Auto
...a alma de
neve e os livros ausentes de surpresa
ou de orvalho, um poema, a luz do sol, Ah, se desejasse ultrapassá-la de forma
que não mais fosse preciso representar o incontestável receio das elipses numa
harmonia que só a natureza entregue a si mesma é capaz de executar, o último segundo
em que coubesse, a hora de pôr-se a caminho e lutar por cada sopro de ar
rodeado do que não se reteria sem angústia a labareda
dos álamos avermelhados e o azul que se partia lívido, a nesga de
outono e a folha rubi, amaria olhar, tinha certeza, diria que morreria
do seu sim diria o que de si é se dissolvendo num contorno fugaz ao menos diria
mais enquanto o rebulir das cigarras iniciasse a varrer o dia e a terra se encarregasse
da próxima lágrima, o nada que seria ao mundo que de nada o revestiria quando
fosse sedutor o bastante para prover o pensamento tão incomunicável quanto é
verdade o que pensa, o começo, como apagar a vertigem do
nunca do cão astuto, o
segundo no escuro de haver a roupa simples de uma pessoa chata chegando à porta
do primeiro andar, a bela do mosaico e um dia alto de trabalho num vestido chanell
e um papel amassado para preencher saltos baixos em que o ócio não coube não o
impediriam de atravessar, seria aquela noite mesmo que tivesse só os ladrilhos
arrumou o nó do mosaico a gravata só tinha lugar para uma pedrinha de bem e
outra de mal haveria chaves na porta o ócio não seria o sopro de vestido
chanell nem o dia de trabalho o beijo de tafetá que amarrotou nos papéis a
risca de giz ou o trabalho a roupa difícil de usar um formulário azul-marinho de
sentimento indissociável e talvez nem lhe sobrasse o virtuoso ladrilho que
absorveu o mosaico e entrou na angústia brilhante e sem saída a extravagância
não é feita para ser usada por alguém elegante ou sério ...a elegância talvez
fosse o ladrilho ou a moça uma angústia de seda e champagne a nova pedra o
cenário de rubi a risca do não rodeava outro vestido petit poá ...nem o acerto incomum queria um celular que talvez nem
viesse a usar exceto para remediar uma desculpa qualquer como um dia exaustivo
de trabalho e um limite para pensar em como digerir o ladrilho rubi e a rua da
presença que desaparecia num brilhante e ressuscitava num vestido de pedra ou
numa mente de papéis o sopro dogmático não seguiu, não importava a camisa de
festa ...a festa não era a roupa nem o equilíbrio o encontro que tem por
destino nenhum destino nem o papel a amargura redonda e profana que sorrindo
sustentou a coragem de adormecer e beijar o incomum num dia monolítico vestido
de trabalho e probabilidades, a velha pedra de metal exeqüível na divina elegância
daquela noite de vinte minutos a festa aconteceria quando ousasse e atravessasse
com piedade e sem dó todas as pedras preciosas ao som de piano, que não
chorasse a Sonata ao luar...noutra
rua.
Texto do livro "Entre as Águas" BY Tere Tavares
Foto by Tere Tavares
Nenhum comentário:
Postar um comentário