domingo, 17 de julho de 2022

OS MAIS BELOS POEMAS DA LITERATURA PARANAENSE ATUAL

PERMITO-ME APRESENTAR UMA SELEÇÃO QUE FIZ DOS MAIS BELOS POEMAS DA LITERATURA PARANAENSE ATUAL.

ESTRANHO
Seus relógios cujas têmporas já não são o que foram,
e ainda estão ali, pluviais,
ligadas pelos ossos irredutíveis do tempo,
esse mistério, arca insigne que o acolhe.
Sílaba a silaba,
o raiar de uma página sobre a saliva do peito
a soletrar e escorregar por dentro
a tentativa de uma visão maior que um olhar.
As narinas das tintas esperando o dedilhar dos pomares,
dardejando ocultamente, numa ternura que o chamará de pássaro ou dragão.
que por fim se fará, sendo a sua própria naturalidade obstinada, circunscrita num acervo recluso – acordar miseravelmente numa palavra que ainda tem memória e insônia, sentir o choro e guardá-lo numa poça perene – a laringe.
TERE TAVARES, insigne Poetisa, em seu poema “ESTRANHO”, nos encanta com as suas belas metáforas.

George Abrão em 19 de julho de 2022

Poema do livro "A linguagem dos pássaros" Editora Patuá, 2014 - Tere Tavares

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Texto de Tere Tavares com Fortuna Crítica

 


Aníbal
Quando a doce loucura de recolher-se o cinge, Aníbal vê-se navegando entre as páginas – fere-as com letras. Os joelhos dobrados: “na centralidade arrisco-me e escrevo ao gosto do que aprecio. Se me ocorrer a subtração desse direito, não haverá grandiosidade e a escrita sairá às avessas – o que poderá conferir-lhe uma beleza trivial, nunca uma beleza grandiosa. O branco, que é toda cor, deve fluir como flauta e como flecha”. Ele não entende nada de física nem de química. De imediato pensa naquele órgão submerso em seu mapa vascular, o não lugar e suas acústicas infalíveis, imaginando-se no infinito que o duplica, aplacados os olhos, como lenços imaturos que o fazem mergulhar continuamente. Porque os pequenos detalhes, normalmente, não são para todos os escribas.
É nesses momentos de harpa que Aníbal segura, no ânimo, a fisionomia inigualável de Rosália. Lembra-a sempre que atende ao seu chamado, no dia quente e imprevisto, ela, radiante num vestido de flores miúdas sobre um fundo negro, ou com outro vestido amarelo cádmio [assemelhado aos alucinantes matizes de Van Gogh], ambos de seda, escorregando nas sinuosidades do ambiente que, de algum modo, imagina eternizar, não querendo esperar como há de ser o que não pode ser. Dizer a ela que lhe arde a negação e, talvez, não decante nunca a retrospectiva que, dia a dia, fracassa na complexidade impensada e não prevista, até que se dissolva a música que não lhe sopra outro nome, outra grafia que não a de Rosália – brotação e bulbo. “Sinto-me um mero transeunte do Tempo –acho o Tempo uma invenção; chamaram a esse vácuo desconhecido de Tempo assim como chamaram Deus ao resto do vácuo que restou. Eu resisto a tudo. Menos à amada que, infelizmente, não é minha”.
Aníbal não perde de ver-se, mesmo depois de um longo e imotivado intervalo. Nada faz com que desmorone a construção que fez de Rosália. [não recorda qual foi o inaugural elemento de que se serviu para isso; e isso não o perturba, nem lhe importa]. Rosália ser-lhe-á, por toda a vida, a alma diurna e feliz de que jamais se apartará por sentir-se inteiramente composto dentro dela.
do livro 'A licitude dos olhos' Editora Penalux/2016/SP

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Fortuna Crítica

Stefania Rossi
Bellissimo connubio tra scritto e dipinto. I miei 
complimenti
 Tere.

Francisco da Cunha
Uma ficção na qual o que mais se salienta são as camadas subterrâneas da mente, do espírito ou de outro nome que o valha. A narrativa fundamente humana é impregnada do sopro poético. Poesia e ficção se confundem numa unidade formal-expressional. O estados da psique dos personagens lembram por vezes a estesia do Poético. Quase se poderia afirmar que a narrativa se nutre da tensão poética, do ritmo, da diafaneidade, da vaguidão onde o lugar por excelência se vai instalar na atmosfera indefinida dos estados d'alma. Na ficção de Tere Tavares, narrativa e poesia se dão as mãos. São indissociáveis e se dirigem aos páramos da própria interioridade da linguagem - centro por excelência da criação de mundos e formas da Realidade imaginada e convincente: desnudamento e sonhos.

Guida Luis
Simplesmente lindo, amiguinha Tere, um texto pleno de requinte, de belíssimos adjetivos e todas as palavras de uma intensidade fascinante! O meu grande aplauso amiguinha Tere, amei este excerto.

Marinella Dina

Eccomi. Come sempre incantata dai tuoi scritti. Ma quanta profondità!!! Tutta una serie infinita di metafore, di sensazioni, di rimandi filosofici. Insomma. Non è solo un racconto di un racconto ma è un uragano che vortica attorno a Annibale e Rosalia e ognuno di noi si ritrova in questi due perchè chi non ha mai pensato ." Mi sento come un semplice passante del tempo - trovo il tempo un'invenzione; chiamarono questo vuoto sconosciuto di tempo proprio come chiamarono Dio il resto del vuoto rimasto. Io resisto a tutto Meno l'amata che purtroppo non è mia ".E allora ecco che Annibale si fa vivo, reale davanti a noi e Rosalia eterea, irraggiungibile, Musa sua irraggiungibile. Non si distingue più prosa dalla poesia. Perchè quando la prosa è poetica è la prosa AL MEGLIO.

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Os meus profundos agradecimentos a esses leitores e leitoras.

sábado, 9 de julho de 2022

Tere Tavares Na Germina - Revista de Literatura e Arte


Honrada por estar nessa edição!
Obrigada, muitíssimo, pela oportunidade, Adelaide Do Julinho e Mariza Lourenço. A Germina é eterna casa da Literatura e da Arte. Cada edição revela o cuidado e o primor do que Germina! Gratidão!
"Germina: junho, N 2 - 2022: a esperança [equilibrista] tarda, mas não falha". Links para leitura, abaixo:

https://www.germinaliteratura.com.br/revista.htm

 https://www.germinaliteratura.com.br/2022/contoecronica-junho22-teretavares-tres-contos.htm

terça-feira, 5 de julho de 2022

Espessas camadas de sonho

Espessas camadas de sonho

Estava absorto. Conduzia-se a um jardim desconhecido. Atrás de si restavam enormes árvores silvestres. Folhas multicores que lembravam quadros impressionistas formavam um macio tapete ao longo do caminho. Ele apoiava o pensamento na carta que trazia entre as mãos. Aproveitava a distração para falar consigo mesmo lucidamente o momento sinfônico que o seguia sem o risco de ser confundido por liberar suas orquestras. Enquanto fervilhava em suas pausas, definia o próprio resumo num teatro que estaria necessitando de ajuda ou julgamento, sendo justo como um engenheiro do rumo que, estranhamente, também o conhecia. E seus pensamentos umedecidos, mansos como as plumas, anteviam a alvorada suave que se desprendia da paisagem. E sua cor de estar inquieto, similar ao seu tempo de sonoras subdivisões, se instalava tão inebriante como quando ouvia: “vai passar, ter um lugar é anormal, o irremediável tem seu próprio remédio”.
Caminhava em cada degrau, o fecho, o revés, o grão – sem hesitar. Outrora alguém o vira entre os doutores do comportamento da rua das abóbadas – o velho herói louco o bastante para supor tratável a loucura. Então se deparava com seu estrito artefato: “O melhor lugar é ainda o mesmo lugar. Quem não lembra do sonho que tanto liberta quanto aprisiona, da coerência do sonho vão de um saltimbanco? Alimento a minha arte – as palavras, vou levando-as, e elas, lavando-me – como a realidade do sonho. Terei de novo tempo para suplantar a superfície, a minha. O bom amigo não costuma sofrer com fragmentações da personalidade – o cachorro. Ser poeta é ser mais humanamente cão”.
Porém, tudo aquilo que talvez viesse servir a muitos, era serena construção de quem andava solitariamente. E ele se alegrava com a imensidão de não se fazer acompanhar por ninguém. E novamente monologava repetindo em tom isento e profundo: “Ferem muito, o amor e a morte. Se não amo morro de não amar. E se não morro, vivo de não morrer. Na dúvida não há certeza, a não ser, a certeza de existir a dúvida. Mesmo que eu possa não seguir digo sempre algo para as muitas vezes em que me encontro indócil e, em tal intensidade me esqueço, que todo o existir exulta de ser-me. Felizmente, há vários tipos de happy end.”
Mesmo não havendo uma estação que ele identificasse como parte do seu pequeno espaço, um lugar que a cada instante não olvidasse a intenção lúdica da magia com que fora agraciado, prosseguia em meio à leveza das esperanças. E naquele mesmo dia, finalmente, e antes que, entregava no destino certo a carta e um esguio cálice de acácias – a sua preciosa aspiração de não se desiludir.
Do livro “Meus Outros” (2007) by Tere Tavares
______________________________________________ Fortunas crítica via facebook: Giovanni Francomacaro
Sei una bravissima scrittrice e una bravissima fotografa! 
Complimenti
!
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Marinella Dina
Ma quanto è profonda questa tua introspezione accorata. Quanto ci dice dell'essere umano, quanto si scinde in sapienza e poesia che unite insieme formano un pensiero che vola libero tra le righe non si lascia imprigionare. Quanta bellezza Tere. Enormemente grata per il susseguirsi di pensieri che come una collana mi porterò appresso tutto il giorno. Ne ammiro talmente taluni che copio e incollo e posto perchè li ho fatti anche miei.

Testo di Tere Tavares:
"Nutro la mia arte – le parole, le prendo, e loro, mi lavano – come la realtà del sogno. Avrò di nuovo tempo per superare la superficie, la mia. Il buon amico di solito non soffre di frammentazioni della personalità – il cane. Essere poeta significa essere più umanamente cane”.
In poche parole la nostra amica ci spiega che il poeta è carne viva, è devozione alla vita, all'amore e quando occorre sa rimanere, anche quando la tavola è vuota e il padrone distratto. E' lo stato puro delle cose. Andare al fondo delle cose (superare la superficie) ha un costo: il rendersi vulnerabili. Il poeta si purifica nelle parole, come il sogno fa alla nostra mente, la sua fonte di ispirazione è il subconscio. C'è sempre in ciò che scrive Tere una saggezza profonda, poeticamente espressa. Tere è una vestale della natura. Anche della natura umana! Grazie.
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Severina Etelvina Silva
Os escritos da Tere Tavares são de uma beleza singular. É possível perceber a interação dela com a natureza, é como se ela e a natureza se conectassem e se fizessem um.
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Raquel Gallego
La belleza de la naturaleza a manos llenas.Gracias.
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Guida Luis
Como eu gostei de ler este excerto, muito singular, consegui transportar-me àquele lugar tão bonito, como num sonho e apesar de sermos feridos na vida, por alguns acontecimentos menos bons, algo me dizia que nunca devia perder a esperança!
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Marcio Sales Saraiva
Coisa linda
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Teresa Cristina
Tere Tavares você tem fina sintonia com o indizível! Um primor que aquece a alma.