sexta-feira, 4 de março de 2022

RESENHA DOS LIVROS: DESTINOS DESDOBRADOS E DIÁRIO DOS INÍCIOS DE TERE TAVARES por Luciano Mendes

Destinos desdobrados - contos - 2021- Editora Penalux, SP - Tere Tavares
https://www.editorapenalux.com.br/loja/destinos-desdobrados 

Diário dos inícios - poesia/ensaio- 2021- Metanoia Editora, RJ- Selo Mundo Contemporâneo Edições - Tere Tavares
https://loja.metanoiaeditora.com/lancamentos/diario-dos-inicios


A escrita dos femininos!

"Quero escrever para que o deserto não consuma os meus olhos".
Nos últimos dias estive em companhia da escritora, poeta e ensaísta Tere Tavares. Foram momentos muito intensos, ás vezes aconchegantes, outros momentos dilacerantes.
Outro dia, ao comentar um livro do Chico Lopes eu dizia que toda leitura é uma inter-leitura ou entreleitura... Não foi diferente a leitura dos livros da Tere Tavares. Em cada pequeno conto ou, mesmo, em vários aforismos em que ela trabalha, me lembrei de outros livros, textos, contos... que me atravessaram. De Maurice Blanchot a Elisabeth Badinter, sem falar em muitas colegas que habitam este grupo, um tantão de gente me passou pela cabeça.
Quero falar de algo que, a meu ver, atravessa de ponta a ponta os dois livros que tive o prazer de ler: a tensão e o tesão da escrita e as possibilidades de tradução dos femininos, e na escrita feminina, em sua forma literária.
São inúmeras as passagens em que há uma inscrição, na própria escrita, dos desafios de escrever e, vencidos estes, dos prazeres e das liberdades que acompanham (ou significam) essa conquista. "Vencidos estes" é, evidentemente, uma forma de dizer da "coisa", de palavrear algo que é tão efêmero quanto tenaz: a escrita, na escrita de Tere Tavares, nunca é passada/passado, é sempre um trânsito, um escrevendo-se/inscrevendo-se o/no texto.
Há que se escrever para se elaborar a experiência de ser/estar mulher no mundo, assim como há que se escrever para capturar o universal e o único que habita em cada qual. A este respeito, a escrita, conforme lá entendi, é tão necessária como insuficiente. Potência/impotência habitam o mesmo espaço: "a poesia é uma dor que ri" e "escrever é-me alimento à frente da duríssima aflição de cumprir os dias, de permanecer heterônima para unir a humanidade num mesmo mundo", diz ela.
Ao terminar de ler os livros, fiquei pensando se há, na literatura brasileira, uma reflexibilidade assim, tão forte, sobre a escrita, por parte dos masculinos que habitam o universo literário.

Luciano Mendes Professor Doutor em Educação e
História da Educação da UFMG Escritor e autor de diversos livros publicados

************************************************************** Os livros de Tere Tavares podem ser adquiridos diretamente com a autora via e-mail: t.teretavares@gamil.com
https://www.facebook.com/tere.tavares.1/

************************************************************** Grata e honrada pela leitura e resenha, Luciano Mendes.

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