica colhida no Facebook, há algum tempo:

Guida Luis, de Portugal,

Excerto fabuloso, querida amiguinha Tere, ao longo de nossa vida, foi uma passagem de facto, como se fôssemos um rio, não paramos, para nós questionarmos sobre nada, vivemos apenas, de um modo passageiro, outras vezes menos, floreados pelo meio para enganar a verdade e pronto!

Geovane Fernandes Monteiro, do Piauí

Texto do eu que se salva ou se preserva na própria crise. Quando a trama é a problemática, estamos diante da situação humana no que há de feridas abertas e sobrevivemos do corte de viver. Não que haja sadismo, mas coragem, vontades sem nomes, hesitação, devaneios dos destinos, matéria desdobrada. A busca é o sentido da vida.



quarta-feira, 23 de julho de 2025

Publicação na Revista AMAITÉ POESIA & CIA

 Os editores, 

Geovane Fernandes Monteiro e Jandira Zanchi

Hoje, no Amaité, a prosa poética de Tere Tavares. Confiram a narrativa - raiz com suas nuances, possibilidades e aproximações de leituras para além da superfície textual.

Edição de julho 2025 Leitura no link abaixo:

https://amaitepoesiaecia.com.br/sem-pena-de-ter-tere-tavares/?fbclid=IwY2xjawLuHkFleHRuA2FlbQIxMQABHmUInnxaGTtLlS7Lh8CyhAa3x-vvuwtIxpalpuiFQ-6YpJL1McbdaoCB0Doo_aem_Xv8NcjqTKITt9ODK8f-QgA


Destaco em especial neste conto a força do investigativo vindo dos longos poemas que são os próprios contos de Tere Tavares. Há a inscrição do rigor poético, mas com a mesma feliz criação, o caminho novo fica mais alargado com a trama e seus roteiros de ações. O que os livros empoeirados arrancariam de fato da personagem com os olhos esquecidos na igreja? As mãos nos pés arrancados de Santo Antônio teriam que encontro naquele ambiente vivificado por seu abandono? Desconfianças são motivadas pela narrativa sólida em dualidades, em contrastes insólitos supervalorizando a ambientação possível nas descobertas de silêncios nos gestos. Caminhemos por entre os tantos sacerdócios da boa literatura que o roteiro é longo, incerto, cheio de miragens, de bons e operatórios enganos. Geovane Fernades Monteiro.

Publicação na REVISTTA ACROBATA

Dois contos publicados na REVISTA ACROBATA
na edição de 23 de julho de 2025.

Para leitura acessem o link abaixo:

https://revistaacrobata.com.br/demetrios/conto/2-contos-de-tere-tavares/?fbclid=IwY2xjawLuG4JleHRuA2FlbQIxMQABHom1mfjQmZZmqcLuVDy3GzSNK4IesVSjWGHsaAoc6Fh2XJYqnO7uGvWjynx5_aem_sUnJFNFAfYap1MocXoeTSQ





sábado, 19 de abril de 2025

Resenha do livro LUZ de Tere Tavares - Por Luciano Medes de Faria Filho

O texto como imagem em Tere Tavares

Por Luciano Mendes

Luciano Mendes De Faria Filho

 

Logo no segundo parágrafo de sua crônica "Eu te soube", do livro "Luz"(2024), Tere Tavares nos diz: "nem tudo cabe dentro do silêncio". Lendo o livro dela, a impressão que tive é que "nem tudo cabe dentro das palavras". Na obra, a palavra é, aquém e além de "Tudo", um instrumento da imagem (e da imaginação).

Nas sessenta pequenas crônicas que compõem a obra, que também pode ser lida como uma "prosa poética", Tere Tavares faz justiça à sua alma de artista plástica, inventora de cores, de realidades várias, e de brincante com as texturas do real. Estar diante dos seus textos é quase como estar contemplando um de seus "outros" quadros; é quase como estar "diante de uma imagem", para lembrar o feliz título do livro de Sandra Regina Ramalho e Oliveira (Letras Contemporâneas, 2010).

Diante do leitor, desfilam, desviam, desfiam, os vários elos que compõem, na cosmovisão quase animista da autora, o conjunto do universo. Das plantas, flores, pedras emanam tanta luz quanto dos astros celestes. Mas também os sentimos, as sensações, os juízos, os conceitos, resplandecem. São, como ela mesma menciona, fragmentos de luz. Para isso, muitas vezes organizadas em períodos curtos, as palavras mais evocam do que expõem; mais provocam do que explicam; mais tecem do que enovelam.

Tudo isto não me parece ser por acaso. Mas também não é cálculo calculado. As palavras no papel, na forma de textos, mais se assemelham, reitero, à disposição cuidadosa, mas nunca precisa, com que a artista lança as tintas na tela. Em camadas justapostas, mas que transparecem, vão formando uma imagem. Lê-las é um exercício de desconstrução/reconstrução permanente. Mas é, sobretudo, e antes de tudo, uma experiência de fruição estética, é um passeio em meio a instantes.


Luciano Mendes De Faria Filho

Licenciado em Pedagogia, mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutor em Educação (Área de História da Educação) pela universidade de São Paulo. É professor de História da Educação na UFMG e docente do programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da mesma universidade. É pesquisador bolsista da CNPq vinculado ao Grupo de Estudo e Pesquisa em História da Educação.