Bradha
Era linda como o canto
dos pássaros refletido nos rios. Deliciava-se no calor das tardes em que lhe
coube a doçura de um invólucro sem imperfeições. Era mais que o silvo sedento
de um ser conflituoso, como naquele dia em que ousou confiar num sentido esquerdo,
terna como os anjos que, displicentemente, lhe sopravam segredos que lhe
escorriam do rosto feito um poema recém-nascido. Ela não se pertencia. Não
tocava a realidade com o porquê buscado, e o buscado porquê de haver chorado um
mar sendo apenas uma gota agudizada.
E ali deitar outra
impossibilidade, outra tolice impensada. “Superar menina. Superar. Que a vida é
dos saberes e não”. Ela não lavou os cabelos. Protegeu os ouvidos com o
improviso – o ar frio tem lá seus caprichos, o frio artificial é ruim como tudo
o que é artificial. Por vezes o conforto gera o seu oposto. Há que saber do
inconsciente das poses e das posses. A natureza não aceita interferências ou
excessos sem cobrar a conta. Inércia foi tudo o que lhe restou naquele não dia.
Era uma mulher de sorte. Afinal, delgada é a linha entro o acerto e o tropeço.
A partir do original publicado em:
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