terça-feira, 5 de julho de 2022

Espessas camadas de sonho

Espessas camadas de sonho

Estava absorto. Conduzia-se a um jardim desconhecido. Atrás de si restavam enormes árvores silvestres. Folhas multicores que lembravam quadros impressionistas formavam um macio tapete ao longo do caminho. Ele apoiava o pensamento na carta que trazia entre as mãos. Aproveitava a distração para falar consigo mesmo lucidamente o momento sinfônico que o seguia sem o risco de ser confundido por liberar suas orquestras. Enquanto fervilhava em suas pausas, definia o próprio resumo num teatro que estaria necessitando de ajuda ou julgamento, sendo justo como um engenheiro do rumo que, estranhamente, também o conhecia. E seus pensamentos umedecidos, mansos como as plumas, anteviam a alvorada suave que se desprendia da paisagem. E sua cor de estar inquieto, similar ao seu tempo de sonoras subdivisões, se instalava tão inebriante como quando ouvia: “vai passar, ter um lugar é anormal, o irremediável tem seu próprio remédio”.
Caminhava em cada degrau, o fecho, o revés, o grão – sem hesitar. Outrora alguém o vira entre os doutores do comportamento da rua das abóbadas – o velho herói louco o bastante para supor tratável a loucura. Então se deparava com seu estrito artefato: “O melhor lugar é ainda o mesmo lugar. Quem não lembra do sonho que tanto liberta quanto aprisiona, da coerência do sonho vão de um saltimbanco? Alimento a minha arte – as palavras, vou levando-as, e elas, lavando-me – como a realidade do sonho. Terei de novo tempo para suplantar a superfície, a minha. O bom amigo não costuma sofrer com fragmentações da personalidade – o cachorro. Ser poeta é ser mais humanamente cão”.
Porém, tudo aquilo que talvez viesse servir a muitos, era serena construção de quem andava solitariamente. E ele se alegrava com a imensidão de não se fazer acompanhar por ninguém. E novamente monologava repetindo em tom isento e profundo: “Ferem muito, o amor e a morte. Se não amo morro de não amar. E se não morro, vivo de não morrer. Na dúvida não há certeza, a não ser, a certeza de existir a dúvida. Mesmo que eu possa não seguir digo sempre algo para as muitas vezes em que me encontro indócil e, em tal intensidade me esqueço, que todo o existir exulta de ser-me. Felizmente, há vários tipos de happy end.”
Mesmo não havendo uma estação que ele identificasse como parte do seu pequeno espaço, um lugar que a cada instante não olvidasse a intenção lúdica da magia com que fora agraciado, prosseguia em meio à leveza das esperanças. E naquele mesmo dia, finalmente, e antes que, entregava no destino certo a carta e um esguio cálice de acácias – a sua preciosa aspiração de não se desiludir.
Do livro “Meus Outros” (2007) by Tere Tavares
______________________________________________ Fortunas crítica via facebook: Giovanni Francomacaro
Sei una bravissima scrittrice e una bravissima fotografa! 
Complimenti
!
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Marinella Dina
Ma quanto è profonda questa tua introspezione accorata. Quanto ci dice dell'essere umano, quanto si scinde in sapienza e poesia che unite insieme formano un pensiero che vola libero tra le righe non si lascia imprigionare. Quanta bellezza Tere. Enormemente grata per il susseguirsi di pensieri che come una collana mi porterò appresso tutto il giorno. Ne ammiro talmente taluni che copio e incollo e posto perchè li ho fatti anche miei.

Testo di Tere Tavares:
"Nutro la mia arte – le parole, le prendo, e loro, mi lavano – come la realtà del sogno. Avrò di nuovo tempo per superare la superficie, la mia. Il buon amico di solito non soffre di frammentazioni della personalità – il cane. Essere poeta significa essere più umanamente cane”.
In poche parole la nostra amica ci spiega che il poeta è carne viva, è devozione alla vita, all'amore e quando occorre sa rimanere, anche quando la tavola è vuota e il padrone distratto. E' lo stato puro delle cose. Andare al fondo delle cose (superare la superficie) ha un costo: il rendersi vulnerabili. Il poeta si purifica nelle parole, come il sogno fa alla nostra mente, la sua fonte di ispirazione è il subconscio. C'è sempre in ciò che scrive Tere una saggezza profonda, poeticamente espressa. Tere è una vestale della natura. Anche della natura umana! Grazie.
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Severina Etelvina Silva
Os escritos da Tere Tavares são de uma beleza singular. É possível perceber a interação dela com a natureza, é como se ela e a natureza se conectassem e se fizessem um.
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Raquel Gallego
La belleza de la naturaleza a manos llenas.Gracias.
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Guida Luis
Como eu gostei de ler este excerto, muito singular, consegui transportar-me àquele lugar tão bonito, como num sonho e apesar de sermos feridos na vida, por alguns acontecimentos menos bons, algo me dizia que nunca devia perder a esperança!
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Marcio Sales Saraiva
Coisa linda
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Teresa Cristina
Tere Tavares você tem fina sintonia com o indizível! Um primor que aquece a alma.

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