sábado, 10 de outubro de 2009

Sobre uma concepção




Recolhi um coração do chão e o cobri com sentimentos azuis. O dia não oferecia nada além do dia, e a cor da terra era um vilarejo macio.
De um fio vindo de um barco e suas metades, alguém foi buscar um peixe – o animal de sangue-frio – e voltara sem ele. Degraus quase invisíveis descansavam na areia. Brinquei com a metade direita, enquanto depositava seixos e conchas no que não seria, em absoluto, uma natureza morta.
O sol intimidou-se e pousou em silêncio na outra metade. O amarelo que aquece e ilumina. Quanto é possível extrair dos movimentos que pulsam incessantemente e jamais adormecem! Quatro espátulas em vigília. Quanto é necessária a intermitência das sombras e das cores?
O outro lado irradiava uma brancura feliz. Não foi possível determinar quem, nem onde, nem quando. A paisagem servia infinitos olhares. A vida era vermelha e disse aos azuis que jamais negaria qualquer possibilidade de novos matizes. Ainda que fossem confusos e indecisos. O mundo não declinaria de colorir-se, afinal, nada havia se partido.
    • Tela - O Barqueiro - TT