quinta-feira, 6 de março de 2014

Auto




Auto
...a alma de neve e os livros ausentes de surpresa ou de orvalho, um poema, a luz do sol, Ah, se desejasse ultrapassá-la de forma que não mais fosse preciso representar o incontestável receio das elipses numa harmonia que só a natureza entregue a si mesma é capaz de executar, o último segundo em que coubesse, a hora de pôr-se a caminho e lutar por cada sopro de ar rodeado do que não se reteria sem angústia a labareda dos álamos avermelhados e o azul que se partia lívido, a nesga de outono e a folha rubi, amaria olhar, tinha certeza, diria que morreria do seu sim diria o que de si é se dissolvendo num contorno fugaz ao menos diria mais enquanto o rebulir das cigarras iniciasse a varrer o dia e a terra se encarregasse da próxima lágrima, o nada que seria ao mundo que de nada o revestiria quando fosse sedutor o bastante para prover o pensamento tão incomunicável quanto é verdade o que pensa, o começo, como apagar a vertigem do nunca do cão astuto, o segundo no escuro de haver a roupa simples de uma pessoa chata chegando à porta do primeiro andar, a bela do mosaico e um dia alto de trabalho num vestido chanell e um papel amassado para preencher saltos baixos em que o ócio não coube não o impediriam de atravessar, seria aquela noite mesmo que tivesse só os ladrilhos arrumou o nó do mosaico a gravata só tinha lugar para uma pedrinha de bem e outra de mal haveria chaves na porta o ócio não seria o sopro de vestido chanell nem o dia de trabalho o beijo de tafetá que amarrotou nos papéis a risca de giz ou o trabalho a roupa difícil de usar um formulário azul-marinho de sentimento indissociável e talvez nem lhe sobrasse o virtuoso ladrilho que absorveu o mosaico e entrou na angústia brilhante e sem saída a extravagância não é feita para ser usada por alguém elegante ou sério ...a elegância talvez fosse o ladrilho ou a moça uma angústia de seda e champagne a nova pedra o cenário de rubi a risca do não rodeava outro vestido petit poá ...nem o acerto incomum queria um celular que talvez nem viesse a usar exceto para remediar uma desculpa qualquer como um dia exaustivo de trabalho e um limite para pensar em como digerir o ladrilho rubi e a rua da presença que desaparecia num brilhante e ressuscitava num vestido de pedra ou numa mente de papéis o sopro dogmático não seguiu, não importava a camisa de festa ...a festa não era a roupa nem o equilíbrio o encontro que tem por destino nenhum destino nem o papel a amargura redonda e profana que sorrindo sustentou a coragem de adormecer e beijar o incomum num dia monolítico vestido de trabalho e probabilidades, a velha pedra de metal exeqüível na divina elegância daquela noite de vinte minutos a festa aconteceria quando ousasse e atravessasse com piedade e sem dó todas as pedras preciosas ao som de piano, que não chorasse a Sonata ao luar...noutra rua.

Texto do livro "Entre as Águas" BY Tere Tavares
Foto by Tere Tavares

Nenhum comentário: