Do sal à
água ...em multidão
De quais
orientações me despem os oceanos para se espelharem no espaço em que adormecem
e se acumulam as ausências dos meus inícios?
Ali, onde o óleo perfumado é leito e as
armaduras se distribuem em vôos de fantasias reais, se despedem os meios-tons
do silêncio de haver mais por regredir, (cá do meu canto sem encanto finjo não
chorar cada momento amigo da distância).
Amparo-me em
âmagos-motes, povoando um único instante: ser mar e areia confluindo entre
margens de oásis. Quando então intuiria que tudo se dota das mais estranhas
singularidades? Seria meu ...ou eu esse
mar, essa sereia, onde recolhida em saudade, peso menos que o opaco horizonte que me deseja enxergar.
O que serei dessa fração não minha, crispada de ventres, sabor e alma?
A cada final
de aurora em que recolho o que gostaria de nutrir por muito mais tempo, num
ínterim que escapa de um céu iridescente escorrego nalguma rua imaginária,
salpicando sinais aos imprevistos que me impulsionam para fora de mim (o algoz
tão próximo) as muralhas adornadas de pombas, a coragem flutuante nos ramos de
acácia.
Lago do
papel que não me ilustra, afago o ocre dos papiros impressos nas orgias
outonais, nas cumeeiras das casas à minha frente, dançando em colunas rotas de
ternura.
As ilhas de
sal que ficaram ao longe me perpassam o corpo com aparições de vidro. A doçura,
nívea, se torna compulsiva e me dá uma possibilidade única de vislumbrar-me
maior que a felicidade, pecadora ou angelical, quem me implorará sentires nunca
experimentados? Dedilho vagarosamente no meu ser a feição mais cúmplice, o
jeito que não descrevo.
Como um
traço corrompido a lançar-se num abissal infinito, com véus de alguma estrela
diversa da minha ousadia, opto, sabendo
que já opção não me resta, pelos mais salgados sais ... sem razão, perpetuo o
desfiar dos relicários, relatos pálidos
de ostras, renascendo rapidamente em outra intrusão sem dia nem tempo por
acabar... Se partirem-se os meus opostos, acoberto-me na própria engenharia do
exercício que me constrói sem dar conta às renúncias por verter.
Obtusa, replanto
lírios recolhidos de águas e salinas, muitas outras vezes, apenas para
reconhecer o gosto de gostar-me. Com a alma espiralada na praia, a magia do meu
regresso se redobra, porque simplesmente não suponho conformar-me em nublados
resumos de mim ...como se não conhecesse o pranto ...o sol insufla-me a carícia do calor em
buquês de vinho enquanto o vento, em ziguezagues, me sublinha a testa com mais uma de suas veredas.
Do livro "Entre as Águas" By Tere Tavares
Foto By Tere Tavares
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