Resenha sobre o livro 'Folhas dos dias' de Tere Tavares
Em ‘Folhas dos Dias’ Tere Tavares
surpreende inclusive a mim, que há tempos acompanho com certa assiduidade o que
vem a público de sua lavra em livro ou em seu blog ou alhures.
"... o que tu vês és tu. O que
tu lês és tu. O que tu sentes és tu. E sou eu. E nós ".
Só desse pequeno extrato haveria
muito o que dizer. Em suma, é sua arte que aqui se põe a descrever esse
intercâmbio de almas entre a autora e seu leitorado com tal explicitude que,
repito, me surpreendo ao perceber que é isso mesmo, sim, mas como ela o diz
bem. Ficou lindo. Que síntese! Uma instância autoral do que pouco mais adiante
ela mesma chama de "...magia artística da enormidade chamada
literatura".
A presente obra deixa entrever um
pouco de sua interessante cosmovisão que percorre nosso momento histórico atual
com esse olhar a um só tempo compreensivo e indignado, tudo sem extremos. No
tom.
Seu olhar de pintora busca aqui o
detalhe mais miúdo, ali toma a distância adequada que permita uma visão de
conjunto. Ora são as condições meteorológicas em sua região, ora a lamentável
situação social e política do momento brasileiro, que com treinado senso de
composição ela representa num mosaico textual de ótimo estilo.
A condição feminina tem,
naturalmente, seu lugar de honra na presente obra nas passagens onde é
diretamente referida e ainda aí com impressionantes equilíbrio e
sobriedade.
Em ‘Folhas dos Dias’ a bem sortida
palheta literária de Tere Tavares traz inclusive mais um requinte: o da
expressão poliglota, com trechos em italiano, em espanhol ou inglês casualmente
se alternam, engastados no conjunto. Até umas rápidas pinceladas de latim.
Biscoito muito fino, tudo.
Boa leitura.
João Batista Esteves Alves
Escritor, poeta e tradutor