terça-feira, 17 de março de 2015

Dia Mundial da Poesia em Cabo Verde

Uma honra ter sido convidada a participar desse Evento; Ainda que à distância, saber-me lida nesse Sarau Poético é motivo de emoção e alegria. Muito Obrigada aos Organizadores e demais participantes; especialmente ao amigo e escritor Nuno Ferreira Rebocho.

Matéria completa no link:

http://www.africa21online.com/artigo.php?a=11024&e=Cultura

sexta-feira, 13 de março de 2015

Clemente

Pescador ao por do sol - ost- 35x70 - 2009 Tere Tavares
Clemente

O sol sumia por entre as pedras entristecidas. As ondas, como enormes maços de nostalgia, esparramavam-se incansavelmente sobre a imensidão difusa da praia.

Era uma vez um desvairado pairando sobre a vastidão. Atravessou a crueza da sombra e foi ter com os rochedos. Era possível que estivesse num lugar onde provasse toda a sorte de sensações. Seu objetivo era o lado oposto. Lá encontrou ondas maiores e ameaçadoras. Alguém vendia ilusões a cinco reais.

Resolveu retornar ao lugar de onde viera. Sentia-se vigiado. Sequer se lembrava dos seus. No brilho dos finos grãos de areia, como redigidos por uma estrela de meio-dia, lia-se o motivo de cada ser que ali houvesse aportado. Seriam legíveis aos outros os passos que dava na mesma proporção que lhe eram nítidos os rastros dos outros?

O desvairado, contorcido pelas bifurcações do pensamento, almejava estar diante de outro cenário. Mal podia conter o torpor da sua terrível ansiedade. “Deves sentir cada direção escolhida, seja como for”. Aplaudiu ao sinal como quem se agarra ao intransponível. “Terás de sentir também esses ares recém plantados, e os infinitos. Queres? Quem sabe as areias movediças? Não recomendo que te satisfaças tão rapidamente”.

Atendeu sorrindo com a febril consciência de um ponto sem ponto. Provara a todos e a si mesmo – a mente liberta o fazia sentir-se lucidamente fecundo, eufórico. O primeiro nascimento, o segundo viver, o terceiro término. Não lutou contra a canção espiralada no peito. Brincou com os seixos. Guardou alguns búzios. Não se tornaria opaco outra vez. Era como se repartisse a própria vida sobre um tabuleiro interminável, o delírio cinza e sublime – sem perceber a loucura que o acompanharia até o céu.

do livro "Entre as àguas" (prosa 2014)
pintura: "Pescador ao por do sol" - ost- 35x70- 2009 By Tere Tavares 

Contos publicados na Revista Diversos Afins

Na edição número 99, março de 2015, da Revista "Diversos Afins" estou na página
"Dedos de Prosa III" com dois contos: " O Colorista" e  "Sub-reptício".

Agradeço aos "leveiros" Leila Andrade e Fabrício Brandão pela publicação.
A ilustração é da artista plástica Alessandra Bufe Baruque.

Para leitura acessem:


http://diversosafins.com.br/?p=9475

ou

http://diversosafins.com.br/


Bom passeio!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Cinquenta tons de gris



Cinquenta tons de Gris
Ou para ilustrar meus Brasis

Um defeito
Um mal feito
Um jogo de fogo
Escondido
Temido
Sem hora nem jogo
Um joio
Um fogo
Um tombo no povo
É festa
É funesta
É a fresta de novo
Um defeito
Um mau jeito
Uma faca de névoa
Não é bomba nem sombra nem água demais
É camuflagem é corrupção é mil e um carnavais
É você do outro lado
É você crucificado
Pelo jeito
Pelo mal feito
Pela norma no chão
Pela lei não cumprida
Pela pátria falida
Pela lei do cão.


É um chega que grita e não é ouvido
É uma alma aflita
[Não é uma. É um milhão]
É o roubo indevido
É uma pobre nação.

É uma corda bamba
Virando samba-canção.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Máscara Brasileira/Carátula Brasileña

Poema (bilingue) publicado no espaço Tempestade Urbana. Grata a Adriana Aneli Costa Lagrasta pelo honroso convite à participação do Projeto "Do ovo ao voo".

Máscara Brasileira

Não definiu a proposta
As formas mais simples.
O que governa
Não escreve a boa tradição.


Na atualidade
E desde sempre
De há muito tempo
Não é o verdadeiro eu que conta
Antes a concepção mais falsa
Do que deveria ser honestidade.

Canta o povo
Dança seu coração
Não obstante
De novo
Canta o povo
Dança seu coração
Sua alma se perde
Ele não tem que mudar por obrigação
Contudo pode mudar seu tortuoso caminho
Com seu grito de asas abertas
De inconformismo

By Tere Tavares

Carátula Brasileña

No definió la propuesta
Sensilamente las formas.
Lo que gobierna
No escribe la buena tradición.

En la actualidad
Y desde siempre
Hace mucho tiempo.
No es el verdadero yo que cuenta
Si no la más falsa concepción
De lo que debería ser honestidad.

Canta el pueblo
Baila su corazón
Sin embargo
De nuevo
Canta el pueblo
Baila su corazón
Su alma se pierde
Y él no tiene que cambiar por obligación
Y todavía puede cambiar su estorbado camino
Con su grito de alas abiertas
De no conformidad.

By Tere Tavares

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A mulher dos cabelos encaracolados

Branca By Tere Tavares - Aquarela- 2014
Tinha os olhos desgrenhados, a boca em forma de coração, um olhar quase escondido, angustiado, mas via, e intuía. Algo a impulsionava a seguir sem importar-se com o que diriam os outros, aqueles que a conheciam ou viessem a conhecê-la. Gostava de olhar-se no espelho, conferir o delineador, o batom, a tez e os cabelos, sim, aqueles cachos assemelhavam-se às uvas maduras pendidas das parreiras — transportou-se, em segundos, para o tempo em que vivera em meio aos pomares e às hortas, às ervas e relvas, conhecia as plantas medicinais, as frutas silvestres, as borboletas, os pássaros, os matagais, os murmúrios das florestas, onde havia cedros e araucárias, as estradas e as encruzilhadas, as colmeias, os bichos e seus chiados, como um inescrupuloso encontro entre amor e mais amor. Afugentou-se pelas ruas aquecidas da metrópole, agora sua paisagem era a corrida inconsumível de um dia-a-dia que jamais se adiava. E, no entanto, passava, passava, passava. E aquele breve e infindável instante em que permaneceu, como se andasse para trás, revelou-se na magia de um legado que alguém lhe havia reservado. Não perdeu a graça nem o santo nem o pranto nem o tempo. A cada tremular estrutural do seu corpo, a cada passo, assegurava-se de guardá-lo, como uma apólice a garantir-lhe alguma proteção vinda do aparente desconhecido. Como no dia em que lhe arrancaram a bolsa do braço e o celular e o relógio e o camafeu e os anéis e algumas gotas de sangue — e o corpo, a vida, não fosse o amuleto.

A partir do original: http://www.escritorassuicidas.com.br/edicao48_7.htm#teretavares48

sábado, 24 de janeiro de 2015

Prefácio do livro A Linguagem dos Pássaros - Por Luis Filipe Pereira






PREFÁCIO

(ou para escutar os acordes desta Linguagem de Pássaros)


Luís Filipe Pereira *

Tere Tavares resgata nesta obra, por via da poesia, o poder da linguagem para (re) nomear o mundo, escavando neste um volátil e inesgotável campo de experiência onde a língua, reabilitada pela sonoridade primeva das aves, age em todos os sentidos, propagando-se numa rede de caminhos que se entrelaçam à verticalidade do voo. A premissa maior deste labor poético é, por metaforização e animismo de pássaros falantes de uma proto-língua pregnante de sons e de musicalidades, o triunfo sobre a resistência da linguagem para que ela se metamorfoseie numa pura, funda e imponderável, ressonância do nosso mais originário ser-no-mundo.

A linguagem poética da autora encontra, ficcionalmente, na linguagem dos pássaros, uma modalidade de ascese, de verticalização e de errância, ousando o voo sem mapas nem bússolas, para criar territórios outros, como que de asas cingidas em torno do canto que celebra o fulgor do mundo, o enigma da linguagem, o fascínio do Ser. É adentrando-se nesses meandros verticais que a autora abre o flanco dos versos ao silêncio. Um silêncio que vibra, altissonante, nos interstícios de uma linguagem que devenha ponte suspensa entre o mundo e as coisas por nomear, que seja íris de coisa alguma e, simultaneamente, pupila deslumbrada sobre a totalidade do possível que se dá a ver como verbo silente de plurais conjugações, sempre intervalares, intersticiais, sempre irrompendo numa aberta porosidade, advindo de uma incomensurável espera, de um desejo que permaneça desejo, plena abertura ao renovo do voo: espera-desejo percutindo o rumor da âncora, esse fio que se perfuma no corte manso do instante. Instante onde assoma, afinal, a linguagem das coisas não nomeadas, essa linguagem que mergulha no seu abismo, no zero da significação, para que venha à tona o vaivém desse verbo, quiasma de silêncio e som, que refunda a linguagem desde os seus alicerces mais subterrâneos para que possa desvelar as feições incontáveis do mundo, esse poliedro sonoro, essa paleta de sentidos. Para tal, conduzem-nos estes poemas até ao silêncio nidificador e ninho onde a voz se enleia ao balbucio das aves, à gramática da deriva dos pássaros, ao seu idioma infixável, à sua luminosa sintaxe, nimbada de estrela e raiz e chama.

Nesse universo onírico que alavanca a realidade, os versos surdem como braços-asas – braços manchados de luz – tornando-se o sujeito poético num ser arborescente que no tronco do poema traça a propagação da música desses pássaros errantes ou a sua contenção numa ave deserta, rumorejando aquém e além do tempo que captura a linguagem nos acerados dentes de Chronos. Triunfar sobre essa resistência do Logos é perscrutar uma música originária, pautada em felizes aliterações – no sopé do sol – compondo toda uma melodia poemática capaz de revelar aos leitores a nudez da fala.

Encontrar essa linguagem indireta, esse canto do silêncio, implica uma atitude de despojamento da convenção, do monopólio da racionalidade; reclama uma fértil ignorância (douta ignorância socrática), um aventurar-se pela ausência de entendimento, pois, como rosa de Silesius, o poema floresce sem porquê. Significa este traço desta obra que o poema como que perde o pé, transbordando as margens da fala falada, da museologia morta dos tratados, das verdades, das certezas, das razões, para que possa advir inteiro, liberto dos freios de uma racionalidade asséptica que tolda o fluir inesgotável do imaginário, a ardência de uma saliva outra, de um hálito outro, de uma sílaba outra, o dinamismo amante de sístoles e diástoles. Só assim, pode o poema respirar o sol em tua boca; renovar a voz no lugar sem lugar de amplexiva ágape, onde tudo é sutil, tudo é próximo e insidioso.

Eis pois uma obra poética que nos desenha um fabuloso mapa aéreo, uma rota das aves, uma geo-grafia em que experienciamos a insaciável fome do som onde, como ferida incicatrizável, se inscreve a linguagem de pássaros na compulsão do verso. Eis a ficção soberana de uma fala no anverso da fala, na fratura de uma linguagem que cede perante o desiderato de inaugurar o reencontro com os sons matriciais de um mundo do porvir, de uma branca melodia que instale na casa arborescente do poema a infinitude do possível, matizado de todas as cores, dando-se numa paleta de timbres e de assombros num versilibrismo tenso e coeso, carecendo dos pássaros para abrir as manhãs, para abrir, em transparência e horizonte, mundos com o sol a soltar-se entre os lábios.

Eis uma poética tecida através de imagens que balançam entre a infrene simplicidade e a máxima abstração, esta última enquanto atestação da linhagem reflexiva da autora (porquanto o horizonte reflexivo é uma marca indelével desta poesia, traço que já encontramos em anteriores obras de prosa da autora), bem como da sua propensão, como patenteado nesta obra, para uma experiência do exílio, do nomadismo ou do trans-bordo; errância por via da qual se cruzam a real e o irreal, conquanto seja a irrealidade do onírico, do imaginário, da força sinestésica do sonho e da metáfora, que fecunda a própria realidade, alcandorando-a a novos rizomas de possibilidades, outorgando-lhe uma intensa expressividade fónica. Uma poética, pois, que transporta a marca da incompletude, do ritmo intervalar do silêncio e do canto, dos indícios da perda, mas que, simultaneamente, nos convoca para um espaço de fascinação lúdica, que é também espaço de despossessão, de regresso ao sossego irreflexivo das fontes. Uma trajetória árdua, porque a impulsiona o desejo de ascensão sem deixar de enfrentar a condição humana, a sua plêiade de resistências e confinamentos: porque tenho asas e lodo. Então o regresso é, de forma oximórica e tensional, também um intrépido retorno do que não há, que nunca deixa de manter viva a dialética com o gerundivo retornando de um sempre/na loucura/de um supremo gesto onde os pássaros pousam.

Eis, em suma, nesta obra poética de Tere Tavares o encontro com o «dizer projetante» a que alude M. Heidegger, que posso traduzir, em consonância com o que soube ler nesta sinfonia poemática, como a constante preparação da fala que, ao mesmo tempo, faz advir, mediado pela efabulação de uma linguagem de pássaros, o silêncio do mundo. Concerto da dizibilidade e da indizibilidade de que este livro é uma feliz prova.

*Luís Filipe Pereira – Licenciado e pós-graduado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Licenciado em Literatura Francesa. Pós-graduado em Criações Literárias Contemporâneas. Mestre em Teoria da Literatura. Escritor e poeta. Com diversos textos (ensaios, contos, poemas, resenhas críticas) publicados em diversas antologias e revistas de literatura portuguesas e estrangeiras. Autor do livro de poesia A Tela do Mundo.
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Adquira seu exemplar na Editora Patuá aqui:http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=273&Itemid=53 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Alguém que, com o acontecimento, sonha

Alguém que, com um acontecimento, sonha

Fico pensando
O quanto faria sem essas intermináveis cicatrizes.

Silencio-me no unguento das folhas de dente-de-leão para afagar a ferida.
Faço, do cataplasma, um prato gourmet.
Deito-me num leito estreito onde toda minha dificuldade afunda.

Escrevo porque sinto [somente a palavra me suspende]
Então consigo sumir.
Ir sumindo.

Espero que o dia passe.
Repasso a minha vontade.
O jugo de sempre, os desperdícios involuntários, os exercícios da inaptidão.

Sinto o peso de não ter peso.
Sinto vergonha e revolta.
Sinto vergonha por sentir revolta e vergonha.
Sinto que não há volta, não há retorno.

Em torno de mim a jornada se apaga com o sol posto.
A lua beija o meu sono e as estrelas consomem meu cansaço.
E esse braço, e esses sonhos todos que criei,
Não morrerão antes que as minhas mãos os afaguem.
Antes que meus olhares sejam totais.

Acredito e evito enlouquecer.
Sinto pena do que poderia ter sido.
Sinto pena do que poderia ser.
Sinto o que é.

Sinto com a proscrição, por saber que, de algum modo,
Tudo será, e tudo terá sido.
Assustadoramente belo [Como eu sem mim]
Num sem tempo [Talvez]
Noutro tempo que não esse.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Lábil ou Passagem transitória

Olhos Azuis- Aquarela 2014 By Tere Tavares


Lábil ou passagem transitória

Sinto-me uma sombra de existir, o que não comando do que fui não se repetirá – se fomos algo um para o outro será igualmente irreparável – pesam as bolhas febris por abrirem-se nos meus lábios, talvez o fruto se tenha misturado a algum sonho, do que sou para mim de incerto na incerteza de haver futuro na obrigatoriedade de mim, vendo-me cegamente na morbidez de um mar  inerte, como esse orvalho insistente que desseca os meus lábios, o que eles tinham despertado antes de apanharem o sol do meio-dia. A antemanhã que viveram agora é só uma bolha por explodir, demoradamente, para formar a ferida cuja pele hei-de retirar. Altero-me como a nuvem de breu que há pouco se derramou em mais orvalhos. Inundando a rua e as folhas sobre a muralha rosada dos lábios, as camadas que vão, em poucos dias, amarelar como propósitos mortiços a minha espera, entre entorpecimento e lucidez pairo como a chuva antes da chuva, semente antes do fruto das roseiras. Arrefeço o calor num cubo de gelo, alivio-me confusamente. Procuro o aparecimento no que ressurge sem evanescer essa tarde tépida esfumaçando-se no tremor das horas duras que me vivem ao  mesmo tempo que as pequenas grades vestidas de espumas e transparências em seus momentos de perguntarem-me porque lhes não respondo ao rompê-las, vãs, deixam-me passar como se soubessem que não sei o que será dessa liberdade alastrada que conspiro... essa abertura fosca que aplaude a minha alternativa de não saber querê-la – chamei-a de erros – enchi-me deles até esvaziar-me de irrealidades, ervas ostensivas, que medicina teriam para minhas alcovas febris neste sem fim de lábios? Que ser é tão capaz e tão fausto? De tanto tempo que julga o que o mundo tem? Dentro da minha casa há passagens exteriores, cortinas de árvores gigantes e miúdas cujo silêncio e brevidade não antevi ...horizonte fértil e diverso,  de plantas que conheci na diluição de alguém que talvez me representasse ou sucedesse diante de tantos rumos, crispam-se outros arbustos de que tenho saudade ...convergem-se as águas soltas, as araucárias e os álamos, as ramas de aliviar a febre, onde as perdi de olhar?  O jardim de rosas rubras igual ao rubor dos lábios que me doem radiantes... lírios ébrios de perfume, jasmins, amores-perfeitos que deixei de fitar mas que beijei na confluência esguia de todas as terras e todos os rios. Frutos.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Uma noite inesquecível na UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL








No dia 26 de novembro de 2014 participamos, à convite do Centro Acadêmico do curso de Letras gestão “Eu Passarinho”, do I Encontro Acadêmico de Letras: Diálogos Interdisciplinares, na Universidade Federal da Fronteira Sul- UFFS -Campus Realeza, juntamente com Maria Aparecida Palma, Maria Lucia Kleinhans Pereira e Vera Fonseca, ocasião em que abordamos sobre "Mulheres Poetas e Poetizadas" como representantes da Academia Cascavelense de Letras. Esteve também compondo essa mesa-redonda a escritora realezense Marli Tereza Ost.

O grupo de escritoras foi homenageado pelo Projeto Cultural “Joaninha ou o que é?” e o Grupo de Teatro "La Broma". Os atores fizeram várias esquetes a partir dos poemas das convidadas.  Foi uma surpresa que me levou à uma emoção indizível, ao reconhecer o poema "Duo" do livro "A Linguagem dos Pássaros" entre as encenações. Houve sessão de autógrafos onde pudemos partilhar nossas obras e interagir com todo público presente. Foi um noite memorável e inesquecível.

À todos que compõem a Universidade Federal da Fronteira Sul- UFFS- Campus Realeza, Curso de Letras, diretores, professores e graduandos, nosso respeito e amizade, e o compromisso, reafirmado, na promoção, compartilhamento e difusão da Poesia e da Literatura, nosso redobrado bem-haja!

Tere Tavares

http://www.uffs.edu.br/

https://www.facebook.com/uffsonline/info?tab=overview


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Dois contos de Tere Tavares na mallarmargens | revista de poesia e arte contemporânea

Os contos publicados compõem o livro "Entre as Águas" (contos) 2011- Edição Independente.


Olhos Azuis- Aquarela- 2014 ByTere Tavares
Para leitura acesse o link abaixo:
http://www.mallarmargens.com/2014/11/2-contos-de-tere-tavares.html

Inverno Indiferente- OST- 40x32 -1994 By Tere Tavares


Obrigada Jandira Zanchi pela honrosa publicação dos contos, ilustrados com minhas pinturas. Ah! Pura alegria!
Obrigada aos leitores que me honram com a vinda e partilha.
Espalhem como pólen!

Abraço a todos!

domingo, 16 de novembro de 2014

Resenha do livro A Linguagem dos Pássaros - por Vivian de Moraes




"A linguagem dos pássaros" é o quarto livro da escritora Tere Tavares, também artista plástica, e o primeiro pela Patuá. Costurado por figuras como, obviamente, pássaros e voos, mas ainda outros temas como romãzeiras e romãs como metáforas, o amor a dois e a existência natural, o livro convida o leitor a adentrar o universo íntimo de Tere.
Em praticamente todos os poemas, sejam os longos e de sintaxe sofisticada como "cada vez mais te pertenço", seja nos curtos como "Poema de uma folha que voa", há sempre um "eu" marcado explicitamente na tessitura da trama que se faz de sons e silêncios, movimentos e suspensões, voos e pousos.
Há mesmo um poema que é em si no título: "O sorriso nasce no ventre das estrelas para tornar-se pássaro."
Uma das características poéticas de "A linguagem dos pássaros" é o alongamento dos versos no fim dos poemas, criando um ritmo um tanto esquisito, como em "Cantas como a água sobre o livro", um belo metapoema sem obviedades linguísticas:

"cultivas o pomar na alegria rota das aves
como se soubesses aferir os aniversários do tempo
carregas as drusas da melodia nas costuras das portas,
esqueces as ranhuras entre as flores
a um toque irresistível de Bach,
trazes à mão o bailado para saciar a fome do som,
e deixar somente o fragor das palavras,
arrebanhando árvores de céu, de lavra,
sobre o clamor da sombra feliz da tua morada,
linguagem de pássaros na compulsão do verso
a verdade não é nada; o que crês ser a verdade é tudo.
regressas à primavera dos invernos, trazes sóis, pois te acendem as faces, no fio luminoso que não pensa florir - é a esfera dos arcanjos voláteis que notas, porque é no ar das estrelas que surfas e descobres que és multidão, que és música à dança da alma - terra que te segue."

Como é possível notar no mesmo poema, as outras artes fazem parte do fazer poético da escritora. Em outros, ela fala em "tintas" e "claves".

Entre os poemas de amor está "Éramos a nossa pele rouca":

"Quando um pequeno cílio se abriu no meu peito
Senti, os teus olhos se enraizaram nos meus.
Aquela folha inerte sabe que há um rosto
que a deseja de outra cor.
A ficção sem corpo e sem alma
foge do olho nu - porque nada nela é inteiro.
Então eu existi porque existias comigo."

Pode ser um poema de amor, mas pode, novamente, ser metalinguagem e, nesse caso, bastante discreta e bela, uma dubiedade que torna o poema bastante belo.

Os jogos de sentido também estão presentes no livro de Tere Tavares, como em "FloRir": "E nos tons distantes dissolveu a modorra,/ o siso de viver: Flor Ir... é preciso." E o poema espelhado na outra página, "Garbo", nos derrama aos olhos e ouvidos os seguintes versos:

"E porque os seus sonhos musicais saltitavam
é que havia dança
E porque suas asas ainda não existiam
houveram girassóis
E porque seria pássaro algum dia
deixaria para sempre de ser cativo
E porque o voo é inesquecível
inscreveria a eternidade
com o crivo silencioso dos corajosos."

Parece que Tere Tavares se apropriou da capacidade de se comunicar como os pássaros, ou seja, com beleza e melodia. "A linguagem dos pássaros" é um livro conceitual, bonito e bem amarrado. Uma leitura inspiradora.

http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=273&Itemid=53


VIVIAN DE MORAES é escritora, com três livros de poesia lançados de forma independente, com tiragem de 200 cada, entre 2012 e 2013, rapidamente esgotados. São eles: “Sonetos Sombrios”, “Poemas e Canções” e “haicais/ vivian/ de moraes”. O quarto livro de poemas sairá pela Editora Patuá nos próximos meses. Jornalista não atuante, mantém dois blogs literários com resenhas de livros das editoras Patuá e Companhia das Letras, respectivamente: amuletospatua.blogspot.com e resenhascompanhia.blogspot.com, além do seu blog pessoal (viviandemoraes.blogspot.com). A autora já foi publicada por revistas como Cult, Pacheco, Samizdat, Zunái, Gente de Palavra e Mallarmargens. Seu próximo projeto é a edição eletrônica da Revista Nefelibata, cujo primeiro número deverá ir ao ar até janeiro de 2015.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Minha participação na Revista Mallarmargens

A artista plástica e poeta, Tere Tavares, em mallarmargens:

Alguns poemas que constam do meu livro "A Linguagem dos Pássaros" Editora Patuá, 2014, publicados na Revista Mallarmargens, Grata, Jandira Zanchi pela edição. 
Espero que apreciem, curtam, espalhem como pólen!


mallarmargens revista de poesia & arte contemporânea:



A todos um bem-haja!


PS: O livro encontra-se à venda no Catálago da Editora Patuá!!!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Cantas como a água sobre o livro

Pássaros ao sol By Tere Tavares


Cantas como a água sobre o livro

cultivas o pomar na alegria rota das aves,
como se soubesses aferir os aniversários do tempo.

carregas as drusas da melodia nas costuras das portas
esqueces as ranhuras entre as flores
a um toque irresistível de Bach.
trazes à mão o bailado para saciar a fome do som,
e deixar somente o fragor das palavras,
arrebanhando árvores de céu, de lavra,
sobre o clamor da sombra feliz da tua morada.
[linguagem de pássaros na compulsão do verso
a verdade não é nada ; o que crês ser a verdade é tudo.
regressas à primavera dos invernos, trazes sóis
[ pois te acendem as faces
[no fio luminoso que não pensa florir
[– é a esfera dos arcanjos voláteis que notas,
[ porque é no ar das estrelas que surfas,
[e descobres que és multidão
[ que és música à dança da alma – terra que te segue.
Do livro "A Linguagem dos Pássaros" Tere Tavares, Editora Patuá poesia 2014
Pintura: "Pássaros ao sol" 2014
pela autora Tere Tavares

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Duo




Duo


Não um passo, um pássaro
Que se apaixona pela paixão
E quer, seja deus ou homem,
Saber mais do que simplesmente aparenta.
Não o ar, o arrepio.
Pele que não se repele.
Não um aviso, um vazio.
Quadros subscritos na decorrência fria do tempo.
Sou descoberta e verto o sangue branco da minha não presença.
Enquanto infalível é a flecha
A mover-se como asa refletida em nuvens e rodopios invisíveis.

Comprei papel para desenhar e na minha mão interrompeu-se um horizonte.
Nesse cárcere a que chamam de corpo a alma sem braços se dispersa.
O zunir da janela revela a desenvoltura dos telhados
O movimento se abranda no bradar dos ventos, se refugia
[nas frestas das ondas.

Já não ouço os pensamentos.
Beijo em tudo a saudade dos filhos e da casa.
Transformo palavras em lírios, moldadas à água de uma
[fonte infinita – abrigam-se em mim, ao viés do meu corpo
[ como halos a rescindir o sol que se esparrama sobre um núcleo de arbustos estelares,
[que jamais deixarão de ter-me
                      [– ramos de ternura, voz que me dá silêncios.

Do livro "A Linguagem dos Pássaros" Tere Tavares (poesia 2014 Editora Patuá, SP)
Foto da autora Tere Tavares

sábado, 11 de outubro de 2014

Carta sem distinatário

Teatro



Carta sem destinatário

A alma se liquefaz com sua força imensa; nem por isso menos insegura. Animou-se por estar diante de um incalculável delírio. Inconsequente, porém lícito. Não se fixaria num prumo de onde sobreviessem más idéias.

As nuvens dançavam por entre as frases que encontrava com a benevolência contínua do calor. Dissoluto, passou por uma livraria. Sem tempo para entrar observou à distância as preguiçosas pilhas de livros suspirando na vitrine. Imaginou a última indolência no folhear de uma obra. “A alma pergunta e o livro fala.” Os motivos eram silêncios ensurdecidos.

“Tão incomunicável é o pensamento mesmo entre coisas muito próximas” – expressou-lhe algo notadamente melancólico, mas de sorriso tão amável quanto às sementes mais fecundas. “Às vezes uma mentira salvadora é mais nobre que uma impiedosa verdade.” Fechou-se junto a essa dubiedade, numa política suntuosamente fiel.

Assentiu a um aceno apenas por polidez. Sentia-se pouco à vontade diante de estranhos. Era de seu único interesse o que sentia ou imaginava sentir. “A dúvida não se ampara em acasos.”

Voltou a refletir sobre os aspectos daquele repentino remorso – única herança obtida entre um e outro chiste daquele dia onde muitas promessas se quebraram – mais fugaz que um instante e talvez por isso com estruturas tão indeléveis, como o sal angustiado do vazio que se seguiria, ou a veemência de que não ressuscitasse nada – rugas de uma jornada irrepartível de menos de uma hora. O tempo sabe ser cruelmente profético e inteligentemente arrebatador.

Adorava estar solto, tão inóspita era a verdade onde se dispunha a caber. Como se nas lágrimas atenuasse a secura da voz, madrugava em reminiscências bondosas, refugiando-se na possibilidade, ainda que remota, de mais algumas revelações felizes. 

Do livro "Entre as Águas" 2011 by Tere Tavares

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

domingo, 5 de outubro de 2014

Meiguice

 "Meiga" -Têmpera sobre papel - 1975 - By Tere Tavares

Meiguice


Os teus olhos me dizem que estás perdida
Naqueles olhos que ainda não viste
Que ainda não te vestem
Com olhares de te haverem visto.


Poema by Tere Tavares