Não se importou com seu sofrimento. Estava ali por estar.
Os aplausos o agradavam como quando ouvia Beethoven. Não tinha papas na língua. Assumia todos os personagens de todos os livros que lia e dos que viria a ler, todos que encontrava dentro e fora do habitual.
Gostava de ser longínquo, conhecia quase a totalidade das sensações humanas, inclusive as “demasiado humanas”. Nitzsche o compreenderia bem. Parecia viver com a desenvoltura das águias e a sutileza dos ventos, cheirando a luzes escritas sobre ondas e areias – mantinha a suficiente distância que lhe conferiam a timidez e a vastidão dos verbos inquietos – tão movediço quanto.
Atravessava o tempo com uma urgência tranqüila e constante. A geografia: segundo encanto, onde se demorava mais. Como se olhasse um raro espécime do universo, reconstruía para os outros a alquimia da compaixão. Era parte de seu cotidiano ser carinhoso, perguntar como vai, como não, desejar felicidades, muitas.
Claro estava que não importava na mesma proporção que se importava. Os amigos permaneciam desgraçadamente ausentes, propositalmente mudos. Prometeu que se interessaria mais pelos ensinamentos de Lao Tsé. Mesmo sabendo do seu estado revelava com toda a intensidade o comportamento jovial e sistemático: “Seja o que for possível até conhecer as possibilidades do impossível”.
Cicatrizava as feridas – as que sabem espreitar na inteireza dos vãos – com a liberdade autêntica de retornar a novos ângulos e umedecer o seu sol: “Terás vontade de rir comigo, e teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu”, solfejava-lhe uma criatura aparentemente angelical vinda das páginas de Saint-Exupéry, encorajando-o a prosseguir com avassaladora alegria.
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11 comentários:
Terê, você tem o dom de materializar sentimentos, seja na poesia, na crônica ou na pintura ..
Querida Tere
FELICIDADES PELA TUA MATERNIDADE. ESSA NÃO TEM DIA NEM HORA, MAS JÁ QUE HOJE É DIA MARCADO, FICAMOS MAIS SENSÍVEIS.
Que textos sempre leio aqui. Dá vontade de vivê-los, e vivo enquanto leio. BRAVOS os que se dão o direito e vevem a alegria.
"Seja o que for até conhecer as possibilidades do impossível"!
Beijos amiga
Tere, soh vc mesmo para unir Nitzsche e Saint-Exupéry... um feito e tanto! bjos
Querida Tere,
Mais uma pérola no seu colar, para nosso prazer e deleite.
"Cicatrizava as feridas – as que sabem espreitar na inteireza dos vãos -"
Poesia, pura poesia.
Beijos
Tere,
reconheço-nos, inteirezas que jamais falharão, nessa pátriade sermos.
beijos,
r
Tere
As palavras tocam-nos tão docemente, que invadem tudo o que sabemos sobre emoção.
Uma escrita sensivel e extraordináriamente delicada que revela conhecer, profundamente, a cor da aura, verdadeiramente humana.
Um enorme beijinho e muito obridada pelas palavras!
Cara Tere Tavares
eis um texto profundamente aurático em que saliento as inter-textualidades literárias e meta-literárias: a evocação de Nietzsche e da sua dionisíaca dança, aérea, "com a desenvoltura das águias e a subtileza dos ventos"; as sinestesias impressivas que outorgam maior colorido à "vastidão dos verbos inquietos"; a evocação de Saint-Exupéry e a aura do Principezinho.
Texto rico, de extrema subtileza significativa.
grato pela partilha
luís filipe pereira
Belo texto, Tere. Inquietante em um estilo de construção de frases de efeitos poéticos.
Abraços
Leandro Soriano
Fico embevecido quando leio qualquer escrito de Terê. Quão admirável é tua arte minha irmã!
Um beijo.
Zé
Tere querida
Atender a um convite seu para ler seus escritos e saber seus ecos e ter na bagagem o passaporte para viagens literárias inesquecíveis!E aqui me deparo com um desfile de comentaristas também inesquecíveis.
beijão
Querida Tere,
as tuas palavras são como brisas que cicatrizam com sabedoria,qualquer sensação de dor.
Têm ainda um hálito agradável a esperança e prosseguir. Obrigada.
1 Bj*
Luísa
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