quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Uma resenha do livro DESTINOS DESDOBRADOS de Tere Tavares pelo escritor Chico Lopes

 


Chico Lopes 


"QUANDO LEIO OS LIVROS DE TERE TAVARES...
...eu o faço sempre com um lápis ou caneta disponível para assinalar trechos que me agradam e outros que me parecem lampejos de verdades nem sempre codificáveis na primeira leitura. A autora vem se esmerando tanto na escrita quanto em suas pinturas (geralmente nas capas de seus livros) e isso pode ser constatado nesse novo DESTINOS DESDOBRADOS, pela editora Penalux.
A prosa de Tere me agrada porque não é exatamente narrativa, embora às vezes possa ter linearidade. Sente-se nela uma liberdade de dizer e sentir que nos lembra que a Literatura não precisa ficar estanque na classificação de gêneros. Essa prosa é poética, herdeira ainda que indireta de "Temporada no inferno", o clássico de Rimbaud poeta e de outro poeta que não fugiu da prosa, o Baudelaire "flaneur" por Paris.
Diz ela: "Escrevo, seja qual for a estação, porque sou uma eterna enamorada por palavras. Algo de mágico exala-se da paciência que não sei ter. Não se trata de pressa, mas de uma espécie de urgência na mente, a travessia do espanto que me exila da assoberbada lonjura do tempo, da injúria que tenta subtrair o Sol do meu rosto e, inglória, abate-se antes de atingir-me. Enfrento o terror da estrada coberta de perigos, o pasmo ante o silêncio sombrio da morte, o desmoronamento; é tão profundo mergulhar na alma que me reformula como se argila novíssima." Certamente, vemos aqui o mesmo lirismo desenfreado, a perplexidade existencial constante, de uma Clarice Lispector em "Um sopro de vida".
Compreendo bem Tere porque, além de pintor como ela, tenho escrito livros, como "Abraço dos cegos" em 2018 e agora, 2022, "Coração disperso", que se recusam a ficar classificados como prosa de ficção ou como um gênero previsível. Tere com frequência lembra o amor pela cor, além do amor pela palavra, em seus livros. "Movo-me, ave acolhida e cerzida pelo céu cinza-azul-bronze".

Por suas cores e suas palavras, eis um livro que recomendo.
"O amor é rebelde dentro da própria mansidão, é um pacto tácito com o transcendente, um sucumbir em resplandecências. Independe da vida, seja qual for a sua tragédia". (Página 17). Chico Lopes, em 04 de agosto de 2022




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