Uva e Vinho - Aquarela 2014 BY Tere Tavares
Adágios
Entre
aceitações e esperanças, a presença do temor não pressupõe covardia, ausência
de lucidez ou verdade, porventura uma incorrigível curiosidade ambiguamente
vivaz, não absoluta, pela mesma propositura de que nada é absoluto.
Como
se o relógio caminhasse em inação, não recebia ecos no oco da emoção, solar –
fruto do distanciamento que não obtinha. O chapéu e os óculos esquecidos, como
o amontoado de endereços onde a ousadia escorregava por denunciar no rubor do
silêncio o ridículo perdão da fala.
Objetando-se
à hipocrisia, continua a dispor na mesa os pratos com verdades convenientes e
loucuras aceitáveis. Abre a longitude nas toalhas inodoras das uvas, das vinhas,
clamando a supressão de sarmentos, cordões e troncos – os cachos frondosos como
as folhas que os vem proteger, para não se transformarem em videiras sem
braços. Contudo, a morfologia será a mesma, na essência ou na gema não há nada
para suplantar... quando o cálice é a retirada dos brotos, a desfolha amadura o
fruto à cumplicidade dos carvalhos, o
mosto fecundo dos vinhos.
Depois
de She obteve a certeza de que possivelmente havia um talvez que lhe
pertencesse. Ao traduzir a leitura, especulando os últimos anos de quase
completa deserção desfruta a graça que afinal não se perdera. Não em She.
Apesar
de perceber a palidez, imersa na decoração, mais diminuta a cada vez que se
punha em frente à luz...a diluição das
possíveis modelagens , não tinha certeza, era culpa da sua ingenuidade, falta
de atitude ou excesso de cuidado. Atitudes drásticas também não eram afetas de
She.
Queria
ser como uma touça de bambu e seqüestrar muito carbono, dirimindo a poluição da
alma que não se originava na queima das
folhas, mas de algo que em She era fóssil por reconhecer há tempo aquela feliz
desconhecida.
Na
difusão dos pormenores havia têmperas de futuro. Ousar sonhá-lo passa distante
de supor obtê-lo, pois de verdadeiro, talvez nem o hoje exista. O que importa é
a troca – moedas infantis e frágeis, revestidas
de uma inocência quase reprovável – sem perda de validade.
Convalescendo
a fios precisos pede sobretudo, que a sua saudade não sucumba na mesma
intensidade quanto a que lhe deixam, que
não lhe neguem permanecer recordando o inextinguível quando a areia lhe alcançar
a cor que a reservará.
O
silêncio carrega a mesma crueldade e indiferença da fala – deseja não sentir nada por ninguém. Rebusca o
solo, repisa-o. Nada. Ainda a mesma coisa. Absolutamente impossível. Em cada
lado do lodo resgata esculturas multiformes, sonhos talhados à força de não
negar forças. Cegueiras que enxergam feito um ser pequenino que espreita com ansiedade
às ríspidas aberturas, suaves adormecimentos de Natais esmerados, alinhavando
perspectivas no esmaecido tropel de esperanças à guarda de uma oferta que o
devir lhe oculta. Somente a loucura lhe
entrega uma fração da verdade – diversa da razão – por refletir-se na mais
absoluta verdade: a inexistência do temor que só aos insanos é concedida.
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Um comentário:
Quanta coisa boa de ler, assim comprimida em tão poucas palavras.
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