O
sol sumia por entre as pedras entristecidas. As ondas, como enormes maços de
nostalgia, esparramavam-se incansavelmente sobre a imensidão difusa da praia.
Era
uma vez um desvairado pairando sobre a vastidão. Atravessou a crueza da sombra e
foi ter com os rochedos. Era possível que estivesse num lugar onde provasse
toda a sorte de sensações. Seu objetivo era o lado oposto. Lá encontrou ondas
maiores e ameaçadoras. Alguém vendia ilusões a cinco reais.
Resolveu
retornar ao lugar de onde viera. Sentia-se vigiado. Sequer se lembrava dos
seus. No brilho dos finos grãos de areia, como redigidos por uma estrela de
meio-dia, lia-se o motivo de cada ser que ali houvesse aportado. Seriam
legíveis aos outros os passos que dava na mesma proporção que lhe eram nítidos
os rastros dos outros?
O
desvairado, contorcido pelas bifurcações do pensamento, almejava estar diante
de outro cenário. Mal podia conter o
torpor da sua terrível ansiedade. “Deves sentir cada direção escolhida, seja
como for”. Aplaudiu ao sinal como quem se agarra ao intransponível. “Terás de
sentir também esses ares recém plantados, e os infinitos. Queres? Quem sabe as
areias movediças? Não recomendo que te satisfaças tão rapidamente”.
Atendeu
sorrindo com a febril consciência de um ponto sem ponto. Provara a todos e a si
mesmo – a mente liberta o fazia sentir-se lucidamente fecundo, eufórico. O
primeiro nascimento, o segundo viver, o terceiro término. Não lutou contra a
canção espiralada no peito. Brincou com os seixos. Guardou alguns búzios. Não
se tornaria opaco outra vez. Era como se repartisse a própria vida sobre um
tabuleiro interminável, o delírio cinza e sublime – sem perceber a loucura que
o acompanharia até o céu.
Conto do livro "Entre as Águas" By Tere Tavares
Imagem: Leonardo Mathias
Para leitura dos demais contos basta clicar aqui: http://diversosafins.com.br/?p=7220
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