Olhos Azuis- Aquarela 2014 By Tere Tavares
Lábil ou
passagem transitória
Sinto-me uma
sombra de existir, o que não comando do que fui não se repetirá – se fomos algo
um para o outro será igualmente irreparável – pesam as bolhas febris por
abrirem-se nos meus lábios, talvez o fruto se tenha misturado a algum sonho, do
que sou para mim de incerto na incerteza de haver futuro na obrigatoriedade de
mim, vendo-me cegamente na morbidez de um mar
inerte, como esse orvalho insistente que desseca os meus lábios, o que
eles tinham despertado antes de apanharem o sol do meio-dia. A antemanhã que
viveram agora é só uma bolha por explodir, demoradamente, para formar a ferida
cuja pele hei-de retirar. Altero-me como a nuvem de breu que há pouco se
derramou em mais orvalhos. Inundando a rua e as folhas sobre a muralha rosada
dos lábios, as camadas que vão, em poucos dias, amarelar como propósitos
mortiços a minha espera, entre entorpecimento e lucidez pairo como a chuva antes
da chuva, semente antes do fruto das roseiras. Arrefeço o calor num cubo de
gelo, alivio-me confusamente. Procuro o aparecimento no que ressurge sem
evanescer essa tarde tépida esfumaçando-se no tremor das horas duras que me
vivem ao mesmo tempo que as pequenas
grades vestidas de espumas e transparências em seus momentos de perguntarem-me
porque lhes não respondo ao rompê-las, vãs, deixam-me passar como se soubessem
que não sei o que será dessa liberdade alastrada que conspiro... essa abertura
fosca que aplaude a minha alternativa de não saber querê-la – chamei-a de erros
– enchi-me deles até esvaziar-me de irrealidades, ervas ostensivas, que
medicina teriam para minhas alcovas febris neste sem fim de lábios? Que ser é
tão capaz e tão fausto? De tanto tempo que julga o que o mundo tem? Dentro da
minha casa há passagens exteriores, cortinas de árvores gigantes e miúdas cujo
silêncio e brevidade não antevi ...horizonte fértil e diverso, de plantas que conheci na diluição de alguém
que talvez me representasse ou sucedesse diante de tantos rumos, crispam-se
outros arbustos de que tenho saudade ...convergem-se as águas soltas, as
araucárias e os álamos, as ramas de aliviar a febre, onde as perdi de
olhar? O jardim de rosas rubras igual ao
rubor dos lábios que me doem radiantes... lírios ébrios de perfume, jasmins,
amores-perfeitos que deixei de fitar mas que beijei na confluência esguia de
todas as terras e todos os rios. Frutos.
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