pela iniciativa de propor-me essa entrevista. que consta nas páginas 7 e 8 da " Revista Soletras" edição de junho de 2015. Segue aqui:
Ela é brasileira, pintora, escritora e,
acima de tudo, autodidacta. Formou-se em literatura por gosto e prática e
publicou o seu “Flor essência” – um livro naturalista, a avaliar pela forma
nostálgica como os elementos da Natureza são percepcionados pelo sujeito
poético. Alias, há uma espécie de cumplicidade entre a autora e o meio, tanto
que se confunde o sujeito da escrita: se o meio, se a autora ou ambos. Chama-se
nada mais nada menos que Tere Tavares, autora com quem mantivemos uma conversa,
a qual lhe apresentamos a seguir.
Soletras:
Como é que entra
para a escrita? Há alguma influência particular para tal?
Tere: Não há uma exactidão quanto aos
começos. Porém, desde a infância me sentia atraída pelos livros; cheguei a
ganhar alguns concursos de redacção na escola. A escrita em si, repousava em
outras exigências e, entre um e outro intervalo, ganhava substância. De muito
gostar, ler e observar, nasceram os primeiros poemas, em distintos períodos. Quanto
às influências, gosto de muitos autores, como Carlos Drummond de Andrade,
Cecília Meireles, Macedônio Fernandez, Roa Bastos, Fernando Pessoa, Vinícius de
Moraes, Marcel Proust, Eduardo Lacerda, Demetrios Galvão, Marco Aqueiva, Cora
Coralina, Clarice Lispector, Robert Musil, Marcelo Novaes... a lista é longa,
mas encurto o caminho, dizendo que caminhei por entre inúmeros autores e
autoras, dos clássicos aos contemporâneos, de que gosto muito. Perfazendo um
somatório ao que possuo de vicissitudes, cheguei, digamos, até um ponto que não
tem um término, visto que, é constante o buscar e o experimentar.
Soletras:
O que representa
a escrita para si?
Tere: A princípio, vejo-a como uma
necessidade de comunicação, uma forma de expressão do pensamento e das ideias.
Um aprofundar-se numa fonte de vida intensa e repleta. Um modo peculiar de
entendimento e autoconhecimento. Um encontro comigo mesma e com os outros. Não
pretendo representar nada que vá além do que os meus leitores possam extrair da
minha escrita.
Soletras:
Na sua poética,
notamo-la tão próxima à Natureza (amor íntimo a residir em si), temática nova
não diríamos, diferente sim! Quer comentar?
Tere: Amo a Na t u r e z a . E quando
escrevo, de algum modo, a Natureza também escreve: como se tivéssemos um pacto.
Respeito muito isso.
Soletras:
Fala de pássaros
como fosse uma ave, alguma canção para os pássa-ros, as flores, as águas e o
intimo e/ou mar?
Tere: A vida é um voo, um mar, um jardim,
uma canção. As notas dessa múltipla partitura se diversificam para unirem-se
num grande mosaico de palavras, onde todas as formas de vida se perfilam,
dançam e confluem.
Soletras:
Lidos alguns dos
seus livros, sentimos algumas umas proximidades neles: a mesma fluidez,
sobretudo na descrição, quer na poesia como na prosa (muita imagem, técnica
impar, criação individual). Algum segredo nisso?
Tere: A criação decorre dos sentires e
visões que vou percebendo ao meu redor. Sou artista plástica, talvez, advenha
disso uma certa habilidade de pintar com as palavras. No mais é tudo fluência
criativa sem segredos nem artifícios.
Soletras:
Pode partilhar a
sua experiência de ser escritora?
Tere: No fundo, eu ainda não me sinto
totalmente madura como Escritora. A Literatura requer estudos constantes,
viagens noutros e diversos mundos que vão para além das perspectivas,
perpassando o próprio ser. Sigo experienciando. Sem ater-me a cânones,
academicismos ou técnicas. Simplesmente escrevo pelo prazer de escrever.
Soletras:
Sente-se na sua
poética uma semelhança técnica (descrição), quando comparada com a de Núria
Masot (em “A sombra do templário”). É uma simples coincidência?
Tere: Confesso que desconheço, pelo
menos até ver o nome nessa pergunta, a escritora Núria Masot, seu livro e sua
técnica. Tenho certeza então que se trata de coincidência, até por que não me
atenho, como afirmei na pergunta anterior, a qualquer técnica pré-estabelecida.
Soletras:
Como é que olha
o mundo através da escrita?
Tere: Como uma forma de ampliar
horizontes e conhecimentos. Com abrangências múltiplas e amplitudes inimagináveis.
Com limitações também, vezes inúmeras. Há momentos em que penso serem os olhos
do mundo que me apanham e me dão palavras. Escrever alarga o meu mundo e a
minha vida. Lanço-me então nessa busca contínua e incansável.
Soletras:
“Há no livro
muitos outros segredos nos convidando a serem explorados com cuidado…” (diz o prefaciador
do seu Flor Essência). Quais são esses segredos?
Tere: Digamos que há fios de invisibilidade
em cada linha que se lê, independentemente de quem a escreveu ou escreve. Não
há nada de intencional nisso, como também, e não há como negar, que existe a
pluralidade na sintaxe, um quê de subjectividade que se propõem às aberturas do
pensamento: eu não chamaria isso de segredo ou mistério, mas antes de pistas,
de insights e signos justapostos a formarem um conjunto no qual o leitor dirá
de si mesmo. ante a leitura que o captura justamente por esses fios, não
sobrando mais nada ao escritor.
Soletras:
Você tem entrado
em contacto com alguns livros de autores moçambicanos. Quais? Pode comentar
essa experiência?
Tere: Conheço algo da escrita do jovem
Lino Mukurruza, versos auspiciosos que li no Facebook, no qual reconheço um grande
potencial literário, notadamente na sua poesia. Posso dizer que é um trabalho
de alto nível, muito promissor. Através de Lino Mukurruza, também conheci a
“Revista Soletras” edição em PDF, onde li o José Craveirinha, um grande poeta
moçambicano.
Posso
dizer que essa experiência é, para além de enriquecedora, uma grande abertura
de horizontes. É imenso saber-se lido e ler escritores de outros continentes.
Uma prova a mais de que a arte, essencialmente a Literatura, não conhece
fronteiras.
Soletras:
Há muitos
autores moçambicanos, sobretudo jovens, que vêem no Brasil uma oportunidade
para se lançarem na escrita. É realista esta percepção?
Tere: As oportunidades
existem, sempre, para todos. Galgá-las, porém, materializando um ideal ou um
objectivo, é outra questão. Se houver qualidade, persistência, esforço e um
pouco de sorte vejo que é muito possível a esses jovens autores realizarem seus
sonhos e virem a ser publicados não apenas no Brasil, mas em outros países
lusófonos.
Por Lino Mukurruza
Lino Mukurruza
(Moçambique) Lino Mukurruza (pseud.). Lino Sousa Mucuruza, moçambicano. Publicou “Vontades de partir & outros desejos” – Poesia. (FUNDAC, 2014), “Almas em tácitas” – Poesia (LUA DE MARFIM, 2015) Colabora em diversas revistas, nacionais e internacionais, só para destacar algumas: (“PIRÂMIDE”, “SOLETRAS”, “LITERATAS”, “CORREIO DA PALAVRA” – Revista da ALPAS 21, “XITENDE”, “SINESTESIA” Caderno literário “PRAGMATHA” entre outras). Consta nas antologias poéticas “CLEPSYDRA” – Coordenada pela poeta Gisela M. Gracias Ramos Rosa - (COISAS DE LER, 2014), “À FLOR DA ALMA” – Coordenada pela poeta Sandra Ferrari Radich Fresa - (SOL, 2014) “Vozes do Hiterland” (Letras de Angola, 2014), “PREMONIÇÕES” – (LUA DE MARFIM, 2015), “POEMA-ME” (LUA DE MARFIM, 2015), “POESIA DE PINTAR E SER FELIZ” (LUA DE MARFIM, 2015) na 12 Volume da antologia “LOGOS” (Janeiro, Fevereiro 2015), foi vencedor mencionado e participa na antologia do XXX prémio mundial de poesia “NÓSSIDE” 2014. Vencedor em segundo lugar do 2º Concurso de Literatura da Academia de Letras, Artes Ciências de Brasil (ALACIB). Vencedor em 3º lugar do concurso internacional de literatura ALPAS 21 “a palavra do século” (Brasil, 2015). Actualmente cursa Português na Faculdade de Ciência da Linguagem, Comunicação & Arte da Universidade Pedagógica (Niassa) igualmente membro de direcção (tesoureiro) do Clube de Escritores Poetas & Amigos de Niassa (CEPAN).
Para leitura da revista na íntegra, em PDF, basta clicar no link a seguir:
https://www.dropbox.com/s/2yez527wsyk7wmg/SOLETRAS%20JUNHO%20DE%202015.pdf?dl=0
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